Capítulo 1

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Esse é um conto, que já está disponível na integra, na amazon.com.br

Aqui vão os primeiros 5 capítulos, para que vocês entendam um pouco da história. Serão 2 capítulos por semana, colocarei o conto completo, mas ao mesmo tempo ( para quem não gosta de esperar) ele já se encontra disponível em e-book.

Espero que se encantem e se emocionem com a história de Gabriella.

bjks

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Olhei para trás.

Pelo vidro traseiro do táxi, avistei minha mãe acenando um adeus. Não seria fácil enfrentar a faculdade em uma cidade nova, sem conhecer ninguém e ainda por cima tão longe de casa... Mas esse era meu sonho - ter uma formação, um bom emprego e assim poder dar a minha mãe uma vida melhor, uma casa e alguma estabilidade quando ela já não pudesse trabalhar - e, por ela, faria qualquer coisa, e, quando dizia qualquer coisa não estava brincando.

Minha mãe tinha viajado comigo do interior para me ajudar a fazer a matrícula e encontramos uma pensão limpa e confortável, a um bom preço, o qual poderíamos pagar com a pensão que recebíamos pela morte do meu pai, mas, ainda assim, era imprescindível que eu arrumasse um trabalho na cidade, pois precisaria de roupas, comida e materiais, durante os anos que passaria na faculdade.

Dormimos em uma pensão acolhedora, nos dois dias em que permanecemos na cidade.

Perdida em pensamentos, mal percebi que o táxi estava parando e me assustei quando o motorista falou comigo, passando o valor da corrida. Paguei e desci, enquanto ele retirava minhas duas malas gigantescas do compartimento traseiro do carro. Ele as colocou no chão e se foi. Olhei para os lados, meio perdida na rodoviária. Conferindo na passagem, meu ônibus sairia da plataforma 32.

Orientando-me pelas placas no teto, cheguei esbaforida e morta de cansada minutos antes do ônibus partir. O rapaz que colocava as malas no bagageiro me olhou de cima abaixo, antes de abrir um sorriso e vir ao meu encontro para ajudar com minhas malonas. Entreguei a passagem ao motorista, que a conferiu e então o rapaz que cuidava do bagageiro grudou as etiquetas no verso dela. Agradeci e respirando aliviada, entrei no ônibus a procura do meu assento.

Sentei-me no fundo e na janela, o lugar mais sossegado para se viajar, uma vez que todos evitavam sentarem-se perto do banheiro. E com razão, pois esse era imundo.

Horas intermináveis se passaram até que o ônibus parou em um posto e desci, faminta e louca para fazer xixi.

Corri ao banheiro e depois comprei um lanche pronto, morrendo de medo de perder a saída do ônibus. Entrei novamente, voltei para meu assento, dei uma mordida no lanche e gemi de satisfação.

Logo estávamos na estrada novamente e meu destino cada vez mais próximo.

Pela manhã, após dormir e acordar várias vezes na noite, me revirando no assento desconfortável, chegamos à rodoviária. Levantei, me espreguiçando no corredor e ouvindo minhas costas estalarem. Apanhei minha bolsa, dobrei o cobertor leve que levara comigo e o guardei dentro.

Apanhei a passagem e desci, estendendo-a para o motorista que apanhava as malas do bagageiro inferior do veículo.

Carregando minhas malas, dirigi-me a fila de táxis e um homem alto e corpulento veio em minha direção, apanhou-as, guardou-as no porta-malas e, logo depois, abriu a porta para mim.

— Para onde?

— Pousada do lago, por favor.

— Ah, caloura na faculdade, eu suponho?

— Sim, sou sim.

— Você é muito bonita, garota. Tem quantos anos?

— Vou fazer dezenove.

Ele me olhou pelo retrovisor e me senti invadida pelo seu olhar.

— Bem, vou lhe dar um cartão. Uma jovem com sua beleza tem um futuro promissor aqui na cidade.

Então me estendeu um cartão, de uma agência de modelos.

— Não levo jeito para modelo.

— Procure pelo Jorge, diga que o Tonhão lhe enviou. Eu tenho um bom olho para as meninas de lá que só vendo. Ele vai te dar uma chance.

Sorriu pelo espelho e li o cartão. Tirei uma caneta da bolsa e copiei no verso as informações que havia passado. Logo, parou na frente da pousada desceu e retirou minhas malas.

— Esse é o meu cartão. Essa corrida foi cortesia. Se por acaso conseguir um emprego na agência, me chame em todas as corridas que precisar, seja a hora que for. Uma mão lava a outra, certo? Aqui cuidamos dos nossos. Seja bem-vinda.

Agradeci, peguei seu cartão e guardei junto com o outro.

Na pousada a garota da recepção foi superatenciosa e me guiou até um quarto pequeno, que seria meu lar por tempo indeterminado.

Gastei algumas horas desfazendo as malas e dando meu toque pessoal ao quarto e então saí à procura de comida, levando comigo alguns currículos.

No final da tarde retornei, cansada e com bolhas nos pés, depois de percorrer quase todo o bairro e deixado meu currículo em todas as lojas possíveis e imagináveis.

Tomei um banho e me deitei, olhando para o teto comecei a contar as rachaduras da tinta, que já começava a escamar em alguns pontos. Isso me lembrou minha casa, simples, no interior de São Paulo, onde eu morava com minha mãe, que após a morte de meu pai fez de tudo para que tivéssemos um teto e comida. Ela dava aula para a educação infantil pela manhã e à tarde lecionava algumas matérias para o ensino fundamental.

Ver tudo o que ela passou a vida inteira me fez querer cursar uma faculdade e arrumar um bom emprego, a fim de ajudar e até mesmo tirar minha mãezinha de lá, mudar de vida e de cidade. E eu iria conseguir!

A semana passou e nada de ninguém entrar em contato. Estava arrumando minha bolsa para o primeiro dia de faculdade e os cartões que o motorista havia me dado caíram do bolsinho. Os peguei e perdi um tempo observando e pensando se aquela seria a saída.

Eu tentaria os meios normais para depois entrar nessa de fotos... eu tinha a noção de que os rapazes viravam a cabeça para me olhar quando eu passava, mas nunca achei que era para tanto.

Parei em frente ao espelho e me observei, analisando friamente o que via. Ele me mostrava uma garota pálida, cabelos longos, loiros e lisos, olhos amendoados em um tom castanho chocolate, pele perfeita e sem espinhas...

Sorri para mim mesma e imaginei meu rosto em algum outdoor da cidade fazendo propaganda de creme dental.

Eu daria mais um mês e então se não arrumasse nada, entraria em contato com essa agência e que Deus ajudasse que desse certo.

DESEJOS -Onde histórias criam vida. Descubra agora