19.BLECAUTE

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-Ele está tão cheiroso

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-Ele está tão cheiroso...

Comentou Prince para a mãe na sala de estar após seu irmão passar por lá e despedir-se das duas.

O jovem havia dito que iria sair com os colegas. Ele não gosta de mentir e, de fato, é um péssimo mentiroso. Mas essa noite ele optou por ser um livro apenas "meio aberto".

Sua mãe não teria adorado a ideia de ele ir à casa do mesmo garoto que prometeu não iludir.

Campainha

Phiravich atente a porta antes de qualquer um se aproximar dela. Hoje alguém que na semana anterior havia completado 18 anos, está tentando disfarçar a excitação ao máximo. Ele havia recebido uma mensagem breve de feliz aniversário pelo Facebook e jamais imaginou que receberia na própria casa a visita que agora está ali em pé. De moletom despojado preto, óculos de grau Ray-Ban Wayfarer e... cheiroso.

-Eu posso jantar aqui se você trouxer o prato.

Fala o visitante que já estava alguns segundos esperando enquanto o anfitrião admirava sua aparência, e distraiu-se.

-Desculpe... Entre, na!

Dá passagem pro outro que entra observando a sala.

-Você insistiu que eu não precisava trazer nada. Nem a sobremesa. Então eu vi isso numa loja a caminho e pensei em... Bem... Feliz aniversário novamente. -ele entrega um embrulho de pano vermelho de uma loja chamada Rocka Cocka.

-Mas não é uma festa hoje. Eu não tive tempo pra pensar nisso...

-Pode só aceitar? Eu nem coloquei no bolso pra não amassar. -Rathavit pede com uma voz fofa. Talvez ele nem soubesse que é fofa. Ou fizesse de propósito. Para todos os efeitos...

-Obrigado.

Phiravich faz wai e segura o embrulho. Nem tem tempo de abrir e seus pais estão vindo cumprimentando animadamente.

Eles jantam alguns pratos preparados por Mæ̀ Kainty e pelo próprio aniversariante: a torta.

Sem deixar de fazer o menino sentir um pouco de vergonha com histórias sobre ele ter sido um dos primeiros bebês gerados por inseminação artificial na Tailândia e ter tido um irmão gêmeo que não chegou a nascer.

Rathavit percebe que Mæ̀ Kainty disfarça a amargura da perda e ama o único filho como uma verdadeira mãe urso. Ele é mais alto que os pais e agora, ao lado deles, torna-se ainda mais a imagem de um bebezão que "só tem altura" como disse P'Nook.

-Que gracinha...!

Ela fala quando o filho abre o embrulho. Nele há uma gravata borboleta com estampa de Stars Wars.

-Eu gostei muito. Obrigado, P'.

Agradece com honestidade o singelo presente.

Após um agradável jantar e conversa. Os jovens seguem para o quarto. E lá Phiravich arruma a TV para jogarem.

Rathavit aproveita a distração do outro para gravar os detalhes. O dono do quarto tem tudo organizado de forma metódica. Uma prateleira com alguns enfeites na temática Navy. Barquinhos de madeira, âncoras de cerâmica e outros emblemas da marinha em miniatura.

-Qual?

Rathavit nem havia percebido que o outro estava atrás dele. Por um momento ele pensou que estava se referindo aos enfeites. Ao constatar que Phiravich aponta com a cabeça pra TV...

-Ah... qual jogo.

-O que você pensou?

-Pensei que tu estivesse me oferecendo um deles.

-Errr... desculpe eles são de coleção e...

-Eu jamais aceitaria 55. Calma.

Eles sorriem com os olhos. Phiravich pega a gravata que ganhou de presente e a coloca sobre um dos pequenos navios.

-Vamos fingir que é um Crossover entre Batalha Naval e Guerra nas Estrelas.

Entre olhares cúmplices e sorrisos, eles começam a jogar. Nenhum realmente prestando atenção no que ou como está indo o jogo.

Quando de repente.

ESCURIDÃO TOTAL

Rathavit suspira alto numa exclamação amedrontada.

-Eu vou verificar.

Phiravich levanta da cama e segue apalpando até chegar à porta da sacada.

-Hm. É geral.

Rathavit também havia levantado. Porém, do chão. Ele preferiu sentar numa almofada ao pé da cama.

Mas agora tem medo de esbarrar em alguma coisa por não conhecer bem o ambiente. Dá um passo e acerta o pé num chinelo.

-Droga... Nong Phi!!! Me ajude aqui...

O menino tem medo de se mover e estragar alguma coisa.
O anfitrião o busca pela mão e o conduz ao lado de fora. Agora na sacada, ambos riem da situação.
A luz da lua cheia é a única a mantê-los longe da breu total. E a brisa noturna mostra sua face em contraponto à adrenalina que causava calor dentro do quarto.
Rathavit abraça os próprios braços, disfarçando.
Mas o outro entende o recado.
-Aqui a temperatura está diferente. Vou buscar sua jaqueta.
-Não é necessário.
-Prefere você buscar?
-Errr...
Ele olha de volta pra dentro do quarto. Não fazendo ideia de como chegar à cadeira onde deixou. O outro sorri e sai.
Alguns segundos depois, volta com a jaqueta preta de veludo. E entrega ao dono que imediatamente a veste. Sendo atentamente observado. O desconforto toma o ambiente ao notar que estão pela primeira vez apenas na presença um do outro sem artifícios para preencher o silêncio.
Rathavit encara o céu estrelado.
-A vista daqui é ótima. Tua casa é bem localizada.
-Dizem que é a segunda vista mais bonita da cidade aqui na minha sacada.
-Jura? Nunca ouvi falar... Mas qual a primeira?
Ao que Phiravich mantém-se calado ainda a observar, mas desta vez com o olhar mais intenso que ambos já tiveram notícia. Rathavit engole em seco sem nem acreditar. Preferindo não acreditar.
-Ah não. Corta essa, meu irmão!
Fala desviando os próprios olhos. E afastando-se.
-O que eu fiz?!
Perguntou um confuso garoto indo atrás do outro. Eles debruçam-se sobre o balcão da sacada como costumavam fazer no workshop. Mas um deles ainda evita contato visual.
-Não ouse terminar o que ia dizer! Eu assisti a este filme com minha irmã e mãe. Não acredito que esteja apelando pra essa cena.
-Hmmm.
-Hmmm o quê? Eu já falei. Não insista nisso.
-Mas se você lembra bem da cena, vai saber que o homem fica em silêncio. E, se te ofende tanto, vou mudar pra alguma outra cena de outro filme. Qual você prefere que eu tente?
-Não vai adiantar. Eu não sou a senhorita dos filmes. Não me importaria em ter a voz da Christina Aguilera, mas não sou a moça protagonista. E tampouco estamos numa comédia romântica. Podemos simplesmente fingir que isso jamais aconteceu?
-Sinto muito. -fala ocultando a decepção. -Sinto muito se o Phi ofende-se. Eu nunca quis levar dessa forma. Eu sei que você não é uma garota pra agir como elas. Mas é justamente por isso que eu ... Ah ... Esquece... Eu confundi tudo.
-Pensei que fôssemos treinar os apelidos.
Rathavit usa o que chamam de sair pela tangente. -Mas nenhuma vez nos referimos um ao outro como...
-O Phi pensou que faríamos isso? Treinar stage name? Com tantas coisas mais legais pra treinar.
-E o Nong pensou que ganharia algo a mais com diálogo roubado de musical?
-Eu não pensei em "ganhar" nada. Eu juro! Apenas tive expectativas que você fosse...
- O quê?
-Deixa pra lá...
-Fala logo!!
-O mesmo que eu!
Phiravich confessa. Completamente sem vontade.
- Foi o que tu pensou?
Rathavit indaga com uma expressão maníaca em seu rosto. Pode ser interpretada como raiva, mas também ironia e um tanto de diversão ansiante.
-Se foi o que você pensou. Pensou errado...

(W.EngVer)MY YOUTH IS OURSWhere stories live. Discover now