Conto II

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ELA

Estávamos em um tipo de relacionamento.
Meio que um relacionamento onde eu não implicava com que bocas ele beijava e vice-versa.
Eu pensava que isso seria difícil, apesar de ter sido eu mesma a propor, mas acabou sendo bem... Libertador.
A única bosta era que ninguém nunca entendia. Nós não namorávamos, mas éramos fixos e não exclusivos. Qual a dificuldade?
Ri enquanto pensava naquilo e Noah cutucou minha cintura de lado, me fazendo olhá-lo.
- Tô com medo de você - comentou encenando uma cara assustada, com direito inclusive a olhos arregalados.
- Deixa de ser dramático, idiota - ri enquanto aumentava o volume do canal de músicas antigas e cantava junto "oh child" com a voz na TV. Eu nunca lembrava o nome do cantor.
- Tava rindo de quê? - perguntou quando eu comecei a rir sozinha.
- Daquela vez que a garota... Qual era o nome dela mesmo? Claire eu acho, veio me dizer que você estava pegando uma menina na festa e a cara de chocada dela quando eu disse que não tinha importância. Ela chegou a me chamar de puta! - tentei manter minha indignação estampada, mas simplesmente não conseguia pelo fato da gargalhada de Noah ser contagiante demais.
- E alguns dias depois ela ainda tentou dar em cima de mim, mas ela não faz meu tipo, e ainda ficou puta - eu quase não conseguia entendê-lo de tanto que ele ria.
Gargalhei junto com ele e balancei a cabeça.
- Essas garotas estão ficando loucas - falamos juntos, exatamente a mesma frase, e acabamos por rir mais ainda.
Passados alguns segundos de nossa crise, Noah se espreguiçou lindamente ao meu lado, fazendo os músculos dos seus braços se ressaltarem e eu ter vontade de morder cada músculo dali.
- Para de babar em mim, garota - me beliscou fraco, mas seu beliscão fraco ainda era forte.
- Ai, seu monstro! Dá um tempo dos teus beliscões, eu fico roxa, parece até que você me espancou! - reclamei esfregando o local para ver se a dor enjoada passava.
- Você é muito dramática - ele reclamou e tirou minha mão do local, fazendo um carinho leve.
- Não tá passando - resmunguei e ele riu, rolando os olhos, enfiou uma das mãos nos meus cabelos e enfiou sua boca na minha.
Eu sei que você provavelmente não vai ver sentido em Noah ter me beijado, mas ele me conhecia melhor do que eu mesma, e há muitos anos. Quando eu inventava de ficar de birra ou fazer malcriação, principalmente com ele, nada me parava.
A não ser, claro, tensão sexual. Foi assim que acabamos começando a ficar e, posteriormente, a transar.
Quando sua boca se separou da minha, com uma mordida gostosa e doída no lábio inferior, eu suspirei.
- Isso é covardia - reclamei, batendo em sua bunda quando ele se virou de costas para mim depois de se levantar do sofá.
- O que? - perguntou se voltando na minha direção sorrindo.
- Você me excitar e sair assim - falei e ele riu.
- Tenho uma festa pra ir, quero pegar a Rebecca - sorriu cafajeste e eu balancei a cabeça em negação.
- Depois, quando elas ficarem te perturbando, não vem me pedir pra fazer a namorada ciumenta - avisei apontando um dedo para ele e o vi se voltar novamente para mim sorrindo feito uma criança que sabia que faria arte.
- Relaxa, tenho outros planos - disse indo em direção à porta depois de piscar um olho em minha direção.
- Hm, vai naquela festa né? - perguntei enfiando um pedaço da barra de chocolate que até então estava jogada ao meu lado, esquecida.
- Vou, você vai sair? - perguntou, como se estivesse realmente interessado.
- Não tenho planos - algo estava maquinando na minha cabeça, mas não era para realmente sair, então...
- Então tá, a gente se vê mais tarde - me mandou um beijo de longe e se foi, sem me deixar questionar por que "mais tarde" ao invés de "amanhã", mas eu dei de ombros, sem ligar muito.
Peguei meu celular e abri no whatsapp, procurando a conversa com João e o convidando para uma passadinha no meu dormitório.
Deixe-me explicar: assim como Noah tem suas peguetes, eu tenho os meus. Claro que menos frequentes do que as dele e até mais discretos, mas ainda assim eles existiam.
E esse João, puta que o pariu! Deixa eu dar uma breve descrição pra vocês: seus cabelos negros iam até pouco acima dos ombros e seus olhos azuis me faziam lembrar o céu, em um dia limpo mas sem tanto calor, mas me dando calor em lugares inapropriados... Sua barba era farta e tão negra quanto seus cabelos, mas sua pele era de uma tonalidade mais clara; e seu corpo... Não gosto nem de pensar demais pra não subir demais aquele calor desvairado. E uma pegada, meu amigo... Eu só não havia conseguido parar e transar com ele ainda, minhas aulas sempre me deixavam ou louca ou exausta, e eu acabava o dispensando.
Mas não hoje. Hoje eu queria um sexo maravilhoso, do tipo que não cansa rápido e que te faz gozar quantas vezes ele quiser. Eu só realmente, realmente espero que não me decepcione com ele. Nem com o pau dele.
De prontidão João aceitou (com muita safadeza e promessas) passar a noite na minha ilustre cama e eu fui ao banheiro do quarto somente verificar se estava tudo em cima.

Amizade colorida [Contos]Where stories live. Discover now