As Sereias de ciano

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Mesmo com toda a minha dor eu respirei um pouco até que consegui explicar tudo o que passei do outro lado da morte para Troy e Liana, eles ficaram incrédulos com o meu relato de morte. Ainda mais por Zara não ter os deixado nem por um instante sequer.

- o que pensa em fazer agora que retornou? - perguntou Troy me olhando firme.

Tudo que eu iria fazer dependeria de como as coisas estavam nesses dois dias em que eu morri, e ninguém sabe da minha volta. Melhor manter em segredo.

- acabar com os que me mataram e livrar o reino das garras de seu pai. Sem ofensas é claro, mas se você notou ele não é um bom rei!

E era verdade o pai de Troy vinha se mostrando uma péssima escolha para o reino e isso bem antes dele decidir acabar com a sua própria espécie. Seria horrível ter sua reputação arruinada com a descoberta do seu maior segredo. Pensei, talvez fosse por aí que eu devesse começar.

Mas como?

Eu precisava de um bom plano, não posso simplesmente reaparecer de uma hora para outra como magia de sereias bruxas. O povo de Ciano jamais aceitariam minha volta, eles pareciam bastante animados com a minha morte. E eu precisava saber como estavam as coisas em relação às sereias.

- Troy, sabe que não voltei a toa não sabe? - digo olhando fixo em seus olhos que parecem tristes com minha pergunta.

- sei. E quando você cumprir o que lhe foi destinado terá só alguns anos restantes de vida. - disse encarando um ponto qualquer da caverna.

- por essa razão temos que fazer tudo direito. Me diga como está a atual situação das sereias do reino de Ciano.

Ele e Liana se olharam e pude entender que as notícias não eram nada boas. O mar não pode ter mudado tanto assim em dois dias ou pode?

- não sabemos ao certo mas... Eu vi alguns marujos com grandes e fortes redes de pesca quando fui confrontar Tyler.

A simples menção do nome de Tyler já me fazia lembrar da cena em que ele cortava meu pescoço sem dó nem piedade me fazendo sangrar até a morte, e mesmo assim eu gostaria de saber se ele se arrependia do que fez.

- Lavínia, Tyler não se arrepende nem um pouco do que te fez. Pude ver bem em seus olhos quando falei com ele. E... Ele me seguiu tentando descobrir onde eu iria.

Eu sabia que Tyler era um humano tendencioso e mesmo assim me deixei enganar por ele.

- eu me arrependo tanto disso, por minha culpa os humanos sabem da nossa existência.

...

No dia seguinte mesmo não tendo dormido direito e Troy e Liana terem continuado com sua vigília silenciosa depois de terem escutados meus gritos revivendo o pesadelo que foi ter ficado no além. Fomos jogados de volta na realidade quando uma Celly cansada e amedrontada de tanto nadar invadiu a caverna.

- eu não sei o que aconteceu mas tem uma sereia ferida nos rochedos. - disse de uma vez sem notar minha presença.

- como assim? Ela está muito ferida?

Troy perguntou saindo na minha frente. Celly parecia meio distante e com medo, um medo que nunca vi ela sentir, nem quando estava quase na boca de um tubarão branco. Ela olhou inquieta de um lado para o outro finalmente me notando.

- então você voltou mesmo? - ela não parecia surpresa. - Vamos a gente deixa pra fofocar depois. Ela está muito machucada.

Então seguimos para os rochedos, podia muito bem ser uma armadilha ou uma brincadeira de Celly mas ela não sabia que eu iria realmente voltar. E quando chegamos a sereia realmente estava deitada em cima das pedras com parte de sua cauda machucada, seu sangue escorria para o mar e aquilo me causava uma sensação estranha. Era como se eu fosse atraída por seu sangue, talvez algum tipo de efeito colateral de voltar da morte. Espantei esses pensamentos pois o momento era delicado e tínhamos que salvar a vida dela.

- o que aconteceu com você?

A sereia se ergue me encarando com uma expressão dolorosa.

- eu... Eu não vi as redes de pesca que eles colocaram a noite e... Acabei me debatendo muito até chegar aqui. - ela falou com dificuldade.

- está vendo o que fez? - Celly me encarou furiosa. - isso é sua culpa. Se você não tivesse se revelado eles nunca saberiam nossa existência.

Ela estava certa. A culpa é minha.

- não fale assim com ela. - disse Liana.

- ela sabe que é verdade.

- tudo bem, eu sei disso mas agora temos que nos concentrar em salvar a vida da Livy.

- como sabe meu nome?

- não sei. - digo enquanto todos me olham de uma maneira estranha. - já faz muito tempo que está com essa ferida aberta?

- sim, eu tentei curar com a água do mar mas não deu certo como das outras vezes em que me feri.

- certo. Esse ferimento é grande demais para só a água curar assim de uma hora para outra. Preciso de algumas algas para cobrir o ferimento ou ela ira morrer mesmo.

- eu não quero morrer.

Acho que só piorei as coisas.

- eu tenho algas, sempre ando com algumas caso eu me fira.

Liana me entregou as algas e rapidamente as coloquei em cima de seu ferimento limpando e fazendo pressão no lugar. Eu não sabia se iria funcionar, algo me dizia que sim, e foi seguindo esse instinto que visualizei ela se curando.

- como ela pode estar melhorando tão rapidamente se você não é uma sereia bruxa? - disse Celly me interrompendo do processo de visualização.

Quando abri os olhos não havia mais ferimento algum alí e todos me encaravam como se eu tivesse vindo de outro mundo.

E eu sabia que realmente tinha só não sabia os efeitos dessa volta.

- eu não sei o que fez mas isso realmente me ajudou. Muito obrigado. - disse Livy ignorando Celly totalmente.

- tudo bem. Mas pode não espalhar que voltei.

Ela concordou, mas Celly parecia irritada comigo por alguma razão.

- sobre isso eu não sei se vou poder manter sua volta em sigilo. Logo todos saberão inclusive o humano.

- você não pode fazer isso. - disse Liana segurando sua mão.

Celly era minha amiga ela não seria capaz ou seria?

Continua...