Capítulo Quatorze

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Descobri que minhas faltas sem justificativas tinham​ me feito perder um importante teste de álgebra. Eu estava a um passo de descer para o fundo do poço de vez.

Era doloroso ver tudo que eu construí em anos ruir em poucos segundos.

Entretanto eu não aceitava abaixar a cabeça. Uma rainha de verdade nunca se curva perante as adversidades, ela luta até o final. Por mais que minha coroa estivesse seriamente danificada eu continuaria lutando.

— Você vai reprovar por ser tão mimada! — Meu pai esbravejou após ser avisado pela adorável diretora Mason sobre meu Titanic nas notas. Eu sorri amargante.

— Se tem uma coisa que eu nunca fui nessa casa é mimada. Vocês nunca sequer me enxergaram aqui dentro. — Rebati e ele massageou a testa com as pontas dos dedos.

— Katherine Autman, não me provoca! Eu não estou com paciência para seus dramas. Você precisa dar um jeito nessa situação em que você própria se enfiou.

— Não se preocupe, pai. Eu já conversei com a senhorita Shephard, professora de álgebra, e ela me garantiu que se eu participar da competição de matemática, ganho os créditos necessários para alcançar a média e passar na matéria. — Expliquei e ele gargalhou como um louco.

— Isso só pode ser uma piada de mau gosto. Desde quando alguém com o seu QI pode participar de uma competição de cálculos? Isso considerando que você nem deve saber o que é QI.

— Da mesma forma que um homem como você se tornou meu pai sem sequer saber o que isso significa. — Rebati ácida e ele me fuzilou com o olhar.

— Sabe qual será o final dessa história? Você será tão ou até mais burra que sua mãe, e a única saída será se casar com um homem rico para não morrer de fome. — Praguejou.

— Pode até ser, mas prometo escolher melhor do que a minha mãe o trouxa rico que irá me bancar. — Retruquei e ele se aproximou veloz, dando um tapa tão forte no meu rosto que meus cabelos ricochetearam no ar.

— Você e sua mãe são dois pesos mortos que eu carrego. — Advertiu entredentes e me deu outro tapa no rosto, ainda mais forte. — Dois erros irreparáveis da minha vida. Eu nunca deveria ter engravidado uma modelo sem nada na cabeça. E pior, nunca deveria ter assumido vocês duas. Se houvesse alguma forma de voltar no passado e consertar tudo, eu voltaria. Porém não dá, infelizmente eu terei que conviver com o fardo de ser seu pai para o resto da vida. — As palavras dele ficaram suspensas no ar e por piores que fossem, não eram as mais pesadas que ele já tinha dirigido à mim. Mesmo assim me causou tanto mal quanto todas as outras. Abaixei a cabeça segurando as lágrimas. — Agora pare de drama e dê um jeito de arrumar nota suficiente para passar! Eu não vou continuar gastando uma fortuna para você ser tão inútil quanto sua mãe!

Nem sequer terminei meu café da manhã. Peguei minha bolsa e corri completamente arrasada para o jardim. Gaspar me avistou e pareceu preocupado.

— Está tudo bem, senhorita?

— Apenas me leve para o colégio, por favor! — Pedi e ele checou o relógio no pulso e me olhou confuso.

Mesmo estando mais cedo que o normal ele me obedeceu sem questionar. Pedi para ele desligar a minha rádio favorita e não passar na casa de ninguém.

— A senhorita está mesmo bem?

— Acho que eu sinceramente nunca estive pior. — Respondi com a voz embargada. — Mas tudo ficará bem no final.

— Tenho certeza que sim. — Ele concordou educado e eu forcei um sorriso observando o olhar preocupado dele pelo retrovisor.

— Eu acho que nunca vou poder te agradecer o suficiente, Gaspar!

— Pelo o quê, senhorita?

— Por tudo. Por poder contar com você sempre.

— Imagina, não precisa me agradecer por isso... — Começou a falar envergonhado e eu sequei minhas lágrimas.

— Preciso sim, pois só posso contar com você e com a Corina naquela casa.

Por mais que eu tentasse não chorar as lágrimas recomeçaram. Era como um ciclo vicioso. As palavras do meu pai atropelavam meus pensamentos à todo instante. Parecia que eu pesava uma tonelada. Ao mesmo tempo nunca estive tão vazia em toda minha vida.

Entrei no colégio de cabeça erguida. Caminhei pelos corredores e recebi muitos olhares, parei no meu armário para pegar o material e fiquei chocada ao notar Glória e Izabel conversando.

Eu não podia acreditar nisso! Até mesmo Glória havia se bandeado para o lado inimigo da força?

— Não me diga que agora vocês são amigas. — Ironizei e ambas me olharam. Glória estava estranha. Extremamente pálida.

— E se for? Algum problema? — Colins questionou ríspida.

— Por que está bravinha comigo, senhorita Izabel? — Provoquei e ela me lançou um olhar desagradável.

— Eu já soube da sua armação.

— Do que você está falando? — Perguntei completamente confusa.

— Da falsa gravidez. O Rob já me contou tudo. Que coisa mais baixa, Katherine! Eu já nem sei o que mais esperar de você! — Me recriminou audaciosa.

— Quem você pensa que é para falar comigo assim, garota?

— Gente, para com isso! — Glória tentou intervir.

— Eu sou alguém que não precisa de jogos sujos como o seu para manter um garoto comigo. Forjar uma gravidez? Isso é demais até para você, Autman!

— Cala a sua boca! — Gritei partindo para cima dela e a empurrei contra o armário. Meu ódio era tão visceral que eu podia facilmente sufocá-la. Entretanto algo me fez parar.

— Gente...

Inesperadamente ouvimos um baque e ao olharmos para o lado, nos deparamos com Glória caída no chão, desmaiada.

Bad girlWhere stories live. Discover now