25.

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Meu antigo quarto ainda mantinha o tom lilás que era quando morava aqui, a estante que antes era cheia de livros estava acumulando poeira, a cama não possuía lençóis, provavelmente os empregados deixaram o cômodo isolado depois que fui embora.

Havia tomado um longo banho, procurei roupas no meu quarto, contudo Amélie tinha jogado tudo fora, então fui até o guarda-roupa de minha mãe que permanecia intacto, pegando um dos pijamas dela.

A janela do lugar permitia que pudesse ver o céu estrelado, dando lugar a luz alaranjada que vinha do horizonte pelo nascer do sol, meu olhar estava vidrado.

Acho que era a primeira vez que enxergava de forma honesta toda minha vida até aquele momento, eu tentei suavizar tudo que houve comigo, quis apagar tudo que aconteceu, mas não posso. Amélie era um parasita que sugava minha felicidade, ela é uma mulher tóxica, a porra de uma sociopata que adorava ver a dor nos meus olhos. E saber que ninguém nunca impediu isso conseguia doer mais do que os abusos em si, acho que depois de tudo, só me acostumei com tanta dor.

Virei meu olhar para o pulso onde estava o bracelete, manchas arroxeadas cobriam minha pele pálida ao redor da pulseira e elas cresciam com rapidez. Tinha olheiras fundas e escuras sob os olhos, causadas pelas noites de insônia, hematomas surgiam por meu corpo, também sentia meu cabelo caindo com mais facilidade.

Ouvi o som alto da porta se abrindo no andar de baixo, o barulho de vozes fizeram com que meu coração batesse mais forte, pois sabia que Amélie havia chegado na mansão. Deixei o quarto, mesmo que sem nenhuma vontade, andando o mais devagar possível para as escadas que me levariam até a sala de estar onde as vozes foram ouvidas.

— Eu não quero aquela bastarda na minha casa. ㅡ disse ela, fazendo com que fique estagnada no final das escadas.

ㅡ E eu lamento ter que ser assim, mas não temos opção, alguém precisa ficar a senhora.

O homem tinha seu braço estendido, servindo de apoio para que a mulher pudesse caminhar, levando-a até o sofá onde se sentou.

ㅡ E onde está a criatura?

Respirando fundo, comecei a caminhar até o sofá onde ela estava sentada, e reunindo toda a minha coragem limitada, eu falou: ㅡ A "criatura" está bem aqui, vovó.

ㅡ E você está de volta. ㅡ foi irônica, soltando um barulho irritante de escárnio. ㅡ Que roupa ridícula é essa?

ㅡ Não finja surpresa por eu usar roupas da minha mãe.

ㅡ Ela não é sua mãe. ㅡ retrucou irritada. ㅡ Você é somente o fruto de uma mente carente e frustrada que era a de Marjorie. — tentou se levantar, sem sucesso já que estava fraca. ㅡ Não importa que ela tenha te dado o sobrenome da minha família ou que escreveu seu nome em um testamento, você nunca será uma Beaumont!

Aquelas palavras doeram mais do que deixei aparentar, porém mantive a imparcialidade no meu rosto, torcendo para que a mulher não notasse minha total falta de confiança. Aproximando-me dela, fiz com que meu rosto chegasse perto o suficiente para que somente ela me escutasse.

— Eu sou uma Beaumont, ninguém nunca poderá tirar isso de mim, nem mesmo você com tanta arrogância e cinismo. — falei baixo. — E não se esqueça que eu sou a única disposta a cuidar de você.

Pierre fez um barulho com a garganta tentando chamar nossa atenção, ele se aproximou de Amélie beijando sua mão com cortesia.

— Infelizmente, não posso ficar mais tempo, tenho assuntos a tratar sobre o trabalho. — disse ele. — Pode me acompanhar até a porta, Ravenna?

Concordei, enquanto me afastava de Amélie indo até a porta acompanhada por Pierre, andei ao seu lado até o carro que estava estacionado na frente da mansão.

RavennaWhere stories live. Discover now