capitulo 22- estou aqui

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Chegaram a maior e mais bonita casa da região, desceram apressadas da carruagem e adentraram as portas de bronze. Sebastian estava ansioso na sala, andava de um lado para outro e sentiu um pouco de alivio assim que viu a chegada das duas damas.
- Senhorita Valéria. – Ele saudou.
- Senhor Sebastian. – Ela abaixou a cabeça em reverencia.
- Marina eu fico... – Ela não permitiu que ele terminasse a frase, sem importar-se com a presença de Valéria ou até mesmo da governanta daquela casa, abraçou Sebastian. Não um abraço comum, era aquele abraço que dava vida a um coração morto, um abraço cheio de afeto que trazia esperança, um abraço que dava cores a vida em ruínas daquele homem que sofreria diante do pai prestes a partir.
- Fico feliz que tenha vindo. – Ele cochichou em seu ouvido retribuindo ao abraço. Como se saísse do hipnotismo ela recuou um passo o soltando.
- Onde está o senhor conde?
- No quarto. O médico ainda está o dando medicamentos. – Soou preocupado.
- Você já sabe do que se trata?
- Não faço idéia senhorita, ontem ele deitou-se com uma dor de cabeça, achou que havia sido devido a tanto trabalho e hoje cedo estava pálido e vomitando muito, colocou até sangue para fora de si. E com muitas bolhas roxas pelo corpo.
- Ah meu santo anjo da guarda.
- Veneno? – Sugeriu Valéria Luize.
- Não, ele não bebeu nada de estranho, durante o jantar eu mesmo servi seu vinho e bebi do mesmo jarro.
O médico surgiu descendo as escadas carregando sua maleta, atrás dele vinha uma criada de cabelos alaranjados, a expressão de ambos não era nada agradável.
- Então doutor Fernando como ele está? – Perguntou Sebastian.
- Temo que não resista mais que esta noite. – Sebastian permaneceu firme, lagrimas brotavam de seus olhos mas ele estava sendo forte, o pai era tudo o que tinha da família desde o dia em que dando-lhe a luz sua mãe se foi. Embora o conde fosse um homem que sempre havia priorizado o dinheiro, o trabalho e o título de Conde ele havia sido um bom pai, havia pago os melhores professores para o filho, havia o presenteado com a espada que estava na família há onze gerações no dia que completou dezesseis anos e sempre jantavam juntos, não ganharia o prêmio de pai do século, mas era um bom pai. E Sebastian era grato por isso.
Marina colocou a mão no ombro do noivo lhe dando apoio. Sebastian segurou a delicada mão que estava solta apertando com força.
- Sente-se um pouco. – Ela aconselhou. Dirigiu-se então a criada. – Traga uma água para ele.
- Eu estou bem.
- Doutor como você o diagnostica?
-Tuberculose, provavelmente acompanhada de um resfriado e intoxicação alimentar. – O médico parou pensando. – O resfriado deixou sua imunidade muito baixa o que abriu as portas para a tuberculose, a intoxicação alimentar foi uma falta de sorte que deixou tudo de forma pior.
A criada retornou com a agua, Marina alcançou o copo á Sebastian que bebeu todo liquido. O médico continuou a falar:
- Já passei as recomendações para a criada que cuidará dele.
- Pois passe a mim. – Falou Marina com o nariz empinado. – Meu sogro não ficará nas mãos de criadas, eu mesma cuidarei ele.
- Marina você não precisa.
- Mas eu vou Sebastian, ele é um nobre, que seja tratado como tal.
- Obrigado. – Ele murmurou.
- Você deve por compressas de gelo no rosto do conde quando a febre estiver alta, para as dores de cabeça que ele tanto se queixa coloque batatas em sua testa, faça também uma mistura de Ópio, ervas de endro, agua morna, alho, limão e uma pitadinha de mel. Eu já expliquei a criada como fazer perfeitamente a mistura.
