Passado Esquecido (Completo)

Capítulo 23 (Vladimir)

Minha rotina aos poucos voltou a ser a mesma: monótona e sem sentido. Às vezes eu pensava em como tudo teria sido diferente se meu pai nunca tivesse me tirado de casa, se minha mãe nunca tivesse morrido por causa dele. Talvez eu conhecesse uma donzela que por ali passasse, me ofereceria para acompanhá-la, lhe daria uma rosa, e depois de um tempo, a pediria em casamento. Suspirei, isso nunca aconteceria.

Agora meu tempo se dividia entre resolver os problemas do escritório e ser o príncipe perfeito que todos queriam que eu fosse. Aquilo consumia minhas forças e minha alma, se é que eu tinha uma.

Eu não aguentava mais aquela vida. As lembranças dos meus erros sempre voltavam como navalhas na minha mente, cortando minhas entranhas e esmagando meu coração. Saber que magoei o amor da minha vida me machucava de tantas formas diferentes, que me fazia me sentir cada vez mais sozinho.

Imagino que foi com esse sentimento que eu tomei a decisão que mudaria tudo. Voltei para o castelo de meu pai, chamei todos os membros do conselho e líderes dos outros clãs, levantei-me, ficando de frente para todos, e anunciei minha renúncia ao trono.

Foi um pandemônio, ninguém esperava isso afinal.

— E quem vai assumir o Trono, garoto Drácula? – perguntou Luciu, um dos vampiros ali presente.

— Eu passo essa responsabilidade para a pessoa que eu mais confio, meu caro amigo, braço direito e conselheiro, Karan Cracium. – Virei-me para o meu amigo – Você aceita?

Meu amigo me encarou de forma séria, parecia pensar muito na sua decisão. Depois de alguns minutos, quando um silêncio espectral já tomava conta da sala, ele respirou fundo e respondeu:

— Eu aceito.

A discussão voltou com toda a força.

— Você não pode fazer isso, Vladimir. É o príncipe herdeiro! – Luvica exclamou.

— Não pode simplesmente ir embora! – Ronan, outro membro, também falou.

Chegou um momento em que não era possível saber o que cada pessoa falava, tamanho era o barulho. Foi quando eu simplesmente cansei.

— Basta! Eu não mudarei de ideia, já tomei minha decisão! – gritei, fazendo com que todos ficassem calados.

— E para onde você vai, garoto? Agora que não quer mais arcar com suas responsabilidades. – Eliezer perguntou, me encarando com um olhar maldoso.

— Isso só interessa a mim. Esta reunião acabou – respondi, saindo da sala logo em seguida, ignorando todas as respostas e gritos dos membros do conselho.

Alguns dias depois, a coroação aconteceu, onde eu renunciei oficialmente meu título de príncipe herdeiro, e passei para Karan. Agora, ele teria que se casar com uma vampira, para futuramente assumir o trono. Em nenhum momento me arrependi do que fiz, meu amigo nascera para essa função, era responsável e ético, faria um bom trabalho. Diferentemente de mim, que nunca quis aquilo. Depois da cerimônia, voltamos para o meu casarão, na Romênia real e humana. Meu amigo me acompanhava.

— Não vai levar nenhuma mala?

Neguei com a cabeça.

— Eu vou recomeçar, e quem sabe, algum dia conseguir o perdão dela.

Karan suspirou.

— Sentirei sua falta amigo, e imagino que minha irmã também.

Ri, lembrando-me de Kalina e das suas crises mimadas.

— Como ela está?

— Kalina melhorou bastante, desde que foi para aquele château na França. Soube até que conheceu uma pessoa por lá, que a está fazendo bem.

Sorri.

— É mesmo? E qual o nome do sortudo?

Karan riu.

— É ela, se chama Nicole.

O encarei, eu realmente não esperava por isso. Karan sorriu.

— Minha irmã é uma caixinha de surpresas, mas veja, eu a conheço desde que nasceu, então não estou tão surpreso quanto você.

Ri novamente.

— Estou surpreso, mas fico feliz por ela. Quem sabe algum dia eu não vá visitar as duas.

Meu amigo assentiu.

— Seria divertido.

Nós dois sorrimos, e logo em seguida, gargalhamos e nos abraçamos. Depois, me despedi e saí do casarão, indo em direção ao meu carro. Comecei a dirigir para Bucareste, onde eu pegaria um avião. Já estava na hora de eu ir em busca da minha felicidade, e eu só a encontraria em um lugar: no Brasil.