XI.

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ATENÇÃO: este capítulo pode conter gatilhos relacionados com ataques de pânico, caso tiver alguma sensibilidade com assunto, não é recomendável a leitura.


Não havia qualquer sinal de nuvens pesadas no céu, somente o brilho das estrelas em conjunto da lua reluzente que iluminava o corpo desacordado de Ravenna. Apesar de aparentar uma extrema calma, se ouvissem com atenção, possivelmente escutaram os passos apressados de Vittorio atravessando o saguão até chegar ao lado de fora, onde começou a sentir o vento frio arrepiando sua espinha.

Sua aparência desleixada evidenciava o quão confusa era aquela situação, ele usava um conjunto velho de moletom com os olhos evidenciando seu desespero crescente. Quase não havia acreditado quando desceu ao térreo, encontrando um homem assustado que começava a ligar para uma ambulância, já que havia visto a garota desmaiar dentro do próprio carro.

Afirmou ao homem que ligar para uma ambulância era desnecessário, tentou convencê-lo que estava tudo bem. Vittorio acreditou que tinha sido convincente o suficiente.

Arrancou o cinto de segurança com alguma dificuldade, desistindo de qualquer gentileza, dando um puxão final para livrá-la do banco do carro. E segurando-a com delicadeza, ele a levou até o seu apartamento, resistindo ao desespero completo.

O cabelo dela continuava tão escuro como quando a conheceu, mas agora havia perdido parte de seu brilho. A perda da inocência, refletiu Vittorio melancólico por saber parte da história de sua amiga, a outra parte foi fácil de descobrir sozinho.

Vittorio Castelli Ignoto poderia ser considerado a perfeição encarnada pelas garotas de sua escola. "Ele é tão inteligente..." disse uma garota pelos corredores do colégio. "Olhe como ele é bonito e simpático" verbalizou outra. Pelo menos era daquele jeito que Vittorio gostava de se lembrar.

Italiano por nascença, ele é o filho mais velho de Santino Ignoto e Lenore Castelli, sendo o primogênito de um casal de divorciados, junto de sua irmã mais nova, Antonella. Aos treze anos, sua mãe decidiu morar em Paris, então Vittorio não teve muita opção senão segui-la. Não foi uma escolha complicada, afinal sempre teve um relacionamento conturbado.

Foi inevitável ter olhares de estranheza direcionados a ele, principalmente com aquele sotaque carregado e pronúncia afetada que o diferenciava dos outros estudantes.

Não demorou para aquele novato se encontrasse preso numa dupla indesejada em um trabalho de biologia, se sentando sem permissão ao lado de uma garota com cabelos escuros como a noite, olhos cinzentos e afiados, além de uma constante expressão irritada.

Aparentemente não foi difícil simpatizar com a única outra garota tão isolada quanto ele. Formando assim, o início de uma nova amizade que acabaria evoluindo para um namoro até se consolidar como apenas fraternidade.

Ravenna estava inconsciente por tempo suficiente para fazê-lo se contradizer, pensando se deveria chamar uma ambulância, mesmo que soubesse o quanto sua amiga odiava hospitais com todas suas forças.

Assim que ele colocou o corpo inerte no sofá de seu apartamento, percebeu que ela soltava resmungos chorosos, palavras desconexas deixavam seus lábios enquanto tinha os membros trêmulos, como se estivesse em um pesadelo que não conseguia acordar.

Vittorio decidiu que deveria ligar para alguém mais capacitado em ajudá-la, passando por cima das vontades de sua amiga, discou o número da emergência com os dedos tremendo por causa do nervosismo.

— O que... — ele ouviu antes que pudesse efetuar a ligação. — O que está acontecendo, Vittorio?

— Calma... — começou a dizer, mas foi brutalmente interrompido pelas ações abruptas da jovem.

