Carta 4: Coragem

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Respira..

Inspira..

Respira..

Chega!

Existem pessoas que acham que violência só caracteriza violência se ela for física mas e as agressões psicologicas?

Minha vida se tornou um verdadeiro inferno quando conheci Miguel, só o nome de anjo, aparentemente um rapaz bem educado mas maluco, doido, possessivo, doentio.. Preciso falar mais?

No início ele era gentil, um perfeito príncipe mas assim que aceitei seu pedido de namoro me mostrou quem realmente era.

Me proibiu de usar minhas blusas de super heróis, alguns vilões, short que não eram curtos, um palmo acima do joelho, não podia usar tênis ou os colares que meus amigos tinham me dado de presente de aniversário, não podia falar com meus amigos homens ou tocar violão.

Isso não é amor, é possessão, uma possessão tão doentia que quase me fez acabar com tudo.

Conheci ele através do Erick mas até agora Miguel só me fez mal.

Não aguento mais porém sei que não estou sozinha porque tenho uma amiga que luta por mim.

Chego no local combinado determinada a terminar tudo, minha mãe me criou para ser forte.

Vejo-o olhando para mim e mesmo com medo vou até o fim.

— Te chamei aqui para terminar tudo. — Suspira. — Todo esse tempo fiquei fazendo caridade mas não sou santo. Você é um lixo, feia, ridícula, ninguém nunca vai gostar de você. — Me olha de cima a baixo. — Realmente fiz um enorme favor.

Meus olhos estão nublados pelas lágrimas mas não vou chorar aqui. Não na frente dele.

— O único lixo aqui é você, não sou feia, sou linda pois mesmo fora da minha família tem quem me ame. — Respiro fundo pensando na melhor amiga que alguém pode ter. — Não quero que ninguém me ame como você, isso não é amor.. É doença.

— Ora sua.. — Levanta a mão para me bater.

— Bate, mas bate bem forte para deixar marcas. — Tento ser forte. — Violência contra a mulher é crime. Eu não sou dependente de você e nunca serei.

— Então morra sozinha. — Vai embora.

Nesse dia não fui para a escola, fui para casa tendo a certeza que estaria sozinha, passei o dia a base de sorvete, água e muitas lágrimas.

Nos dias que se seguiram Paola sempre ficou do meu lado e nunca desistiu de mim mesmo que eu entrasse em depressão, ela foi meu alicerce para dia após dia superar essa doença e as palavras cruéis que por vezes ainda fazem efeito em mim mesmo depois de anos.

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Oi, gostaria de deixar alguns pontos sobre está carta.

Primeiro: Não sou a favor da violência contra a mulher ou contra o homem.

Segundo: Falar "Desiste dele/dela" "Termina" não ajuda pois a pessoa tóxica do relacionamento faz um tipo de lavagem que suga todas as suas forças, ficar do lado da vítima mostrando apoio, que ela não está sozinha e pode contar com você na maioria das vezes é o melhor para a pessoa ter coragem.

Terceiro: Dói, cansa, da vontade de desistir mas você não está sozinha/sozinho.

Cartas para vocêWhere stories live. Discover now