Capítulo 25 (Cecília)

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Depois que terminei de me arrumar, fui em direção a cozinha para fazer companhia para minha tia. Sentei-me na mesa de quatro cadeiras, e fiquei observando sua agilidade ao mexer as panelas fumegantes no fogão. Seu cabelo crespo estava escondido por uma touca, e era possível ver o suor escorrendo pela pele escura de Dona Márcia. Sorri. Apesar do calor que ela deveria sentir, seu amor por cozinhar falava mais alto.

Minha tia virou-se para mim, e abriu a boca para falar algo. Porém, no mesmo momento ouvimos o barulho do portão se abrindo, e poucos minutos depois, Beatriz entrou pela porta da cozinha. Me levantei da cadeira. A primeira coisa que minha prima fez ao me ver foi me olhar de cima a baixo, e admito, acabei por fazer o mesmo. Éramos diferentes em todos os aspectos. Enquanto minha prima era bem parecida com a mãe, com a pele escura, os olhos caramelo e o cabelo cor de ébano, que estava arrumado em diversas tranças que iam até sua cintura, eu era o oposto, com minha pele mais branca que papel, meus olhos castanho-escuros e meu cabelo cacheado. Depois de nossa pequena análise, eu murmurei um "oi" para ela. Bia simplesmente levantou uma sobrancelha, sorriu maliciosamente e subiu para o seu quarto.

— Não ligue para ela, Cecília. Sua prima sempre foi difícil.

"E coloca difícil nisso", pensei, voltando a me sentar de frente a mesa. Ficamos mais alguns minutos em silêncio, até minha tia virar-se para mim com um prato cheio de arroz, feijão, frango grelhado e batatas assadas na manteiga.

— Não precisava me servir, tia, já sou adulta.

Dona Márcia riu.

— Deixa disso, menina. Só quero que você se sinta novamente em casa. Foi muito complicado ficar longe de você – ela murmurou, e eu percebi um toque triste em sua voz. - De qualquer forma, termine logo, quero te mostrar algo que encontrei.

Obedeci, e comecei a me deliciar com a comida quente e gostosa. Quando terminei, quase pedi para repetir, como quando era pequena, mas minha curiosidade sobre o que minha tia queria me mostrar falou mais alto. Me levantei da mesa e coloquei o prato vazio na pia. Depois disso, virei-me para Dona Márcia. Ela sorriu ao ver que comi tudo. Quando eu era mais nova, vivia recebendo broncas por ser tão magra, tanto minha tia quanto minha avó adoravam me dar guloseimas e outras comidas até eu não aguentar mais comer.

Sorri ao me lembrar disso, e comecei a seguir minha tia, que já ia em direção ao seu quarto. Quando chegamos lá, sentei-me na beirada de sua cama, e esperei, enquanto ela procurava em seu armário alguma coisa.

— Achei! - ela exclamou, depois de algum tempo, e saiu do armário com uma caixa nas mãos.

Dona Márcia me entregou a caixa de madeira, cheia de pedras incrustadas, que era mais pesada do que parecia. Eu a abri, e de súbito, perdi o ar. Ela estava cheia de fotografias antigas. Peguei uma, a primeira da pilha, e a aproximei mais de meus olhos para ver melhor. Na fotografia, havia uma mulher jovem, com um bebê no colo, juntamente a um homem um pouco mais velho que ela. Eles estavam sorrindo, e ao fundo, era possível ver um grande castelo marrom.

— Essa é a sua mãe Elizabeth, como você bem sabe, e ela está segurando você no colo. E esse é o seu pai.

— Achei que não houvessem fotos do meu pai. A senhora me disse que ele abandonou minha mãe quando descobriu que ela estava grávida.

Minha tia negou com a cabeça, com um olhar triste.

— Você não sabe de toda a história, minha menina. Depois que Beth voltou da viagem da Romênia e descobriu que estava grávida, ela contou para Dimitri, que a convidou para morar em seu castelo. Então sua mãe foi, e a criou lá. Porém, alguns anos depois, quando ela faleceu, seu pai a deixou comigo, disse que seria melhor para você ser criada pela família dela, do que pela dele. Ele disse que não seria seguro. Você só tinha 2 anos, então aceitei a responsabilidade.

Passado Esquecido (Completo)Where stories live. Discover now