Crescendo

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● Can ●

Estou nervoso. Quando forcei o Tin à dormir aqui, não tinha parado para pensar direito. A minha cama é de casal, mas ainda assim é pequena. Vamos dormir na mesma cama? Seria um pouco apertado. Eu posso dormir no sofá. Nunca achei que ia ficar tão nervoso, afinal meus amigos já dormiram aqui antes. Mas com ele é diferente. Tin não é como meus amigos. Ele é bonito, elegante, fino. Basta olhar para a sua aparência, roupas, pele e o cheiro. Além disso ele faz eu me sentir de um jeito estranho...

Droga! O que eu estou pensando? Que pensamentos são esses Can?

— Can?

— Hã? — Sua voz me tira do meu torpor e olho para ele ainda atordoado com os meus pensamentos.

— Você está bem?

— Estou. Eu não pareço bem?

— Não. Você está aí parado já faz um tempo. E está corado.

— Eu corado? De jeito nenhum.

— Está sim.

— Eu vou ao banheiro, já volto. — Saio correndo, me tranco no banheiro. Quando me olho no espelho, percebo que realmente estou corado e meu rosto está quente. Pelo amor de Deus, o que está acontecendo comigo? Ligo a torneira e lavo o rosto, deixando ele molhado por alguns segundos, para ver se minhas bochechas esfriam. Seco o rosto com a toalha e solto um longo suspiro. Sim, é melhor dormir no sofá! Volto para o meu quarto e vou até o guarda-roupas. Pego algumas cobertas e outro travesseiro.

— O que está fazendo?

— Eu vou dormir no sofá, você pode ficar com a cama.

— De modo algum.

— Hã?

— Vamos dormir os dois na cama.

— Eu não acho que... é que...

— É que nada. Você não vai dormir no sofá.

— Mas a cama é pequena, Tin. Vamos ficar apertados.

— Não ligo a mínima. Ou dormimos o dois na cama ou eu vou embora.

— Hã?

— É isso mesmo. Você escolhe.—Desculpa, Can. Mas hoje, eu não quero dormir sozinho.

— O que você está falando? Isso não faz o menor sentido.

— Você queria que eu dormisse aqui hoje.

— Sim, mas não os dois na mesma cama. Assim é...

— Assim é o quê?

— Estranho.

— Estranho, porquê? — Não sei o que dizer, estou perdido. — Ok. Você é tão mandão, meu Deus! — Ele ri.

● Tin ●

Can está arrumando a cama todo contrariado, fazendo um beicinho. Pode ser que ele ache que a cara que faz me assusta, mas tem exatamente o efeito o contrário. Seu rosto é fofo e emburrado, fica ainda mais. A verdade é que eu sempre dormi sozinho e hoje, ao menos uma vez na vida, não queria estar sozinho. 

— Qual lado da cama você prefere?

— Isso não é engraçado.

— Eu não estou rindo. — Can solta um suspiro irritado e se deita do lado direito da cama, virando o corpo para o lado.

— Boa noite, Tin.

— É, realmente sua cama é bem pequena, assim como você.

— Eu te disse que... — Ele vira bruscamente o corpo para o meu lado e nossos narizes encostam um no outro. Minha pele treme com o contato e acho que Can também sentiu o mesmo, por que está de olhos arregalados, estático e não move um músculo. Estou pasmo. Eu achava que não podia sentir mais nenhum tipo de sentimento bom pelas pessoas. Nem afeto, amizade, amor, ou empatia. Mas desde a ponte, estava sentindo um monte sentimentos pelo Can. E eles estavam invadindo a parte mais escura do meu coração.

A little pain, a little love [PAUSADA]Where stories live. Discover now