Do fundo do mar

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Essa mensagem foi encontrada dentro de uma garrafa, boiando próximo a uma famosa praia em Pernambuco.


Caros viajantes,

Aqui é um naufrago, que por incrível que pareça, não deseja ser encontrado nesse momento. Mesmo que um navio ou uma embarcação passe perto da ilha onde estou, irei me esconder atrás de alguma árvore, pelo menos por enquanto, até esse sensação pós-traumática se estabilizar. Não posso correr o risco de ser encontrado. Não quero tentar fugir e me perder no oceano. Saí daquele lugar imundo e hoje minha esposa está morta. Nossa família deve estar desesperada achando que o pior aconteceu, o que em parte é verdade. Ninguém esperaria um casal desaparecer em Lua de Mel.

Sempre fui crente que coisas terríveis nos rondam no cotidiano. E nos últimos dias, ouvi relatos que não era o único com essa crença. Escutei histórias de um homem que enlouqueceu após ficar preso em uma caverna; De seres que só eram vistos à noite em uma floresta no interior de Minas; De eventos bizarros que levaram uma cidade do Sul a um incêndio que a destruiu e supostamente matou todos os moradores, mesmo com sinais de assassinatos pelas ruas e telhados.

Coisas essas que nos espreitam enquanto passamos a noite em lugares desolados, que ficam nas estradas esperando carros quebrarem tarde da noite e sumirem com os corpos para sempre. Se escondendo nas areias do deserto, à espera que algum viajante fique cansado o bastante para não mais poder correr. Mas nunca pensei que viria algo assim tão de perto. E onde eu menos esperava, no mar.

Pensando bem, hoje isso faz todo o sentido. Que ambiente mais adequado para abrigar coisas repugnantes senão o mar? Onde mais os seres repulsivos que espreitam barcos e embarcações poderiam esperar suas vítimas? O quanto dos oceanos ainda desprezamos e desconhecemos. O Pacífico é um poço de mistérios, e quem navega por lá com certeza não tem noção do que habita sob as ondas. Aquilo que é horrível demais para ser visto. E pensar que foi à beira mar que sugeri passar meus últimos dias ao lado dela.

Era o final de Fevereiro quando viajamos. Após nosso casamento decidimos passar a lua de mel em uma das praias de Pernambuco; fomos de carro e ficamos numa pousada próximo ao mar. Muito recatado e difícil de chegar, mas o local era realmente impressionante: águas calmas, areias quase brancas, tudo em perfeita harmonia. Se não fosse por relatos de suicídios e surtos psicóticos que levavam os moradores a se jogarem das pedras, seria um dos locais mais bonitos do Brasil.

Não era uma dessas praias onde ferve de gente o ano inteiro. Como estávamos poucos dias depois do carnaval, ainda haviam turistas, e estes cercavam as nativas o dia inteiro. Mas estava tudo calmo, a maré era baixa no início do dia, enchia nas primeiras horas da tarde e voltava a recuar à noite. E a penumbra noturna, trazia a beleza do espaço e a solidão da lua. Era uma comunidade bem desenvolvida, cheia de histórias e de lendas. Histórias capazes de fazer qualquer um dar meia volta e se esconder em casa se levadas a sério. Mas acreditava ser apenas contos.

As lendas no geral se resumiam a fábulas contadas por qualquer pescador; e o mais famoso dele era um velho louco que sempre ficava à beira mar, Osvaldo. Ninguém levava a sério suas histórias, mas suas narrativas eram de arrepiar. No geral ele falava sobre encontros com uma rainha dos mares, que diferente da beleza que é retratada por alguns, ele a descrevia como alguém perversa e cruel que costumava devorar os banhistas vivos quando emergia do oceano. E sempre estava cercada por seus guardiões, criaturas colossais que viviam no fundo do mar sob suas ordens. Também sussurrava sobre as sereias sendo criaturas fantásticas e apavorantes; seres amorfos e distorcidos nunca vistos e uma lenda mais antiga sobre um demônio, que ele chamava de "Titã Peixe-Diabo".

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⏰ Terakhir diperbarui: Sep 26, 2019 ⏰

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