Capítulo 3

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"Esteja certo de que
os ímpios não ficarão sem castigo,
mas os justos serão poupados."

— Provérbios 11:21

Toninha

Respiro aliviada quando saio da sala de raio-x empurrando a cadeira de Rômulo, que, por sinal, é pesada pra burro, comprovando que ele não teve qualquer fratura ou trinca nas partes lesadas.

Por garantia e minha conta em risco, tirei um raio-x da cabeça também, só para garantir que não causei um dano maior do que um pequeno corte no seu crânio.

Que Deus me perdoe.

Ainda não consigo acreditar como fui capaz de agredi-lo daquela forma. Simplesmente não pensei e só voltei a mim, tamanha a raiva que me tomou, quando o vi caído no chão gemendo de dor.

— Espero que não tenha me causado um aneurisma — ele resmunga e, por reflexo, reviro os olhos.

— Não se preocupe. Sua falta de cérebro é de nascença e vai permanecer assim.

— Ah! Ah! Ah! Muito engraçada.

Entro no consultório do Dr. Gomes empurrando a cadeira de Rômulo e portando os exames para a análise do médico. Não me passou despercebido toda a atenção e cuidado que o médico dispensou ao Queiroz, sim, o sobrenome pesa no tratamento desse senhor, já de meia idade, responsável pelos cuidados com a saúde nesta cidade.

Ele cancelou toda sua agenda, repassando todas as consultas para o médico secundário do posto e dedicou todo seu tempo em cuidar do pobre Queiroz machucado. Isso só me faz querer usar novamente o grampeador, agora em um novo alvo.

— Vamos ver qual o prejuízo, Sr. Queiroz. — Ele sorri.

Puxa-saco!

Viro-me, tentando sair da sala, muito cansada para aguentar aquela cena de favoritismo desnecessário, não preciso estar presente. Minha parte foi feita, agora é com ele e o médico.

— Aonde vai, Antonia? — Dr. Gomes barra meus passos com sua voz barítono.

— Para a emergência, ajudar a Roberta.

— Fique por aqui. Pode ser que precise de você.

— Mas...

— Cabrita. Eu estou debilitado. Preciso de uma enfermeira cuidando de mim. — Rômulo me encara com olhos pidões, mostrando uma fragilidade que não lhe é característico.

Soltando o ar com pesar, me coloco ao lado da porta, mantendo distância, parecendo uma guarda-costas. Encaro a janela, fingindo não ouvir a conversa dos dois sobre as áreas lesionadas, porém, uma pontada de culpa comicha dentro de mim.

Rômulo se machucou por minha culpa. Numa atitude raivosa e totalmente impensada agi por impulso e o agredi. Isso não é conduta correta de uma pessoa, por mais que ele tivesse me ofendido moralmente, não tinha o direito de revidar dessa forma.

Preciso aprender a me policiar perto dele. Meus nervos entram em conflito e se agitam sempre que Rômulo está em torno de mim, agora, com a proximidade das famílias, isso está cada vez mais latente.

Era fácil quando nos víamos uma ou duas vezes a cada três meses. Sua vida sempre foi voltada para a capital e, quando raramente circulava por Palomino, eu evitava ao máximo sua presença. Salvo as vezes em que ele me encurralava em algum lugar, só para me provocar.

Temos um histórico, isso não começou agora, por pura implicância. Sei dos meus assuntos inacabados com esse homem, só não consigo pensar numa forma de simplesmente deixar ir e não o sentir mais me afetar da forma que faz. Mesmo que hoje seja somente o ódio que habite dentro de mim.

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⏰ Last updated: Aug 18, 2019 ⏰

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[DEGUSTAÇÃO] Eterno Para Mim - Livro 4Where stories live. Discover now