segundo

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— Então... Poderia me explicar sobre isso? — Jihyo aponta para o estado de Sana, que fungava irritantemente o tempo todo. A japonesa deu de ombros. Não poderia culpar-se por ter uma saúde frágil, e sim, o ocorrido que houvera passado no dia anterior – e que até agora não tinha entendido bulhufas.

Abriu a boca para começar a dizer, mas reteve-se. Precisava escolher as palavras certas. Esteja certa ou errada, Jihyo teria um bom argumento na ponta da língua; este que faria da sua mágica para por na cabeça de Sana a verdade que ela preferia ignorar. Agradecia por Jihyo às vezes, mas depois de tantas mudanças de pensamento, Sana precisava fixar-se sozinha, sem mudar de caminho pela influência da melhor amiga.

A situação do dia anterior se passava em sua mente a cada segundo, como um loop infinito do seu fracasso e queda naquela possa de água suja. A poça que acabou lhe deixando doente desse jeito, e empurrada por uma garota surtada aleatória na rua. Sana só tinha sido sincera. Era só uma camiseta. A camiseta dela. Teria culpa no meio disso tudo?

Algumas pessoas acabam agindo de forma exagerada por pouca coisa.

Dependia também do que essa "pouca coisa" significaria à elas. Para a menina da loja, era o fim do mundo. Para Sana, um resfriado e uma hora de banho quente.

— Ontem, Nayeon e Jeongyeon me convidaram para sair com elas. Não só para fazer compras... Precisávamos de alguns acessórios para continuar na venda das bijuterias. — Explicou Sana à amiga. — Então, as esperei no local combinado. Por mais de uma hora e meia. Não aguentando mais, avistei uma loja, e meu lado capitalista falou: "Por que não?" Acabei comprando uma camiseta bonita da vitrine, última do estoque.

— Você teve dinheiro para isso?! — Jihyo arregalou os olhos, e Sana concordou. Não importasse o valor, tudo era extremamente caro para Jihyo.

Era algo que marcava a relação das duas. Sana, com seus leves privilégios e despreocupação com a vida que carregaria após o fim do ensino médio, e Jihyo tentando alertá-la dos perigos da vida, mesmo nunca tendo alguma fase difícil na vida. Ambas poderiam passar-se como adolescentes privadas do sofrimento alheio e encalhadas no que se chamava "bolha social". Mas Jihyo gostava e armava pela causa. E Sana era sua melhor amiga. Obviamente, acabaram se envolvendo em alguns quesitos à parte do mundo a fora e os problemas que milhares de pessoas sofrem. Porém, continuavam no que se diria "sem lugar de fala", apesar de saberem dos mais variados assuntos.

— Eu estava juntando, e meu pai tinha me dado a mesada semana passada. — Adicionou Sana, pondo a mão nos ombros da melhor amiga. — Podemos no sentar? Estou muito cansada.

Ficaram próximas o chafariz da escola. Era um lugar calmo e nada chamativo, depois de anos desativado e seu pátio ao redor carregado de grupinhos dos mais variados estilos. Ninguém desconfiaria que duas garotas conversavam sobre outros assuntos que não estivessem relacionados à garotos – ou garotas. Ali podiam passar a falsa impressão, e brincar de seres invisíveis.

— Que houve mais?

— Era uma blusa preta, bonita, não sabia se era costurada de algodão ou seda... Eu comprei na hora. — Sana dilatou sua pupila levemente. Poderia não saber o que era o Queen direito, mas precisava admitir: era uma camiseta linda demais para ser desperdiçada. — Então, quando saí da loja, essa garota apareceu, agindo totalmente louca. Me culpou por ter comprado a camiseta, nós "discutimos" – fez aspas com os dedos – e acabou me empurrando em direção à poça de lama. E saiu correndo. Parecia triste.

— Você disse antes que foi empurrada por questões musicais. Como assim?

Sana bufou irritada, mexendo em seu cabelo loiro.

— Ah, eu tenho uma teoria de que ela me empurrou só porque a blusa era do Queen. Essas fãs malucas...

— Ela devia estar de olho na camiseta há tempos. — Concluiu Jihyo, virando-se para a frente, sem olhar Sana. — Isso faz sentido. Tirando a parte que você fica gripada.

— Obrigada pela consideração.

— Você precisa devolver a camiseta.

Sana deu um pequeno salto para trás, desacreditada nas palavras de Jihyo. A baixinha deu um sorrisinho brincalhão. A típica cara de: Estou brincando contigo. Ou talvez não.

— Como eu poderia achá-la? É loucura!

— Nas periferias, que tal?

Sana empurrou Jihyo, saindo de perto do chafariz, mas ainda de frente à amiga. Era perceptível seu incômodo em relação às referências com a periferia da cidade. Sana não gostava daqueles lugares, não pelas pessoas, mas porque teve uma sensação horripilante lá. Sana já fora assaltada e quase perdeu a vida. Hoje, ela continua, mas Sana ainda lembra da sensação do cano frio da arma em sua cabeça, a voz grossa e desconfortável, a força contra sua cintura...

Credo. Por mais que odiasse alguém, aquilo seria a última coisa que daria de presente para alguém quando pedisse um desejo na festa de Natal.

— A Jihyo, — choramingou — preciso mesmo pedir desculpas e devolver a camisa para ela? Eu mal sei o seu nome!

— É uma questão do destino, jovem. Os antigos vivem dizendo isso.

— Não consigo acreditar neles.

— E nem eu. — Pôs a mão no ombro de Sana desta vez, suspirando ao mesmo tempo que a amiga.

Pararam a pensar. Sobre a situação de Sana, o mistério da garota surtada, e do que os antigos acreditavam. Em suas orações, perdões e esperança. No imenso mistério que ronda nossa galáxia, cheia de estrelas, planetas e buracos negros. É um fenômeno. Cada ação reage-se uma consequência. Desejavam que a consequência não acabasse. Sua companhia era tudo o que procurava e precisava.

— Sana...? — Chamou Jihyo. Sana levantou a cabeça. — Fique tranquila apenas se você não fez algo errado. Se fez, procure melhoras.

Olhou no fundo dos olhos de Sana, certificando-se da verdade.

— Você precisa melhorar muito, Minatozaki. — E largou as mãos de Sana, fazendo uma cara de séria – mesmo suas pintinhas não deixarem.

vitrine de uma rainha ☆ twiceOnde histórias criam vida. Descubra agora