1. Can't

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Ninguém era páreo aos encantos de Kim Taehyung e quando estou dizendo encantos é o que realmente quero dizer. O mais novo era popular por ser excepcionalmente receptivo e caloroso, contrário a outros alunos que estavam em seu mesmo patamar na hierarquia do colégio de Yeongam. Aparentemente ter uma aparência e visual peculiar, tatuagens e piercings por todo o corpo e participar de corridas ilegais eram os específicos pontos fracos de, praticamente, a escola inteira.

Com sua personalidade libertina e sorrisos soltos, postura descontraída e desleixada enquanto andava pelos corredores do colégio com as mãos nos bolsos e cabelos encharcados em brilhantina, a imponência no semblante, poucos eram os que não queriam estar com ele ou ser o Kim.

Ninguém parecia páreo ao agir gentil e sociável de Taehyung e muito menos ao Corvair vermelho deveras chamativo com o qual ele sempre vinha para a aula. Tudo nele parecia atrair a atenção de todos, era quase como se o garoto fosse incapaz de fazer inimigos e era exatamente isso que me irritava. Ele ao menos tentava ser popular, saía totalmente de estereótipos tratando todos igualmente bem e assim chegava ao patamar e título de queridinho do colégio de Yeongam com o menor dos esforços.

Eu parecia ser um dos únicos que não o via como um astro colegial, um ser inalcançável que eu devia adorar ou uma boca que eu queria desesperadamente beijar. Eu o via apenas como Kim Taehyung, o garoto que quando começava a falar sobre algo que ele era entusiasta não conseguia calar a boca, o garoto que não se acostumava a acordar cedo e muito menos aproveitar do aprendizado enclausurado dentro de uma sala.

O dito era um vanguardista, sua mente parecia estar muito a frente do nosso tempo e era isso que me encantava; o real Kim Taehyung, não um mero status. Talvez as coisas fossem diferentes para mim porque eu o conhecia desde a infância. Talvez não.

Nós morávamos frente a frente. Toda vez em que meu pai saía pela porta com sua mão direita envolta em meu pulso para que eu não me soltasse de si, a fim de levar-me para o jardim e ir trabalhar logo após, a mãe de Taehyung fazia o mesmo. Víamo-nos com frequência e não demorou muito para que ambas as nossas famílias usassem tal circunstância como uma desculpa para se entrosarem. Então foi impossível fugir ou evitar; tínhamos nos tornado próximos. Não amigos, mas colegas.

Brincávamos juntos, ríamos e até mesmo discutíamos e foi assim durante bastante tempo até os Kim se mudarem e a distância ter nos afastado gradativamente enquanto vivíamos nossa tão sonhada pré-adolescência. Depois de tudo, não agimos de maneira hostil um com o outro, até mesmo nos cumprimentávamos quando nos esbarrávamos pelos corredores da escola, no entanto era só isso. E eu não parecia sentir tanta falta, Taehyung também não.

Foi numa sexta-feira que tudo mudou e eu demorei a entender as intenções do mais novo ao pedir em meio ao intervalo das aulas para que eu o esperasse em frente ao seu Corvair antes de ir embora. Mais tarde naquele dia, quando o sinal de dispensa de alunos tocou, eu esperei. Pra ser sincero, havia feito aquilo mais para ser educado do que qualquer outra coisa, no entanto eu tinha que confessar que tudo sobre aquele pedido parecia um tanto quanto suspeito. Eu conhecia Kim Taehyung—ou ao menos julgava que sim—, entretanto eu não sabia o que podia mudar no comportamento de uma pessoa num período de seis anos.

—Eu fui reprovado no semestre de Cálculo. —o maior dissera de supetão assim que chegou enquanto remexia sua cabeleira preto-vermelha, que se estendia por sua nuca em um mullet charmoso, e brincava com seu chaveiro nervosamente. Ele parecia bastante incomodado com a situação que estava vivenciando. —E meus pais não podem receber mais uma nota vermelha, se isso acontecer, irei perder o acesso a minha beladona e...

—Sua o quê? —o impedi de continuar tagarelando ao passo em que trazia pra mais perto os livros que eu tinha em mãos.

