Capítulo 1

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"Portanto, você, que julga os outros é indesculpável; pois está condenando você mesmo naquilo em que julga, visto que você, que julga, pratica as mesmas coisas."

Romanos 2:1

Antonia

Caminho apressadamente pela rua em direção ao posto médico, mais um dia surgiu ensolarado e este promete um calor quase insuportável em Palomino.

Levantei cedo, como sempre, fazendo minhas orações matinais e clamando a todos os santos que interceda pelo seu João Batista, morador da rua de baixo, que descobriu há pouco estar com câncer.

Mesmo sabendo que as senhoras da igreja irão começar uma novena para Santo Expedito, que atende as causas urgentes, pedindo um milagre para ele, prefiro mantê-lo na minha particular também.

Hoje o dia no posto médico será mais intenso. Começou a campanha de vacinação contra a gripe e, apesar das inúmeras orientações, panfletos e avisos sobre a importância de tomar quando se está dentro do grupo de risco, ainda existe muita resistência.

Por isso, sugeri ao Dr. Gomes que saíssemos em mutirão na cidade, batendo de porta em porta e vacinando a população que se enquadra dentro do grupo obrigatório.

Ele não pareceu muito feliz com a ideia, prefere se manter fechado em sua sala, no computador, mal olhando o rosto dos pacientes que passam por ele e ostentando o cargo de médico-chefe do pronto-atendimento da cidade.

Mesquinho!

— Valha-me Deus! Perdoe-me! — clamo, batendo na própria boca.

Como diria o padre Mauro: "Você tem um grande coração, Antonia, só precisa entender que nem todo mundo pensa como você, logo, não agirão também". Mas o que ele não entende é que meu pensamento só condiz com as leis de Deus e essas, sim, devem ser seguidas e respeitadas por todos.

Olhar pelo próximo é nosso dever cristão.

Por isso, escolhi enfermagem como profissão. Quero ajudar o próximo da melhor maneira possível, cuidar daquele que precisa, limpar as feridas dos doentes, praticar a caridade com todos, sem diferenciações.

— Bom dia, Toninha — Roberta, enfermeira do posto e amiga, me cumprimenta.

— Bom dia, Roberta.

só a bagaceira, amiga. Bebi todas ontem no bar da Dulce.

— Cristo Deus. Você deveria estar rezando em penitência por isso. — Faço o sinal da cruz, olhando-a com reprovação.

— Ah, para com isso, Antonia. A vida é feita para aproveitar. Sou jovem e solteira, um tempão sem um namorado decente... ahh.... que saudade do Jorge — ela fala, apoiando os braços na alta bancada da recepção com o rosto enfiado nas mãos.

— Aquele traste? Esqueceu que ele deu em cima da Tetê? A desfrutável da cidade. — Sinto o amargor inundar meu paladar quando menciono minha vizinha assanhada.

— Pode até ser que ele não presta, mas sabia agitar os lençóis como ninguém — ela fala mais baixo e solta uma gargalhada quando vê meu rosto chocado.

— Misericórdia! — solto, saindo em disparada da recepção.

Por sorte, ainda é bem cedo e o posto não começou a funcionar. Roberta, apesar de boa pessoa, tem a mesma mania da minha irmã, Paula Maria: não tem filtro na língua.

Não entendo como as pessoas se deixam levar por suas necessidades carnais. Isso é tão banal comparado à importância de estar vivo. As pessoas vêm perdendo o sentido da vida e, agradeço a Deus, ter conseguido acordar tempo anos atrás e seguir o caminho certo.

[DEGUSTAÇÃO] Eterno Para Mim - Livro 4Where stories live. Discover now