Capítulo 74 (03/05)

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Perdoem os erros.

(Versão Aquiles)
Horas Antes.

O coração podia falhar mais a alma de um monstro ainda vivia dentro dele. De olhos fechados e com a respiração a um fio, a fenda da vida se abriu diante do seu corpo, Aquiles sabia que não teria outra opção, a agonia em que estava vivendo era deprimente, ele sabia que não iria suportar por tanto tempo aquela dor.

Seus olhos estavam pesados, seus dentes lhe causava repulsa, ele se sentia doente prestes a embarcar em uma viagem que não estava disposto a faze-la. Sentia a sua alma ser sugada para dentro de um buraco negro sem fim, era aterrorizante e solitário. Seu corpo foi sugado para dentro a fenda completamente e quando ele abriu os olhos novamente observou o lugar que durante séculos jurou nunca mais se quer pisar. O Paraíso!

Ao longe um homem mais que familiar repousava ao lado de um balanço. Seu olhar era distante, porém Aquiles não era tolo ele tinha consciência de que o homem ali sentando era tão argiloso e perigoso quanto a pior das espécies.

— Porque me trouxe aqui?

— Você estava morrendo.

— Sempre estive morto por dentro mesmo. A dor as vezes alivia.

— Não seja um tolo, eu te salvei da agonia.

— Eu não pedir a sua ajuda. — O criador tornou a encara-lo. Aquiles havia se esquecido daquele olhar, ele era tão penetrante quanto uma navalha seus olhos de águia eram reluzentes parecia ter sido feito do mais puro ouro, eram magníficos. — Não seja ingrato, garoto. Você estava sofrendo.

— Acredite, estou sofrendo muito mais estando em sua presença. — cuspiu. O Criador sorriu, seu corpo se inclinou e o balanço rancheu levemente. Por um momento Aquiles desejou que o objeto de madeira despencasse e levasse junto o homem cujo o chamava de pai. — Vejo que continua sendo um garoto muito levado.

Aquiles bufou.

— Por favor sem momentos nostálgicos. Sua falsa modéstia me causa ânsias. - ele deu mais um passo. Estava determinado a falar tudo o que estava engasgado em sua garganta durante séculos. — Vamos, solte de uma vez esse seu veneno prepotente, não é isso o que você faz o tempo todo?

Aquiles virou-se. Sabia que o Criador não o deixaria partir facilmente, pelo menos não antes de lhe cutucar a ferida até que sangra-se.

— Porquê me considerar um vilão filho? — a voz serena do Deus o fez ferver por dentro. O Criador sabia ser uma vítima quando queria, ele era um fascista teatral. Aquiles o encarou com uma pequena neblina de ironia. - Está falando sério? Quer mesmo que eu te responda?

— O que aconteceu com as pecadoras foi muito além do meu controle, filho. - Aquiles soltou um riso amargo. Aquela situação o deixava cada vez mais irritado. — Matar mulheres inocentes sob as nossas costas não foi um ato piedoso, aquilo foi covarde.

O criador se ergueu do balanço, seus olhos celestiais vibravam dentro da sua própria íris. Ele estava ficando nervoso, Aquiles podia sentir toda a magnitude do poder do homem escorrer sobre o chão e percorrer através dos seus pés.

— Já disse eu não as matei. Não controlo o tempo, nem muito menos vocês. Meu dever é apenas criar e lançar sobre a terra, o que ocorre lá em baixo não é mais um problema meu.

— Está enganado. Você foi e sempre será o único responsável por aquela chacina sangrenta.

— Pessoas morrem, Aquiles. Chacinas acontecem o tempo todo, é a lei da vida. O que resta a todos é apenas superar o ocorrido e retomar suas vidas. Não vê que está agindo feito uma criança sem disciplinas? — Aquiles o encarou com os seus olhos estreitos. — Você não vai se opor como a vítima, não desta vez. Você. — ele apontou para o deus com os punhos quase tremulos. - matou a minha mulher, matou todas elas e ainda nos culpou. Teve a coragem em nos humilhar e nos desprezar como míseros animais. Você as matou, nos mandou para aquela maldita batalha para deixa-las sozinhas e vulneráveis.

CORROMPIDOWhere stories live. Discover now