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Agora

Hawkins, 1986

Dizem que o mal que nos torrencia nos fortalece. O mal que acaba com nossas expectativas. Costumam dizer que não há como evoluir sem sofrer, ou que a dor é inerente à vida.

Maya Howard, prostrada em sua escrivaninha riscava as letras redondas formando frases na folha em branco e por fim a tornando em uma carta, devaneando aos céus sobre a monotonia molestada de seu coração. Questiona-se honestamente se o martírio de seus batimentos cardíacos expectam por uma tranquilidade em algum momento breve.

Após os trágicos acontecimentos que levaram aos desaparecimentos dos anos passados, Maya Howard, agora invisível e acostumada a esgueirar-se entre a multidão, estudava uma maneira de encontrar sua mãe desaparecida há um ano. Fechou seu diário na escrivaninha do seu quarto e desligou a luminária de sua mesa de estudos. Seus olhos azuis morosos e sem vida do luto pela falecida que desapareceu juntamente de Barbara Holland, amiga da popular Nancy Wheeler e alguns outros moradores, encaram a figura sorridente da família reunida no último natal. Ela pensou ao ver a própria figura mais jovem que era uma absoluta idiota, desperdiçando o tempo precioso que obtinha com Noora em besteiras frívolas, e agora, não podia voltar atrás.

Ela não sentia nada. Um completo vazio que lhe consumia, rasgando o que restava de humano dentro de seu peito cansado.

Vazio.

Absoluto vazio.

Caminhou descalça no frio das cinco horas da manhã até a sua janela aberta que recebia brisas frias do outono, e passou a refletir. Da última vez que fez isso, um membro de sua família desapareceu para outro mundo. Absolutamente ninguém acreditou na história contada por ela naquele dia. Dizem que Noora apenas desapareceu. Largou três filhos, um marido e o emprego, e fugiu para outro lugar. Como pó, foi soprado. Nenhum vestígio. Seu carro estava estacionado, não poderia ter fugido e deixado tudo para trás, nem todos os seus pertences.

Foi mais um caso não solucionado.

Seu irmão mais velho aproveitou a maioridade e foi embora de casa para uma faculdade no sul do país, seu pai, frágil e instável, agarrou-se à bebida e aos jogos de azar no Bar do Kensley. No início eram apenas nos fins de semana, mas agora avançou para todas as noites. A junção dos fatos levou a própria Maya a ficar deprimida nos últimos estágios escolares. Definitivamente não chamava mais a atenção de ninguém por suas qualidades, agora tinha a fama de ser uma vadia maluca que dava tiradas inaceitáveis. Seu irmão de quase doze anos aparentava ser o mais lúcido da família enquanto que às escondidas, já fumava, bebia e colecionava revistas pornográficas com os amigos.

𝕄𝕆ℕ𝕊𝕋𝔼ℝ𝕊 | 002, 𝘀𝘁𝗿𝗮𝗻𝗴𝗲𝗿 𝘁𝗵𝗶𝗻𝗴𝘀Onde as histórias ganham vida. Descobre agora