Capítulo 38

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As cortinas se abrem

Anna

— Eu pensei em muitas coisas para dizer. Eu, até mesmo, fiz um texto. — Mostrei ao papel ao púbico, mas logo o amassei. — Mas nada o que está escrito aqui, é o que eu realmente deveria dizer.

...

Eu não sei exatamente qual e o dever de uma Miss para com o mundo. Eu tenho dezoito anos e não sei qual é o meu dever comigo mesma, quem dirá com o mundo. Na verdade, eu entrei no concurso por uma pessoa. Não foi devido à insistência da minha mãe, ou o desafio lançado pela minha irmã.

Há muito tempo eu conheci uma menina, ela tinha a pele pálida e os cabelos pretos bem enroladinhos. Ela se chamava Alana e o seu sonho era ser uma Miss, ou uma médica pediatra. Ela, com certeza, saberia o dever de uma miss para com o mundo.

Ela sempre foi gentil, carinhosa e amigável. Ela ouvia os problemas de todos, e nunca se colocava em primeiro lugar. Ela gostava de cuidar das pessoas e se preocupava de verdade com elas. Ela tinha empatia por todos, até mesmo pelas pessoas mais mesquinhas e deploráveis. Nós somos muito diferentes.

Para ela, com certeza, o dever de uma Miss seria cuidar, ouvir, respeitar e entender os outros. Pensar em como uma palavra é capaz de destruir uma vida... uma família. Os olhares odiosos machucam tanto quanto as palavras, cortam profundamente e ferem a alma. A Alana é prova de que palavras são como lâminas afiadas nas mãos das pessoas erradas.

Ela seria uma ótima Miss, pois passaria bons valores para o mundo. Mas ela se foi. Foi para nunca mais voltar. Ela foi embora sem se despedir, sem dizer tchau ou o motivo pelo qual ela foi embora para sempre, mas eu sei. Todos nessa cidade sabem.

Hoje, o meu dever para com o mundo, é evitar que isso se repita. Não importa o que digam, o que pensem ou como olhem para você. Você é digno. Você merece respeito, compaixão, empatia e amor. Não importa o que você veste, com quem você se relaciona ou a cor da sua pele. Não importa a sua classe social. Você é digno de viver, e não deixe que falem o contrário.

O dever de um ser humano deveria ser esse, amar e respeitar o próximo, buscar entender e aceitar as diferenças sem atacar, menosprezar ou diminuir. Esse é o meu dever como ser humano para com o mundo. É o meu dever como Miss... é o que a Alana merecia. É o que todos merecemos.

...

Respirei fundo. Os meus olhos estavam embaçados, úmidos. Um fino apito soava em meus ouvidos. O nervosismo passou e em seguida as palmas tomaram o lugar. Então eu percebi que não era a única que chorava. Varri a multidão com o olhar e notei os olhos marejados de Guilherme. O nariz vermelho de minha avó e de minha mãe. Meu pai aplaudia incansavelmente e Mariana chorava de soluçar. Com certeza o nervosismo contribuiu para isso.

Mais ao fundo, notei um rosto conhecido. Talvez mais velho e fadigado, mas ainda era aquele rosto. Ela chorava, o nariz estava vermelho e a mão direita cobria a boca, abafando o choro amargo. Era a mãe de Alana.

Desci os degraus e caminhei em sua direção, então a abracei. Fazia bastante tempo que eu não a via.

— Obrigada, Anna. — Ela falou aos soluços. — De onde quer que a Alana esteja, ela está muito feliz com a homenagem.

A abracei de volta. Meu coração estava apertado e pequeno como um grão de areia. Eu não sabia o tamanho da dor dela, mas sempre que tentava imaginar, uma dor profunda me tomava. Sempre que me questionava sobre o tamanho da dor de perder um filho, buscando entender a dor daquela família, um pedaço meu se partia também.

O Amor dos Meus SonhosWhere stories live. Discover now