Helene

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Quando retornamos ao acampamento, deparamo-nos com um homem ferido que jazia sobre o chão. O guarda puxou-me mais forte pela corda e empurrou-me para dentro da carroça. Em seguida, ele correu em direção aos outros cavaleiros.

- O que aconteceu? - perguntei para Hagne, enquanto tentava tirar a corda dos meus pulsos.

A velha senhora ajudou-me, desfazendo os nós.

- Um homem ferido. - ela explicou o óbvio.

- Ouvi dizerem que ele caiu do cavalo enquanto caçava. - Agathe murmurou. Observei os seus olhos verdes acompanharem os movimentos agitados dos homens. - Caiu sobre a própria adaga.

Alguns dos nossos gargalharam.

- Ele não aprendeu a caçar? - um perguntou.

- Pelo visto, não! - disse outro, também rindo.

- E agora a Deusa Ártemis ensinou uma lição da qual ele jamais se esquecerá. - Agathe sorriu de forma sombria e triunfante. 

A porta da carroça foi aberta, pondo fim às risadas.

- Bruxas sabem feitiços para a cura, não é mesmo? - mesmo com o elmo, reconheci a voz do guarda que me ameaçou agora a pouco. Ele apontou para Hagne e para mim. - Vocês duas, venham comigo.

Olhei temerosa para a sacerdotisa, mas ela esboçou um breve sorriso para que eu me acalmasse. Segurei em sua mão enrugada e descemos, acompanhando o cavaleiro. O caçador gritava diante da dor, enquanto um dos homens tentava tirar a faca da sua barriga.

- Pare! - Hagne gritou. Rapidamente, ela ajoelhou-se ao lado do ferido. - Irá matá-lo dessa forma! - o homem que tentava ajudá-lo estava sem elmo, desse modo conseguimos ver o olhar furioso que ele deu à sacerdotisa.

- Elas curarão Leônidas. - o guarda atrás de mim assegurou e eu sabia que não tínhamos outra escolha.

Ajoelhei-me ao lado de Hagne, esperando por suas ordens. Ela analisava o ferimento.

- Pela posição da adaga, não creio que tenha pegado alguma parte letal do corpo. - alguns homens suspiraram, aliviados. Ela olhou para mim. - Preciso que você me traga língua de lagarto para estancar o sangramento e olho de crocodilo para limpar o ferimento.

- O quê? - o caçador gritou.

- Acalme-se! - Hagne olhou para mim novamente. - Apresse-se!

Acenei em entendimento e levantei-me rapidamente. Antes que eu corresse, contudo, alguém segurou-me pelo braço.

- Eu vou com ela. Não se esqueçam de vigiar os outros prisioneiros. - o cavaleiro ordenou. Depois virou-se para mim. - Ande!

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Minhas mãos acariciavam as folhas das plantas, enquanto eu andava por entre elas. Esse homem é afortunado por estarmos no início da primavera em uma região onde a neve já derreteu e a vida começava a ressurgir. Sorte a dele e azar o nosso por sermos obrigadas a ajudar aqueles que tiraram a nossa liberdade.

Pinpinela e milefólio. Repetia para mim mesma. Onde vocês estão?

- Se estiverem nos enganando, - o silêncio de minutos foi interrompido. - pagarão com as suas vidas. - ignorei o guarda, tentando concentrar-me na busca; porém ele segurou forte em meu braço, puxando-me. - Entendeu?

- Se arrancar o meu braço, as chances de salvar o seu amigo deixarão de existir. - disse, impaciente. Ele hesitou, mas soltou-me por fim. - Por que não ajuda ao invés de me ameaçar?

- E como eu a ajudaria a encontrar, - ele hesitou, incerto - olho de lagarto?

Bufei, exasperada.

AÛSUB - Helene e AugustoWhere stories live. Discover now