Soltando murmúrios chorosos, mãos tremendo mais do que Vittorio achava que fosse possível, além de um olhar apavorado enquanto lágrimas desciam por suas bochechas. O choro aumentava tanto que seus soluços repercutiram por todo o lugar, ela forçou as unhas contra a própria pele, marcando gravemente os tons de palidez em um vermelho arroxeado.

Ao redor do sofá onde ela estava sentada, os objetos saiam de sua norma de realidade com gavetas abrindo com agressividade, o vidro estava tremendo na mesma sintonia que a própria Ravenna.

A garota não se sentia dona de seus pensamentos. Aquilo estava consumindo tudo que existia dentro de sua mente; chorava desesperada com o coração batendo acelerado e os lábios secos, além das mãos suando e náuseas.

Ninguém sabia o que poderia ser feito para acabar com esse sentimento horrível de pavor.

O Castelli não se afastou em nenhum momento, mesmo receoso por tudo de estranho que acontecia ao seu redor, não conseguia deixar a amiga mais antiga sofrer aquilo sozinha. O italiano não tirava os olhos de Ravenna, contudo quando observou as íris da garota, percebeu que elas não eram mais cinzentos, pois exibiam um tom de vermelho sangue que o assustou. Ele não era capaz de acreditar no que estava acontecendo.

O tempo era ilusão quando se adentrava nos portões de Helheim.

Aquele era o lar dos mortos com desonra, sendo um lugar sombrio de frio extremo que é temido por todos, além de ser um ambiente que facilmente poderia enganar a mente por suas manipulações, causando ilusões de um passado nebuloso que assombravam os que mereciam tal castigo.

Alguns possuíam tanto medo que nem sequer gostavam de falar sobre o reino, mas não Karnilla, pois sabia que não havia nada poderia machucá-la mais do que a própria rainha do lugar, Hela.

— Deixem-me entrar. — a rainha de Nornheim se aproximava das portas que a separavam da deusa dos mortos.

Os guardas moveram lentamente seus braços compostos carne podre para abrir a porta, diminuindo a distância entre Karnilla e Hela. Aqueles seres de pele apodrecida eram parte fundamental do exército que a deusa dos mortos reunia nas últimas décadas, cujo objetivo estava muito próximo de se concretizar.

— É sempre um prazer revê-la, Karnilla. — a voz maliciosa de Hela soou por toda a sala, enquanto permanecia sentada em seu trono, observando atentamente quando a aliada caminhava até parar próximo da deusa. — Espero que me presenteie com boas novas.

— Sempre haverá boas novas enquanto formos aliadas, minha querida. — a senhora de olhos roxos manteve o olhar fixo nos olhos verdes de Hela, enquanto se curvava lentamente com um ar de deboche.

— Não tente me enrolar, Karnilla. Consigo sentir que o rumo do destino está mudando através de magia.

— Oh, minha querida, não seja assim tão séria. — ela riu de escárnio. — Permite-me mostrar para que veja com seus próprios olhos.

Após usar magia para mostrar exatamente o que havia feito e as consequências de tais ações.

— O feitiço foi retirado, Karnilla? Pensei que tivéssemos entrado em consenso de que tanto poder reunido chamaria muita atenção.

— Eu não retirei o feitiço. Somente abri uma brecha, algo para adiantar o próximo passo.

— E qual o próximo passo?

— Trazê-la para Asgard.

— Como você pretende fazer isso acontecer?

— Eu? Não preciso fazer nada, o destino fará por mim. ㅡ olhou sedenta para a deusa, caminhando até a mulher ao ponto de ficar a centímetros dela. — A única coisa que precisamos fazer é sentar e observar como o futuro pode se tornar interessante.

O reino tremeu diante da visão aterrorizante da rainha dos mortos sorrindo com sinceridade.


Agora temos personagens novos sendo introduzidos, Hela e Karnilla, rainhas que estão envolvidas indiretamente com Ravenna.

Me digam suas teorias. Qual a profecia que as duas tanto falavam e o que exatamente fizeram para que ela acontecesse?

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