Tara

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Já tinha se passado três anos desde que saí da casa de Evan depois que ouvi que ele havia engravidado Tara, não sabia se a criança tinha nascido ou qualquer coisa do tipo, porquê até com ela cortei contato total. Nunca imaginei que seria tão traída pela minha melhor amiga como fui naquele momento, é como se ela tivesse "cobiçado" ele desde sempre, não sei, era uma coisa que jamais saberei. Quando não trabalhava na boate a noite costumava tomar o café da manhã em uma padaria duas quadras de onde ficava meu prédio, as vezes apenas ficava olhando as pessoas caminharem pelo vidro do estabelecimento ou rabiscava algo em minha agenda. Porém, teve um dia em que tive a surpresa de encontrar minha antiga confidente e junto dela estava seu filho; é uma bela criança, devo admitir, tão parecido com o pai, isso mais uma vez lembrou-me quando o mesmo me contava seu sonho de ter uma família. Um sonho que jamais pude ajudar a realizar.Naquele momento fingi que não tinha visto a mulher entrar, era um dos dias que eu rabiscava frases soltas e usei isso para dar mais credibilidade no meu fingimento, não foi o suficiente, ela vinha em minha direção.


­-Posso me sentar? -

seu tom de voz era ansioso e urgente, como se minha resposta fosse questão de vida ou morte, mas apenas assenti positivamente, vendo-a ajeitar o pequeno na cadeira ao lado.

-Obrigada, Stef...- Aham, de nada, Tara. 


ela ficou em silêncio por alguns minutos antes de começar a falar novamente. Talvez meu tom de voz desdenhoso tenha feita repensar se queria mesmo continuar aquela "conversa"

-Eu queria pedir perdão. Perdão por ter cobiçado algo que era seu e ter tirado proveito da situação na época, pior ainda...ter gerado um filho do homem que você amava. E-eu realmente estou arrependida, Stef.

- Não deveria se arrepender, no fim das contas deu o que ele sempre quis: um filho.


Ao terminar de falar levanto acenando para a atendente e deixando o dinheiro sobre a mesa. Pego a agenda e enfio no bolso da jaqueta e também deixando Tara para trás, sem chances de resposta; não sinto raiva do filho deles, é apenas uma criança no fim das contas, mas sua mãe? Não, não consigo deixar isso para trás e nem sei se um dia irei conseguir, para mim é uma ferida que nunca vai fechar, ainda arde e dói ao ser tocada e ali foi como se enfiasse o dedo dentro dela. Escuto passos atrás de mim e a voz feminina chamando por meu nome, agora ignoro e atrevesso a rua enquanto sigo em direção oposta de casa, não queria que ela soubesse onde eu morava. Vou direto para a boate onde não seria seguida.Não escutando mais seus passos e sua voz aproveito para desacelerar os meus, respirando fundo e entrando em meu local de trabalho, uma das garotas estranhou a minha chegada ali sendo que meu turno era só a noite. Mas não vou para o camarim logo de cara, aproveito o baixo movimento e vou para o bar pedindo um conhaque para o barman. Sinto uma presença atrás de mim e me preparando para xingar quem fosse, viro para trás, vendo que era apenas Jéssica abaixo a guarda. Jéssica era uma das poucas que morava ali, era uma garota humilde que veio do interior para tentar uma vida melhor na cidade grande, porém só recebeu paus e pedras das pessoas daqui, sua melhor opção foi na Madame X. Devo confessar que criei certa afeição por Jes e sorri sem mostrar os dentes para ela, deixando que se aproximasse de mim, a mesma acariciava minhas costas com ternura. Apenas reprimo meus lábios e abaixo a cabeça, merda, como eu odeio a maneira que aquele assunto me afetava, muito mais como deveria. Aliás, nem para os meus pais contei o que tinha acontecido e agredeço o fato deles nunca terem me pressionado para contar, ainda não tive coragem de pronunciar tudo aquilo em voz alta. Acho que nunca vou conseguir.                           

A Mulher Além do EspelhoWhere stories live. Discover now