Capítulo 37

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A questão era que eu não queria ouvir nenhuma das coisas racionais que Carol tinha para me dizer. Queria mesmo era adivinhar o número de René e ligar para ele. Queria escutar suas desculpas e ceder quando quisesse me ver mais uma vez. Mas eu não tinha o número dele, nem ele o meu. Por quê diabos ainda não temos o número um do outro?

Carol olhou para baixo e sorriu. Voltou a olhar para mim. Deu duas batidinhas na minha perna.

– Se não vai me contar, não precisa mentir. – Ela se levantou da cama e fez menção de que ia sair.

– Espera! – falei impedindo que ela fosse.

Carol me encarou, mas não deu nenhum passo para frente ou para trás.

– Vai falar a verdade? – ela perguntou.

Eu assenti. Por mais que eu não quisesse ouvir o que ela tinha a dizer, eu precisava contar a alguém. E eu precisava ouvir aquilo que eu não queria.

– É que... Tem esse cara e, não é como se eu estivesse apaixonada nem nada do tipo, mas ele é legal.

– Você está apaixonada? Hum... Bem que eu notei que você andava suspirando pelos cantos.

– Eu acabei de dizer que eu não estou apaixonada! E eu não suspiro pelos cantos! – Como ela se atreve a me difamar dessa forma?!

– Então qual o problema?

– Bom, é que... Ele é meu professor. Aquele professor das aulas particulares, o professor da aposta.

Carol não disse nada. Ficou me encarando inexpressiva por alguns segundos. Eu estava começando a achar que ela havia tido um derrame ou algo do tipo. Ela já sabia de quase toda a história é claro, ao menos das partes em que eu o estava manipulando. Não sabia porém que eu tinha um interesse por algo para além da aposta. Digo, agora ela sabia.

– Lia, nós somos amigas há um bom tempo, não é? – Assenti. – E você já fez tanto por mim esse tempo todo. Já me ensinou a colar nas provas, me mostrou como enganar professores para conseguir nota, cuidou de mim quando eu estava bêbada demais para voltar para casa, me ajudou quando eu estava a beira de colapso... E o que foi que eu fiz por você? Fui sua companhia em festas? Não muito. Mas eu sinto que agora é minha hora. – Carol limpou a garganta e ajeitou a postura antes de continuar. – Vai dar em merda, amiga.

Eu ri, claro. Só Carol para me puxar dos meus momentos sombrios e colocar um sorriso no meu rosto.

– Eu sei que vai dar merda – falei. – Mas é que ele é tão lindo e gentil e o sexo... Ah, o sexo...!

– Vocês já... Ok, ok. Não faz mal. – Ela respirou fundo, recompondo-se. – Como você mesma disse, você não está apaixonada nem nada. Então já pode seguir em frente.

– Sim, claro. Deixar ele pra lá e seguir em frente é, sem sombra de dúvidas, a coisa certa a se fazer.

Eu olhei para Carol. Carol olhou de volta para mim. Ela apertou o olhar e franziu os lábios.

– Você quer vê-lo de novo, não é?

– Eu tenho aulas com ele! Eu tenho que vê-lo de novo!

– Eu tô falando de ver sem roupa! Não se faça de desentendida.

Eu não queria responder à pergunta dela. Mas supus que se não respondesse ela deduzir que estava certa de qualquer forma.

– É claro que eu quero vê-lo de novo. – Então respondi. – Só não quero ter que lidar com todas as coisas que envolve vê-lo de novo. Não quero que ele seja meu professor, não quero que ele tenha filhos, não quero que ele seja viúvo e tenha uma sogra louca que me odeia. Eu só quero me divertir um pouco e pronto. É pedir demais?

Meu Bom ProfessorWhere stories live. Discover now