34 - Aquele dos desabafos

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POV SOPHIA

— Eu não posso voltar para casa, mas também não posso ir para a casa da Zuleica. Aquela mulher stalker é paranoica. Sabe-se lá quais são as reais intenções dela — falei e estremeci, recordando-me das fotos e anotações na parede. — Eu sempre soube que ela tinha uma paixãozinha pelo meu irmão, mas parece algo bem intenso.

— Contudo, não posso mantê-la aqui, Soph — Mandy explicou me entregando um prato de comida. — Meus pais estão desconfiando das altas horas que eu tenho passado enfurnada no quarto.

— E eu agradeço por ter me acolhido. — Coloquei o prato no chão e esfreguei meu rosto sentindo o peso das minhas escolhas caindo sobre minhas costas. — Estou pensando em retornar para o Brasil.

— Para o Brasil? —Mandy pareceu assustada.

— Meu advogado disse que Victor não pode fazer nenhuma transação sem minha autorização, contudo, eu também não posso. Na verdade, nem sei se quero aquele dinheiro sujo, fruto da falta de caráter do meu irmão. — Suspirei. — Minha herança está resguardada, ninguém pode usufruir dela, apenas eu. Daqui três dias eu faço dezoito anos e poderei resgatar cada centavo deixado pelos meus pais. Quero recomeçar minha vida, deixar todo o passado para trás.

Mandy sentou-se do meu lado e esfregou as mãos ponderando sobre seu discurso.

— Soph, eu nunca escondi o fato de no passado não gostar do Victor, você sabe disso. Porém, além dele estar aparentemente mudado, ele é seu marido agora. Não importa se você fez tudo errado, não importa se está colhendo as consequências de suas escolhas, você sabe que não pode simplesmente abandoná-lo como se nada tivesse acontecido.

Levantei em um impulso e comecei a andar pelo quarto tentando esconder minha aflição. Eu ainda não tinha contado para Mandy, nem para ninguém, o pior dos meus pesadelos.

— Ele me traiu, posso deixá-lo — falei em voz alta tentando enviar aquela vozinha da minha consciência para bem longe.

— Você não tem certeza. Quantas vezes me garantiu que ele parecia sincero quando afirmou não ter se envolvido com outras mulheres?

Lancei um olhar impaciente para Mandy e ele surtiu efeito. Minha amiga se levantou e cruzou os braços.

— Olha, o Victor que conversa todos os dias com o Theo não me parece um homem infiel. E ele está sofrendo muito. Eu te dou duas possibilidades, tentar resolver as coisas como uma mulher adulta, ou eu serei obrigada a contar para ele sobre o seu paradeiro.

— Você não faria isso, Mandy!

— Sim, eu farei — afirmou convicta.

Balancei a cabeça muitas vezes e comecei a me desesperar. Eu não poderia ver Victor de novo, não poderia! Eu acabaria cedendo às mentiras dele e não conseguiria colocar meu plano em ação. Eu precisava me afastar... Dele, do John, da maluca da Zuleica... Para o nosso bem!

— Por favor, Mandy! Me deixa ficar, só até meu aniversário, depois eu vou embora! Prometo, vou para o Brasil ou para outro país e reconstruirei minha vida, longe dos perigos que me envolvem. Eu preciso me afastar, Mandy... Eu preciso — balbuciei me rendendo às lágrimas.

— E porque eu faria isso, Sophia? Porque não obrigá-la a enfrentar tudo?

— Eu não posso! — gritei. — Você não entende?

—Não, eu não entendo! Tudo que eu vejo é uma menina imatura, mimada que não sabe reagir aos problemas como uma mulher cristã. Você não passa de uma covarde...

— Eu estou grávida! — gritei, colocando para fora aquele segredo entalado na garganta.

Mandy abriu a boca, chocada. Contudo, eu não pude oferecer mais explicações. A porta do quarto dela se abriu de uma só vez e meus olhos quase saíram das órbitas ao ver aquela pessoa em pé, encarando-me com severidade.

— O que você está fazendo aqui?

....

POV VICTOR

Aquele cartão na minha mão era só uma lembrança sobre todos os meus problemas.

Depois da conversa com Theo, eu havia decidido mudar de vida. Encontraria minha esposa e iria fazer uma proposta de recomeço. Sem empresa, sem mansão, sem dinheiro, sem família, sem passado, nada que pudesse impedir nossa felicidade. Eu pagaria Hanna, decretaria falência da empresa, me mudaria e arrumaria um emprego para sustentar uma casinha para viver em paz com Sophia. Eu havia me tornado um novo homem e precisava assumir as responsabilidades de marido e cristão.

Eu agiria como homem.

Contudo, tudo havia dado errado quando o banco negou minha transferência, alegando a necessidade da permissão de minha esposa. Eu precisava encontrá-la.

Suspirei, guardei o cartão no bolso e dei alguns toques na porta. Quando ela se abriu, um olhar raivoso tentou me intimidar.

— Vá embora, seu traste. Ela não está aqui, se quer saber — a mulher dos cabelos vermelhos disse e estava prestes a fechar a porta na minha cara.

— Por favor, é importante!

A porta estava entreaberta e eu vi o olhar duvidoso de Zuleica me analisando.

— Olha, eu sei que pequei, mas quero concertar meus erros.

Minha confissão sincera pareceu suficiente para convencer a mulher. Ela abriu a porta e ainda um pouco desconfiada me levou até o sofá da sala.

— Desembucha, traste.

— Eu preciso saber onde está a Sophia. Por favor, se você sabe, me diga!

— Não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe. Além do que, mesmo se soubesse, não contaria para você.

— Foi um mal entendido... Um maldito de um mal entendido... — Respirei fundo muitas vezes tentando me acalmar. — Na verdade, uma armação.

— Armação? — Zuleica pareceu interessada e sentou-se no sofá a minha frente. — Conte-me sobre isso.

Eu não sei por que, mas eu senti que poderia confiar na empregada, afinal, ela era como uma mãe para Sophia. Quando dei por mim, estava contando tudo. Expliquei sobre o assassinato de minha mãe, minha desconfiança do envolvimento do meu pai num poderoso esquema de corrupção com quadrilhas e distribuição de drogas e armas, usando nossa empresa como fachada. Contei sobre Hanna e que sempre havia tido um pé atrás em relação aquele malandro do advogado do meu pai e desabafei sobre meus sentimentos verdadeiros pela Sophia.

Zuleica permaneceu atenta e calada, ouvindo cada ponto levantado por mim, parecendo muito interessada quando eu comentei minha desconfiança de já ter visto John Campbell na companhia de meu pai, anos antes de conhecer Sophia, exatamente no dia da morte de minha mãe.

— Tudo bem, eu confio em você — por fim Zuleica disse. — Vamos encontrar sua esposa!

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Quem gostou da maratona de capítulos? Gente, o negócio tá ficando caliente...

A Cristã e o Bad Boy Americano: Da Aposta ao ContratoWhere stories live. Discover now