Capítulo 63

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Dois filhos! É claro que eu estava apavorada. Não sabia se seria capaz de lidar com toda essa "responsabilidade" que recaia sobre mim.

– Claro que tenho medo. – Achei melhor não mentir. – Que pessoa no meu lugar não teria?

– E o que fez você mudar de ideia?

– Decidi não deixar o medo controlar minha vida.

Quase todo mundo tem filhos. Se tantas pessoas eram capazes de criá-las, não devia ser tão difícil assim. Além disso, eu não estaria sozinha. René estava lá. Ele era o motivo de eu encarar de frente todos os outros problemas dessa relação.

– Vai pular de um avião sem paraquedas também? – Francisco ironizou.

– Não, seu Francisco! – falei rindo, assumindo que ele estava brincando, mesmo sendo claro que não estava. – Eu entendo meus limites.

Minha vontade era jogar ele de um avião sem paraquedas. Mas eu sabia que na verdade eles só estavam sendo cuidadosos. René era um grande romântico. A garota errada podia ser perigoso para ele. O que os sogros de plantão não sabiam era que ele não se daria o luxo de ficar devastado com dois filhos para criar. Bom... consigo ver que fomos um pouco irresponsáveis quanto ao momento. Podíamos ter esperado mais um pouco para não ter criado problemas com a faculdade. Mas nós daríamos um jeito. Juntos.

Depois que saímos de lá foi quando a melhor parte de fato começou. Ficamos parte da manhã e a tarde inteira sozinhos. Poderia dizer que matamos a vontade um do outro, mas na verdade acho meu querer só aumentou. Não achava que fosse possível enjoar dele nunca. Reconheço que estava sendo ingênua pensando assim. Contudo, depois de conhecer todo tipo de homem, de transar com eles, de sair para encontros, eu nunca senti isto antes com nenhum deles. Aliás, a estabilidade que os poucos dias que fiquei com René só me fez ver como minha vida era cansativa antes. Esperava não voltar para aqueles velhos dias nunca mais.

Acabei ligando para minha mãe para contar a novidade. Eu estava bastante nervosa. Da última vez que havíamos conversado, ela pareceu mais contente com a ideia de que eu e o tal professor cuja carreira eu havia arruinado não estivéssemos mais juntos. Mas sua reação não foi exatamente ruim.

– Mas vocês não tinham acabado? Achei que você ia ser expulsa da faculdade ou era ele que ia ser, não?

– Ainda não tomaram uma decisão. Mas eu gosto dele, de verdade. Então decidimos ficar juntos. O que a senhora acha?

– Você vai mudar de ideia dependendo do que eu acho?

– Não. Mas eu sei que a senhora vai dizer sua opinião de qualquer forma.

– Acho que, sem querer, você ouviu meu conselho.

– Que conselho?

– Você deixou de se preocupar com sua imagem de garota subversiva e está deixando esse rapaz conquistar seu coração!

Quase vomitei com esse sentimentalismo tosco! Agora entendi sua preocupação em expor o que ela realmente pensava. Ela não era contra, era a favor até demais. Por muito pouco não desejei nunca ter me apaixonado por René. Digo por pouco, mas na verdade era muito bom gostar dele e eu não desistiria desse sentimento maravilhoso nem que eu tivesse que ouvir as frases de paleta de picolé que minha mãe citava.

Ela acabou me perguntando coisas sobre René por meia hora. Minha orelha já estava suada e eu estava certa de que tinha contraído um tumor no cérebro de tanto tempo que fiquei recebendo as radiações do celular. Acabei aceitando marcar de levar René para almoçar na nossa casa do interior qualquer fim de semana desses aí. Ainda bem que consegui ser bem vaga. Com sorte, não teria que levá-lo a canto nenhum por pelo menos um ano.

Meu Bom ProfessorWhere stories live. Discover now