Capítulo 3

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"Mas, conquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.
Que dias há que n'alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei porquê."

— Luís de Camões

Paulinha

Chego em casa mais tarde do que previa, a visita na casa da tia Dulce demorou mais do que o esperado e acabei me enrolando no horário, não restando muito tempo entre um banho, vestir qualquer coisa e correr para o bar.

Depois do convite que Guilherme fez, acabei divagando demais entre as possibilidades que nunca vão acontecer, minha tia, por várias vezes, teve que me despertar dos meus pensamentos que insistiam em fugir de mim.

Contei sobre a ideia da festa temática em cervejas e ela adorou a ideia. De lá liguei para Armando, meu contato no meio, acabou sendo tão educado e solícito que ficamos conversando um bom tempo. Fechamos o evento para este fim de semana, o que acabou me acarretando muito serviço.

Hoje seria o meu dia de folga, mas como fiquei por conta do bar o dia todo praticamente e, levando em consideração que terei o evento em dois dias, preferi trabalhar para compensar o dia.

— Clara Maria, você não vai! — Escuto minha mãe alterada na cozinha.

Marcho direto para lá e me deparo com a cena de Clara chorando feito uma criança e minha mãe parada à sua frente, com as mãos na cintura.

— O que está acontecendo aqui? — pergunto, chamando atenção de todos.

— A mãe... — Clara resmunga, soluçando.

— Ela quer ir não sei aonde na capital, com o namorado e eu disse não.

— Mãe. Relaxa. A Rita e eu vamos também. — Ela me olha, surpresa.

— Você vai? Com quem?

— A família Queiroz inteira vai, até dona Rute. É um evento de leilões, mãe. Não tem por que não a deixar ir.

— Vou perguntar de novo, Paula Maria. Com quem você vai? — Seu olhar ameaçador agora foca em mim.

— Guilherme me convidou. Por quê?

— Valha-me Deus! Mais um Queiroz aqui, não! — Ela bate os braços na lateral do corpo, alterada.

— Mãezinha, não viaja. Gui e eu somos bons amigos. Só isso.

— Como o galanteador era só um serviço de mecânica e o outro menino era só educado. Veja no que deu. — Ela aponta para Clara.

— Mãe, os meninos são ótimos com as duas. É até injusto a senhora fazer isso.

— Mas o povo fala, Paula.

— Dane-se o povo, mãe. Você criou suas filhas muito bem e agora chegou o momento de elas escolherem o próprio futuro.

falando delas ou de você naquele bar?

— Ah, não. Não vamos discutir isso, de novo. Eita! Já falei que gosto de lá e ajudo a tia Dulce.

— Sua tia é desmiolada. E você cada dia mais fica parecida com ela.

— Bom, eu preciso trabalhar. Clara, escolhe uma roupa linda, que vamos a este leilão, sim.

— Eu mando nesta casa, Paula Maria — minha mãe esbraveja, séria.

— Na casa, sim, mas nas suas filhas, não mais. Clara cresceu, mãe, e eu tenho certeza de que o pai me daria razão.

[DEGUSTAÇÃO] Criado Para Mim - livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora