queime a hora do pesadelo

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TRÊS MESES DEPOIS QUE ELIZE PRESCOTT NÃO MORREU

Cascalhos sendo amassados. Aquele som chamou a atenção de Elize, que virou o rosto como um cão farejador sentindo cheiro de sangue. Luzes invadiram a sala, movendo sombras através dos móveis empoeirados. As paredes pareceram se aproximar, deixando Elize incomodada. Ela se levantou do sofá, onde esperava que Scott terminasse de limpar a cozinha e olhou pela janela.

Eram faróis de um carro, e havia uma pequena oscilação colorida também.

A polícia.

Scott não percebeu a movimentação de imediato. Ele estava segurando o esfregão, limpando o chão da cozinha, quando a respiração pesada de Elize chamou a sua atenção. Se estivesse raciocinando corretamente, teria pensado em perguntar o que acontecia do outro lado da janela, mas Scott se encontrava fora de frequência. Sua atenção estava presa na última mancha vermelha, que não queria sair do ladrilho lascado. A maior parte do sangue havia sumido, o que era bom, mas aquela mancha continuou assombrando a cozinha. Ela atrapalharia totalmente o plano de Scott, que consistia em dizer para a mãe que Greg havia partido depois de beber demais. Talvez ela acreditasse em suas palavras, talvez não; mas sumir com aquela mancha ajudaria a eliminar suspeitas.

Ele pressionou o esfregão contra o ladrilho manchado com mais força. Precisava que a mãe acreditasse na sua história, que esquecesse Greg. Precisava ver o coração dela partido pelo abandono, mesmo que soasse cruel. Não poderia correr o risco de tê-la por aí, procurando aquele homem nojento como se ele merecesse ser achado. O ódio seria a única forma de garantir que a morte de Greg permanecesse um segredo de Elize e Scott.

Eles já compartilhavam tantas coisas, tantas primeiras vezes, tantos tipos de sofrimento diferentes, que mais um não faria diferença. Scott duvidava que adicionar um assassinato ao histórico do relacionamento dos dois mudasse alguma coisa. A cena onde Elize reclamava do sangue na ponta dos seus cabelos, enquanto puxavam o corpo de Greg para a piscina vazia do quintal, era só mais um dia normal no namoro dos dois.

Quase riu, apreciando a própria desgraça.

Elize limpou a garganta no cômodo ao lado. Ficaram vinte minutos observando a piscina encher e cobrir o corpo pregado à pedras de Greg, e durante aquele tempo o demônio de Westwood não dissera nada. Mas agora, estava inquieta. Ali, no meio da sua sala de visitas, com os olhos presos na janela e os lábios franzidos em uma expressão de desgosto. Mas não seria possível que mais alguma coisa ruim fosse acontecer naquele dia, seria?

Seria, sim.

Scott foi até a janela, parando atrás de Elize. Levou as mãos sujas aos cabelos e entrou em desespero assim que viu a viatura policial estacionando sobre os cascalhos da entrada da casa. Não disse nada, só andou para trás e tremeu os lábios enquanto a porta do carro se abriu e duas pessoas saíam dele. Era uma mulher loira, de terno cinza, e um homem alto, de sobretudo. Eles andaram sem hesitar até a porta da casa de Scott, mas não bateram de imediato.

Aproveitando o tempo de distração da polícia, Elize puxou Scott pelo braço de volta para a cozinha.

— Onde tem molho de tomate?

Scott a olhou sem entender a pergunta, levando um susto quando Elize gritou:

— Anda logo!

Ele se moveu rapidamente, pegando dois pacotes de molho de dentro do armário. Elize buscou uma panela que estava sobre o balcão da cozinha e a colocou no chão, perto da mancha de sangue que não haviam conseguido limpar. Então, abriu um dos pacotes e o espalhou estrategicamente ao redor do ladrilho, fazendo com que o vermelho cobrisse o sangue.

Queime Tudo (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora