Capítulo 2

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"As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas.

Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.

Para aqueles que se machucam.

Para aqueles que buscam e tentam sempre."

— Clarice Lispector, Pessoas Felizes.

Paulinha

Acordo com a voz estridente da minha irmã inconveniente gritando coisas incoerentes para meu cérebro recém-desperto. Arrisco abrir um olho e vejo-a me encarando, com os braços cruzados e cara de poucos amigos.

— O que foi? — resmungo, virando para o canto e cobrindo minha cabeça.

— Preciso da sua ajuda! Levanta, Paulinha, é quase meio-dia.

Abro os olhos na hora e me sento na cama. Prometi a mim que hoje levantaria mais cedo para resolver algumas questões do bar e não tumultuar meu dia, mas a cama quente e convidativa acabou vencendo a batalha.

— Droga! Devia ter levantado cedo — reclamo, saindo cambaleando da cama.

— Não vai me ajudar? — Clara pergunta, aflita, quando bloqueia minha tentativa de ir ao banheiro.

— Primeiro eu vou acordar, fazer meu xixi, escovar os dentes e tomar uma boa dose de café.

— Mas, Paulinha... — ela faz manha.

— Quieta. Café, depois conversa estranha. — Levanto o dedo enfatizando minha escolha.

Estou na cozinha servindo uma boa dose de café na minha caneca amarela, Clara Maria está irritantemente sentada à minha frente com os braços cruzados sobre a mesa, encarando cada movimento meu.

— Pronto. Agora pode falar. — Sento à sua frente.

— Finalmente. — Paro minha xícara a meio caminho da boca para estreitar os olhos em sua direção. — A mãe tá tendo um faniquito porque a Ritinha e eu vamos ao tal leilão da capital.

Reviro os olhos antes de falar algo.

— Era esse seu problemão, Clara? Jura?

— Só você consegue convencer ela, Paula. — Sua voz aflita me faz querer rir.

. Eu falo com ela. O que a Ritinha falou disso?

— Ela disse que vai e pronto. Mas eu... você sabe... a mãe fica mais no pé.

— Eu sei. Bom, deixa que da dona Lélia cuido eu. Preocupe-se em arrumar uma roupa bem bonita para ir.

Soltando a risada mais animada, Clara levanta da mesa correndo e vem me abraçar. Por conta do seu entusiasmo, quase viro minha xícara de café em nós duas.

Eita, lasqueira! Me larga, menina! — esbravejo.

— Você é a melhor, Paulinha!

Ela sai da cozinha rumo ao seu quartinho de costura, saltitando, empolgada. Balanço a cabeça, sorrindo, acho que a última vez que vi toda essa felicidade em seus gestos foi quando ganhou o concurso de redação, no ensino médio.

Não há nada que eu não faria para ver a felicidade no rosto de cada uma das minhas irmãs. Apesar de termos pouca diferença de idade, isso nunca causou confusões, desunião ou inveja em nosso tratamento. Meus pais souberam muito bem nos ensinar como a amizade e irmandade são importantes para a base familiar.

[DEGUSTAÇÃO] Criado Para Mim - livro 3Where stories live. Discover now