- Ótimo.
-  Use mascarás e troque de roupa assim que entrar ou sair do quarto do enfermo. Mantenha distância do senhor conde quando ele começar a tossir, não desejamos que a doença se propague.
- Entendido. – Marina declarou com firmeza.
- Também não se esqueçam que a janela do quarto deve estar sempre aberta, ele precisa de ar puro e vocês também.
- Suas ordens serão acatadas doutor. - Sebastian consentiu com a cabeça ao falar.
- Voltarei amanhã cedo se não me chamarem antes. Com licença.
- Eu lhe acompanho até a porta.
- Com licença senhoritas. – Falou e então seguiu até a porta acompanhado de Sebastian.
- Marina sua mãe perdeu o juízo nos mandando para cá. – Cochichou Valéria. – Podemos pegar a doença.
- Não iremos, não se preocupe.
-Como não irei me preocupar?
- Podes ir embora se desejar, não é tua obrigação estar aqui.
- Não irei te deixar sozinha.
- Senhoritas. – Sebastian anunciou sua presença.
- Vamos até seu pai meu caro.
- Vamos. – Ele falou engolindo em seco, após deu de ombros e sacudiu a cabeça.
- Pode ficar por aqui se desejar. – Marina disse a Valéria.
- Estarei aqui quando voltar.
- Fique à vontade senhorita. – Fez uma mesura. – com licença.
Marina segurou seu braço, aquele gesto dava mais apoio a ele do que a ela. Subiram as escadas e caminharam pelo vasto corredor com quadros nas paredes, espelhos e vasos de flores até o ultimo cômodo do corredor.
- É aqui.
Cobriram a boca e o nariz enrolando a manta que traziam nos ombros e adentraram o quarto.
O conde virou a cabeça na direção deles e então começou a tossir, tentou levar o lenço a boca mas não teve forças e seu braço desabou no meio do caminho, Marina caminhou com passos largos até a beira da cama, não fez uma reverencia como mandava a etiqueta, mas apressou-se em socorre-lo.
Levou o guardanapo a boca do conde limpando o sangue que ali se encontrava, após preparou o xarope que o médico havia prescrito e com uma colher de sopa dava a mistura ao conde.
O conde Sebastian sentia dores intensas, em outras palavras via diante de si a morte o devorar, com as poucas forças que lhe restavam havia ordenado que o médico falasse que doença ele possuía, suspeitava que não fosse exatamente aquilo, se considerava um homem de sorte e como tal não iria pegar um resfriado, uma tuberculose e uma intoxicação alimentar de uma vez só. Isso era coisa que acontecia com os pobres, com os trabalhadores das grandes fabricas de Paris, com os escravos, mas com o Conde jamais!
  Do lado de fora do quarto, Marina e Sebastian conversavam, não era um momento oportuno, mas diante de tal demonstração de cuidado para com sua família ele precisava saber.
- Eu não quero mais nada com o Dante Sebastian.
- Você o ama.
- Eu fiz mais do que o amar, eu entreguei cada pedacinho do meu coração a ele, e ele pisoteou tudo o que tinha de mim. Eu deixaria você por ele e ele me abandonou.
- Você não queria que isso acontecesse.
- Não, desde o primeiro instante eu desejei amar você.
- E se ele voltasse e pedisse perdão?
- Meu tolo coração pediria para perdoá-lo, mas eu não te deixaria outra vez.
- aprendeu a lição.
- aprendi a nunca confiar em ninguém do futuro. - Ela deixou escapar.
- Perdão. Como disse?
- pouco importa. Eu vou dar um caldo de sopa para seu pai. Com sua licença.
E se retirou, Sebastian pensou em caminhar atrás dela, mas imaginou que a moça quisesse ficar sozinha, entendia que não era uma decisão fácil, entendia que ela havia se apaixonado e quebrado seu coração como sempre acontecia, afinal era isso que a paixão causava. Paixão! Vinha pensando muito nessa palavra, vinha se sentindo perder o ar e a razão sempre que ela estava por perto. Era claro que ele entendia Marina, e assim como ela cumpriria sua palavra ele cumpriria a dele e se casaria com ela sem dar ouvidos a sua nova paixão, alucinação. Sem dar ouvidos ao desejo e a seu coração atormentado. O pai estava morrendo, aquele que foi o conde mais carrancudo do século estava padecendo em uma cama, já não falava e os poucos murmúrios que fazia não se comparavam as suas reclamações diárias. Ainda assim sentia pena de Marina que o cuidava de modo impecável.
- Que raio! - gritou e deu um soco na mesa de madeira no canto daquela sala. Não conseguia tirar aquela moça da cabeça, e Marina cuidava seu pai. Sentiu remorso pelo o que faria, mas não pode evitar, em breve seria um homem casado seria um conde, e ela não seria sua amante pelo bem de ambos. Atravessou a sala e dirigiu- se a uma sala a parte que na verdade era uma pequena capela, contava seu pai que aquele era o lugar preferido de sua mãe, ela era muito religiosa e passava grande parte de seus dias ali, aquele cômodo era o refúgio da condessa, principalmente quando o Conde estava estressado com assuntos políticos e com a esposa que estava demorando a lhe dar um herdeiro, assim que ela anunciou que estava grávida ele tornou se um grande devoto da esposa e depois que ela partiu o conde foi incapaz de se livrar daquele cômodo e sempre que sentia falta dela ia até lá, aquele era o santuário dela. E como se o destino desejasse tirar Sebastian do sério, aquele se tornará o refúgio de Valeria. Ela estava naquela capela desde quando havia chegado naquela casa e de lá não saia nem para um chá.
Sebastian entrou silenciosamente e a viu de joelhos recitando uma oração. Sentiu vontade de arranca lá dali e a abraçar, como se sentisse sua presença Valeria desvirou se rapidamente, se levantou e fez uma mesura educada.
- Senhor Sebastian.
- Olá valeria. - Ela sorriu sem querer ao perceber que ele não usará a senhorita. Muito comum nessa época.
- Eu estava rezando por seu pai.
- lhe agradeço.
- Sabes que não é preciso.
- Como não se estás fazendo um ato tão nobre?
- nada comparado a Marina que está cuidando dele.
- Você faria o mesmo se esta tarefa coubesse a você. Se você fosse minha noiva não faria?
- Você sabe que sim. - Sebastian olhos em seus olhos profundos e tocou gentilmente em seu rosto delicado.
- Eu sei que sim. - Em resposta ela segurou a mão que pousava em seu rosto, então encerrou de volta os olhos decididos de Sebastian, fixou a imagem em sua mente para eternizar aquele momento.
- Ah valeria, eu queria que você soubesse que não está presa aqui, pode ir embora quando desejar.
- insisto em ficar senhor. - ele deu passo para trás como que para controlar seus impulsos.
- Você devia ir o baile na casa da senhora Kimberlen.
- Não posso deixar Marina sozinha com você.
- A senhora Maria Laura não se importaria e você não deve ficar trancafiada nessa casa como se isso fosse uma responsabilidade sua.
Mas ela desejava que fosse uma responsabilidade sua.
- Sinto que isso é uma ordem.
- Talvez seja.
- permita que eu retorne amanhã cedo.
- valeria. - Ele sussurrou
- Sebastian. - Ela sussurrou de volta não se afastando enquanto ele se aproximava.
- Eu não queria que fosse assim.
- É tarde demais.
- Eu só lamento por isso.
- Se aquela noite eu não tivesse saído para o jardim, você me notaria?
- Talvez, talvez. Eu não via a pessoa que você era, mas queria tanto ter visto.
- Bento viu e agora esta morto, eu não deixaria que o mesmo acontecesse a você, mesmo que para isso tivesse que me esconder de ti.
- Eu tenho um compromisso com Marina, e isso dói, porque seus encantos tiraram meu coração dela.
- E não parece que o dela é seu.
- Eu sei que não me pertence e não a culpo.
- Você acha que o senhor Meireles será um bom Marido? O acho um tanto repugnante.
- Se ele não for o matarei com minhas próprias mãos.
- Por mim?
- por você.
Sem mais resistir às mãos dele a puxaram, valeria não resistiu mas enterrou suas mãos nos cabelos dele. Então suas bocas se encontraram sedentas uma pela outra, o coração batia forte e ambos na mesma sintonia, aquele era o primeiro e o último Beijo que importava, era um amor proibido não vivido. Momento que não passou de um raro minuto mas permaneceu gravado para sempre na memória de cada um.
Valeria tentou decifrar os olhos do homem que ela amava. Medo e amor, desejo e dor. O que mais escondia ali?
- Tudo termina aqui minha valeria. Não posso trair Marina, por mais que eu te ame.
- Você me ama? - Lagrimas escorriam por seu rosto ao mesmo tempo em que um sorriso meigo brotava em seu rosto.
- Te amo ao ponto de não te fazer minha amante, você merece alguém que te ame mais, merece alguém melhor.
- Então você vai ser fiel a ela?
- Vou
- Achei que você amava a ponto de... Amasse-me como eu te amo.
- Você merece um amor que descumpra sua palavra e fique com você. Sinto muito mas não posso abandona lá, não depois de tudo que está fazendo por meu pai.
- Eu compreendo.
- Vá ao baile, por favor.  Não estamos em Londres Onde a temporada social existe, você devia aproveitar os poucos bailes que são dados aqui.
- Você está me pedindo pra te deixar?
- É o melhor para nós dois. - Ela consentiu.
Desejava que esse pesadelo acabasse logo, era melhor ir embora de vez, já sabia que ele a amava e ele que ela sentia o mesmo por ele, mas ele estava noivo e ela também. Desejou ser Marina, mas muito mais do que isso desejou sorte a Sebastian, desejou que ele fosse Feliz, que tivesse filhos e que aproveitasse a vida de Conde. Desejou também nunca mais o ver para não alimentar aquele amor, e que amor.
- Te desejo felicidade.
- E eu te desejo todas as coisas mais maravilhosas do mundo.  - Ela consentiu, deixou uma lagrima escapar quando viu que ele estava com lágrimas nos olhos.
- É melhor você partir, em breve uma tempestade irá desabafar.
- Já Está desabando aqui dentro. - Ela tocou no peito.
- Sinto muito.
- Só mais uma coisa Sebastian.
- O que quiser minha jóia rara.
- Algumas pessoas sobrevivem a tuberculose. - tentou o consolar.
- Uma em dez. Duas se possuírem uma perfeita saúde.
- É o caso do Conde.
- Ela já está com quase setenta anos.
- Você precisa ter fé Sebastian. - E então se retirou sem dizer adeus.
Marina passava pelo corredor quando ouviu passos apressados. Desvirou- se e viu valeria passar por ela feito um furacão.
- Você está bem querida? - perguntou.
- ficarei. - Fez uma pausa analisando o avental de Marina coberto por sangue. - Sebastian mandou que eu voltasse para casa antes que  a tempestade chegue.
- Claro. Sem problema algum. - Marina esperou que Valeria falasse algo, mas o silêncio reinava. - Você irá ao baile?
- Acompanharei minha mãe.
- Mande lembranças à anfitriã.
- Mandarei. Agora preciso ir.
- Tenha uma boa viagem.
- Promete que irá cuidar dele.
- Prometo que cuidarei. - Ela respondeu sem se dar conta de que Valeria referisse a Sebastian e não ao Conde.






O espelho de SkinnerWhere stories live. Discover now