Capítulo 1

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"Nas palmas de tuas mãos

leio as linhas da minha vida.Linhas cruzadas, sinuosas,interferindo no teu destino."

— Cora Coralina, Meu Destino

Paulinha

Enxugo a cerveja derramada sobre o balcão à minha frente. Dessa vez a briga no bar foi mais extrema que de costume e, mais uma vez, por causa de mulher, dois peões, até que bonitinhos, se atracaram bem na minha frente.

O cara número um chamou uma moça para dançar, enquanto o cara número dois, que já estava flertando com ela há um tempo, foi tirar água do joelho. Do balcão, observando o acontecido, já previa que daria algum problema. Dito e feito, assim que o cara número dois voltou e viu sua pretendente dançando animadamente com o cara número um começou a confusão.

O número dois empurrou, o número um não deixou por menos e revidou o empurrão, a moça indecisa começou a gritar, pedindo que parassem. Engraçado, ela causar a desavença e, depois, querer que eles levem na boa. O primeiro soco foi dado pelo número dois, o que acarretou duas garrafas de cerveja tombadas no balcão. Um desperdício total.

Antes que eu avançasse sobre eles, meu primo, Tadeu, interveio, apartando a briga e colocando os dois desordeiros para fora do bar.

A moça que foi o motivo da briga pegou sua bolsa e saiu, seguindo o caminho por onde os outros foram expulsos.

— Isso porque ainda é terça-feira — tia Dulce comenta, passando por mim.

— Pois é — concordo, terminando de passar o pano.

Recolho algumas garrafas perdidas na pia e as coloco numa caixa no chão. Duas já estão completas, então, as recolho, indo para o fundo do bar deixá-las na área de descarte e recebimento de engradados novos.

Limpo a mão na minha calça jeans, já havia tirado o avental antes da confusão começar. Hoje o movimento não está dos melhores, vou aproveitar para sair mais cedo. Normalmente fico até a tia fechar, mas com Tadeu por aqui, posso ficar despreocupada.

No caminho para o salão recolho minhas coisas no armário dos funcionários, visto minha jaqueta verde, confiro meu rosto no espelho, limpo o canto do olho que borrou ligeiramente meu delineador, jogo um beijo para o espelho, saindo dali.

— Já vai, menina?

— Sim, tia. Tem problema? Tadeu está aí hoje, pensei que ele poderia te ajudar a fechar.

— Claro que pode, uai! Só falei porque sua carona chegou. — Ela faz sinal com a cabeça.

Vejo Guilherme sentado na banqueta no fundo do balcão, provavelmente entrou enquanto eu estava nos fundos do bar.

Sua postura, como sempre, é tranquila, transmitindo até um pouco de paz para quem o vê. Tranquilidade que destoa totalmente da aparência física, já que seus quase um metro e oitenta, tatuagens significativas pelo corpo e corte de cabelo moderno faz qualquer um pensar que ele é um tipo perigoso.

Solto o ar, com pesar, pensando que não posso mais adiar este encontro.

Desde o nosso incidente, tenho o evitado. Não participei do almoço de domingo por saber que ele estaria e, pela semana, tenho fugido de qualquer contato. Ainda não acredito que fomos capazes de passar da linha daquela forma e, voltar ao que tínhamos antes, será mais complicado do que imaginei.

Tomando a coragem que sempre me acompanhou caminho a passos largos até seu encontro. Ele tem a cabeça baixa, respondendo algo no celular, pela forma como digita.

[DEGUSTAÇÃO] Criado Para Mim - livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora