Cap. 02

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Meu celular toca descontroladamente enquanto tomo banho. Me preocupo, desligo o chuveiro, seco as mãos e pego o mesmo em cima da pia.

Alô?

— Amor, lembre-se da consulta.

Reviro os olhos dando risada.

Sim, eu estava tomando banho para isso até você me ligar.

— Ah, desculpa — ela ri sem jeito. — Ok, tchau, beijo.

— Beijo.

Voltei para o banho. Ao finalizar o mesmo, envolvi a toalha no quadril e sai pela casa pingando. A Sarah odiaria isso. Escolhi uma calça jeans de lavagem clara comum, junto a uma camisa azul escuro. Após retirar a toalha do meu quadril, deixando-a cair no chão, pude ver com clareza a minha tatuagem na panturrilha direita . Um leão através de chamas, com o olhar fixo para frente. O verdadeiro significado pelo qual a fiz, fora o fato da cicatriz da queimadura ter ficado grande, foi a frase "o que não mata, fortalece". Hoje ela é a minha grande motivação. Toda vez que me olho no espelho ou, como agora, saindo do banho, me deparo com ela e isso me torna mais forte. Foi um acidente que me deixou mais firme e destemido. Eu tive várias partes do corpo afetadas pelo incêndio, algumas delas eu consegui esconder com tatuagem. Como por exemplo a outra panturrilha, que também tem um desenho grande, mas dessa vez, somente as chamas, como continuação da outra. Foram os únicos lugares que consegui fazer, pois são as partes que o uniforme cobre. As regras para um policial poder fazer tatuagem é, além de não ser tatuagens com apologia ao crime e o tráfico, violência, sexo, descriminação de raças e etc, não aparecer para fora da farda. Na barriga eu também tenho uma cicatriz, mas resolvi não fazer nada para esconde-la, já que quando eu treino na academia do BOPE eu tiro a camisa, na maioria das vezes.

Posteriormente passei meu perfume preferido e me olhei pela última vez naquele quarto através do espelho da minha altura pendurado na parede. Ajeitei meu cabelo, respirei fundo e então peguei a chave do carro para ter acesso ao mesmo. Maia está com a dona Juliana na empresa, isso enquanto não acharmos uma babá confiável para cuidar dela.

Miguel está indo muito bem na escola, a professora disse que ele está quase aprendendo a ler. Sim, ele é muito novo para isso, mas graças às aulinhas básicas que dou em casa para ele, como as famílias de cada sílaba, meu filho já está bem a frente dos demais de sua sala. Aliás, o meu garoto sempre gostou de estudar e é muito curioso, uma super qualidade para uma criança dessa idade.

Cheguei ao consultório da Dra. Jaqueline, do qual ficava um pouco distante. É um hospital, na verdade, mas ela trabalha lá atendendo pacientes que acabará de passar por traumas ou daqueles que, apesar dos anos, nunca esqueceu de um. O que é meu caso, basicamente. Depois de manobrar o carro em uma vaga qualquer do estacionamento fechado do hospital, Subi as escadinhas da entrada, tendo acesso a recepção. Estava um pouco cheio, mas como meu horário era marcado, depois que peguei a senha eu não demorei muito para ser chamado e atendido.

— Bom dia, Cadu. Sente-se. Como vai o senhor?

Seu sorriso era imenso, creio que seja uma forma de deixar seus pacientes mais a vontade. Isso me confortou um pouco sim. Fechei a porta, me sentando na cadeira a frente de sua mesa, como a mesma pediu.

— Bom dia — respondo.

— Então, podemos começar? — Assinto. — Apesar de eu já saber um pouco sobre você, me conte mais.

Arqueei as sobrancelhas.

— Sabe?

— Não... quero dizer, sei porque analisei sua ficha antes — ela sorriu amarelo.

Meu Caveira - A Vingança (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora