34 - Sherlock

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          O barulho do trânsito e o sol que batia no rosto de Diego o fez acordar mais cedo do que imaginou. Olhou para o lado mesmo com o medo de não encontrá-la. Ela estava ali, dormindo toda esparramada pela cama. Ele a abraçou e beijou sua nuca, fazendo os fios de cabelo se eriçarem. O roçar da barba em seu pescoço a fez acordar. "Bom dia", disse ao se espreguiçar. "Maravilhoso dia", ele respondeu a arrastando para um abraço. Passaram uma hora em silêncio, apenas encarando um ao outro e trocando carinhos. Saíram de mãos dadas para tomar café. Voltaram de mãos dadas para o hotel.

          O sorriso que estampavam no dia anterior se desfazia conforme as horas passavam. Ele olhou o relógio e em duas horas e meia ele partiria, deixando seu coração para trás. Duda ficou sentada na cama e o observou arrumar a mala. Precisava respirar fundo e se concentrar para não chorar. Ele ergueu o olhar até o dela e isso foi o suficiente para que o nó na garganta chegasse. Os olhos dela estavam contidamente úmidos e ela sorriu para tentar disfarçar. Diego deixou a mochila de lado e avançou sobre Duda, colando seus lábios aos dela e tirando sua roupa. A beijou por inteiro, que retribuiu na mesma intensidade.

          Diferentemente do dia anterior quando tinham urgência em matar a saudade que os consumiam, agora os movimentos lentos preenchiam o vazio que um deixaria no outro. Não tinham pressa, queriam absorver cada gesto do outro. Guardar na memória todo suspiro. Seus olhos se cravaram nos dela e as lágrimas vieram instantaneamente. "Não vai", ela pediu. "Não quero ir", ele respondeu. Ela enterrou o rosto em seu pescoço e deixou as lágrimas correrem livres. Ficaram calados até o fim, apenas decifrando a tristeza no olhar do outro.

          Diego se sentou na beirada da cama e apoiou a cabeça nos cotovelos. Duda encaixou as pernas ao redor da cintura dele e o abraçou, encostando a cabeça em suas costas.

          Uma hora e meia. Ele levantou mesmo contra a vontade, precisava se arrumar. Entrou debaixo do chuveiro frio e deixou a água massagear seus ombros tensos. Tentou não demorar no banho. Voltou para o quarto e Duda estava debruçada na janela. Pegou o celular, colocou uma música e a puxou para dançar.

– O que você está fazendo?!

– Avenida Paulista, lembra?

          Ela fechou os olhos e encostou a cabeça em seu peito. Todas as lembranças daquele aquele ano passaram feito um filme por sua mente. Ele a abraçava forte. "Só sei dançar com você, isso é o que o amor faz", sussurrou em seu ouvido. A música terminou e eles continuaram abraçados no meio do quarto. Foram interrompidos pelo alarme do celular. Era hora de ir.

          A sensação de mariposas no estômago era recorrente nos dois. Ele pegou a mochila e colocou nas costas. Olhou ao redor do quarto e se despediu do lugar simples, mas que viveu as melhores vinte e quatro horas que era capaz de se lembrar. Ela evitava olhar para qualquer coisa que não fosse o chão. Fizeram o check-out e seguiram abraçados até o terminal.

          O embarque começou e o olhar de Duda transbordava todo o pânico que ela tanto escondeu deste momento. O fim que tanto temiam chegou. Ela sabia que precisava esquecê-lo, mas tinha medo que conseguisse. Ele tentava de todas as formas absorver cada pedacinho dela, para nunca se esquecer. Sua mente enfrentava uma batalha onde ninguém sairia vitorioso. De um lado Nicole, o bebê e uma vida sem amor, do outro, a pessoa com quem ele queria viver tudo isso indo embora de vez. Ele ficou de frente para ela e segurou suas mãos. "Du, olha pra mim...", pediu. Ela negou sem conseguir falar. "Du, por favor", soltou sua mão e segurou seu queixo. Ela o encarou, seus olhos estavam vermelhos de uma forma que ele nunca viu. As lágrimas surgiram.

– Eu não sei o que te dizer... Eu... eu vim te encontrar sabendo que era a última vez, só não estava preparado para isso.

– Nem eu.

ImperfeitosOnde histórias criam vida. Descubra agora