Fake Bandit ▸ Chanyeol

10.

  Foram noites e mais noites em claro naquele apartamento, confiando apenas nas palavras de Chanyeol e torcendo pra que ele estivesse sendo sincero comigo. Ele passava a maior parte do tempo fora de casa, haviam noites em que nem voltava e outras que chegava cheio de hematomas. O ouvi falar com alguém no telefone algumas vezes, ele prometia ajudar essa pessoa. Todas as vezes que encerrava a ligação, parecia abalado e perdido. Embora ele passasse pouco tempo em casa, nós aos poucos nos tornamos próximos. Confesso ter me acostumado com a sua presença e de a achar agradável, ele era bondoso e respeitador o tempo todo, o que pra mim era uma surpresa. Talvez ele fosse mesmo um bandido falso, não conhecia suas razões para seguir neste caminho mas, sabia que não combinava nada com ele.

  Agora, são mais ou menos duas da tarde, me encontro sozinha, suspirei enquanto me olhava no espelho. Não podia estar pior, minha aparência estava péssima, as olheiras estavam mais fundas do que costumavam ser, durmo menos do que dormia quando trabalhava. Aliás, nunca pensei que fosse dizer isso mas, até ficar somente dentro desse apartamento sem sequer sair, é cansativo, sufocante e eu tenho vontade de chorar diversas vezes no dia. Já havia me cansado de questionar porque minha vida era essa bagunça.

  Sai do banheiro e me deparei com Chanyeol, ele havia acabado de chegar. Tinha uma expressão tranquila no rosto e sorriu logo que me viu, caminhei até a sala e me aproximei.

— Você não parece bem – Ele se aproximou de mim e me analisou com os olhos, o encarei.

— Eu não tenho dormido bem – Desviei o olhar.

— Você precisa relaxar – Ele comentou e eu suspirei, como eu relaxaria com tantos problemas? — O que acha de irmos à uma viagem?

— O mundo caindo sobre a minha cabeça e você quer viajar? – Estava cansada e fui rude, seria egoísta demais da minha parte me dar o luxo de uma viagem ou qualquer outra coisa quando, meus pais podem nem acordar amanhã..

— Eu já disse pra confiar em mim, se for preciso eu segurarei seu mundo pra que ele não caia. – Senti meus olhos marejarem, e não era pelo que ele disse, era de cansaço por conta de toda situação que nos envolvia.

— Você deve achar que isso é uma novela, entenda o que está acontecendo pelo amor de Deus, meus pais estão correndo perigo e eu também, só que eu estou escondida aqui, desfrutando do luxo do seu apartamento caro, eles não. – Comecei a chorar, não dava mais pra segurar. — Talvez você não entenda mas, eu estou cansada de toda essa merda!

— Eu entendo melhor do que você imagina, não pense que é a única com algo pra proteger ou em perigo. – Seu tom fora ríspido. — As coisas também estão difíceis pra mim, eu sou obrigado a viver como um lixo e à fazer coisas que eu não quero e repúdio. Eu tenho que viver uma vida dupla entre bem e mal e o preço que eu pago por fazer o bem, é caro. Mas fazer o bem me impede de me transformar no monstro que eles querem que eu me torne, então por favor, tenha paciência. – Ele se sentou no sofá e apoiou o rosto nas mãos — Estou fazendo o melhor que posso pra todo mundo ficar bem, mas no fim das contas eu sinto que estou desmoronando e não vou conseguir ajudar ninguém, nem a mim mesmo e então, quando eu finalmente desmoronar, ninguém vai estar lá pra me segurar. Estarei sozinho, Chungha.

  Suas palavras me atingiram, talvez por conta do desespero eu tenha agido com egoísmo e, achado que somente eu, estava em uma situação difícil. Mas considerando seu estilo de vida e toda responsabilidade que ele carregava consigo, talvez ele estivesse sofrendo ainda mais e, diferente de mim, não tivesse ninguém pra compartilhar o fardo, ninguém para se apoiar. Ele estava me ajudando e me deixando apoiar nele, mas e eu? Estava ocupada demais colocando meus problemas acima de tudo e todos. Olhei pra ele me sentindo péssima, como pude ser tão egoísta com a única pessoa que me estendeu a mão?

  A situação não podia continuar assim, eu não podia continuar sendo alguém tão insensível. Não era justo com ele, nem com ninguém. De alguma forma eu me tornaria alguém forte em que Chanyeol pudesse se apoiar, que pudesse ajudar ele em algo e não só, a garota fraca que passa o dia todo lamentando dentro desse apartamento sobre o quão a vida é ruim, as coisas precisam mudar e, eu tinha que tentar fazer algo pra isso.

— Você não estará sozinho Chanyeol. –  O garoto levantou o rosto pra me encarar, sua expressão era de surpresa e ao mesmo tempo, cansaço. — Embora eu não tenha sido de nenhuma ajuda até agora, não quero mais que as coisas sejam assim. Eu confio em você e, espero que você possa confiar em mim também, mesmo que seja difícil, compartilhe seu fardo comigo, da mesma forma que atualmente você é minha força, eu quero ser a sua – Ele continuava me encarando seriamente — E se você desmoronar, eu estarei aqui pra te segurar. Se apoie em mim, Chanyeol.

  Park se levantou e se colocou na minha frente, vendo agora, ele parecia tão sobrecarregado e pra baixo, talvez fora por isso que sugeriu a viagem, pra que ele pudesse se livrar um pouco do peso que estava carregando.

— Eu realmente posso me apoiar em você, Chungha? – Tentei sorrir de forma que lhe passasse confiança.

— Sim, você pode.