—Minha beladona! —dissera dando aquele seu sorriso quadrado característico como se estivesse sendo óbvio. Levantei uma sobrancelha em confusão e o mais novo bufou com o grande ultraje que eu pareci cometer ao não saber ao que ele se referia. Taehyung deu um tapinha leve no capô ausente de fissuras ou arranhões de seu automóvel, indicando a pintura que cintilava em meio ao sol. —Meu carro.

(Chevrolet Corvair)

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(Chevrolet Corvair)

—Ah, certo! —acenei positivamente com a cabeça achando-me estúpido por não ter percebido antes. O Kim tratava aquele carro como um filho, com certeza ele teria um nome. —Mas continuando o que você estava dizendo... —gesticulei para que ele prosseguisse.

—Sim, sim, cálculo! —ele indicou estalando os dedos e apontando-os pra mim logo em seguida enquanto mordia o piercing que tinha no lábio inferior. —Eu pensei que você pudesse me dar uma... Forcinha com a matéria. Te conheço tempo o suficiente pra saber que você, estranhamente, absorve e ama matemática, então... —deixou a frase no ar como se temesse alguma rejeição vinda por parte de mim ou algo parecido. Eu sabia que eu era a sua única esperança.

—Claro. —respondi de vez dando de ombros. O que podia dar errado? —Nós podemos começar segunda, não sei bem como anda o seu cronograma, então deixo os horários por sua conta.

—Certo! —comemorou. —Ótimo, ótimo. Você se importa de estudarmos em locais diferentes em meio aos dias da semana? É que eu costumo...

—Eu sei sobre a sua dificuldade de concentração, Kim. Nunca me esqueci. —deixei escapar e só depois de sentir o quanto o teor daquela conversa parecia ter mudado que eu me policiei, pigarreando e indicando o poder de fala para o mais novo.

—Nossa primeira aula pode ser... Segunda, no refeitório na hora de intervalo. Está okay pra você? —questionou um tanto quanto receoso ao morder o canto dos lábios continuamente. Acenei em concordância.

—Agora eu tenho que ir. —disse checando o horário em meu relógio de pulso. Estava atrasado para minha aula extra de álgebra. Minha mãe estava as pagando pra mim ao meu pedido, se eu perdesse alguma não iria me perdoar. Não que a senhora Park fosse se importar muito, mas eu me importava. —Vejo você segunda, estou atrasado. —e deixei o Kim pra trás sem ao menos ouvi-lo se despedir.

Andei rápido até o meio fio e olhei para os dois lados da rua para checar se estava havendo algum tráfego de táxis pela rua. Bufei irritadiço ao perceber que não havia um veículo sequer trafegando por ali, provavelmente tinha passado no meu período de espera por Taehyung.

—Você parece irritado. —o mais novo comentou atrás de mim e eu virei o rosto para encarar a sua figura imponente que andava tranquilamente até mim com as mãos nos bolsos enquanto chutava uma pedrinha ordinária com seus tênis surrados.

—É porque eu estou. —comentei simplista e voltei a minha atenção até a rua novamente.

—Você precisa de uma carona pra voltar pra casa? —o outro ofereceu educadamente. —Não veria problema em desviar a minha rota por um dia e eu conheço aquele bairro como ninguém. Você nunca se mudou, não é?

Ignorei a sua proposta por alguns segundos por estar bastante concentrado no meu exercício mental em não me desesperar e logo um sorriso aliviado tomou conta de meu rosto ao ver um dos veículos preto-amarelos no final da rua. Esperei com o que veículo chegasse perto o suficiente, agradeci e abri a porta do táxi ajeitando minha mochila e meus livros nos assentos antes de entrar. Sentei-me e antes que pudesse fechar a porta e ordenar para que o motorista arrancasse com o carro, encarei o Kim por uma última vez.

—Não vai ser agora que você vai me ter dando uma voltinha... —frisei. —Na sua beladona. Obrigado.

—Por nada. —Taehyung disse com seu sorriso largo no rosto e bateu continência de modo descontraído, as sobrancelhas erguidas em divertimento, o piercing em uma delas cintilando. —Valeu a tentativa.

Sorri e antes que aquela provocação toda se prolongasse, pedi para que o motorista me levasse até em casa. 

adrenaline: love in the backseat | pjm + kth / vminOù les histoires vivent. Découvrez maintenant