Capítulo 30

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Uma história

Anna

A beleza poderia até não ser de genética, mas, com certeza, era de família. Catarina era doce, gentil, sorridente e parecia o próprio sol. Ela ria de qualquer barbaridade que Guilherme falasse, e eles pareciam felizes juntos. Eu tentei, ao máximo, evitar a cólera que me subia pelo pescoço, causava um gosto amargo na boca e fazia meus olhos lacrimejarem.

Eu sabia que não tinha esquecido Guilherme, não totalmente. Mas não fazia ideia de que ele ainda me afetava tanto. Não fazia ideia de que seu relacionamento pudesse machucar tanto. Foi nesse momento que eu entendi que o amor que eu sentia por Guilherme era como uma cicatriz, eu podia usar os melhores produtos para tentar escondê-la, mas, no final, ela continuaria lá.

Tentei me imaginar ao lado de Guilherme. Eu nunca havia feito isso, talvez porque soubesse que só me iludiria, mas, vê-lo tão próximo de outra garota, fez-me questionar se ele não estaria melhor ao meu lado. Eu não sabia dizer, não via em mim nada que pudesse ser comparado à doce, gentil e bela Catarina.

Era tortuoso. Eu não aguentaria mais dois minutos vendo aquela coisa melosa. Então, pedi licença, e me recolhi à minha insignificância. Era melhor ficar sozinha. Eu ainda precisava digerir todos os últimos acontecimentos e assistir ao relacionamento perfeito de Guilherme e Catarina estava começando a me enjoar.

Deite-me na cama e me cobri dos pés à cabeça. Coloquei o fone de ouvido e procurei uma música que pudesse me acalmar. Algo com uma melodia lenta, doce e bonita.

Algo como Catarina.

Ri de meu próprio pensamento. A inveja é amarga, mas eu não conseguia evitá-la. Por pior que fosse, eu sou um ser humano, fadado ao erro, potencialmente falho. Não há nada de errado em ser humano, é, apenas, triste e doloroso. Os deuses gregos, provavelmente, sabem disso e se negam a conviver com seres de níveis tão inferiores.

Ou talvez os deuses fossem apenas a personificação dos sentimentos humanos. Amor é Afrodite, guerra é Ares, beleza é Apolo, inteligência é Atena. Somos tão intensos que, por séculos, criamos entidades para explicar aquilo que não podíamos explicar, pois, era bem mais fácil culpar um cupido a entender que o amor nem sempre é correspondido.

Poxa cupido, qual é o seu problema?

— Anna. — A voz de Mariana me tirou de meus devaneios. — Está tudo bem?

Pelo tom cuidadoso em sua voz, percebi que ela já sabia o que havia acontecido. Respirei fundo, tomando coragem para encarar Mariana. Ter uma gêmea as vezes era tortuoso, pois, era como ouvir você mesma dizer "eu te avisei". Nada motivador. Tirei a coberta da cabeça e observei de volta os rostos que me observavam.

Lá estavam Mariana, Henrique, Guilherme e Catarina, olhando-me como se eu fosse um animal ferido, prestes as fugir e me embrenhar no meio da mata, quando, na verdade, eu estava mais para uma lagartixa, olhando com meus olhos esbugalhados, prestes a correr e me esconder.

— Vocês estão bem? — Falei, retirando o fone de ouvido que não tocava nada. — Por que estão com essas caras?

— O Guilherme nos contou. — Henrique falou cuidadoso.

— Quem deveria me contar o que está rolando entre você e Christian é você, Henri. — Desconversei.

Eu não queria dar o braço a torcer e dizer que estava me sentindo péssima. Não queria dizer que fui enganada e que Francis é, de fato, um crápula. Havia sido humilhação demais para uma noite só e tudo o que eu gostaria era de esquecer o que havia acontecido e seguir em frente.

O Amor dos Meus SonhosWhere stories live. Discover now