A Garota - 12

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Eu acordo realmente, sem tontura ou enjoo, lá pelas duas da manhã e me sinto tão cansada que nem me permito falar nada.
Valentina e mamãe estão no quarto, mas estão cochilando – uma ao meu lado e a outra sentada com a cabeça escorada na parede.

Meus dois anjos.

Mexo meus dedos devagarzinho e me ajeito na cama, porém, mesmo que eu tente, apenas um pensamento vai e vem na minha mente: Ruggero.
Enquanto estava parcialmente inconsciente eu o ouvi me chamar de amor. Sim, ele chamou, mas eu jamais teria como provar, pois foi apenas um fiapo de voz que o vento levou.

Entretanto, meu cérebro guardou isso.

Mas eu não consigo entender. Ele disse que não podia me beijar, possivelmente por já ter outra pessoa, então porque ele disse aquilo?

Volto então à minha doença e lembro que o doutor Pietro, enquanto me examinava, dizia que eu precisava fazer novos exames, pois pelo barulho nos meus pulmões, a coisa não estava nada boa.

Meu tempo está se esgotando.

Observo a chuva bater contra a janela fechada do meu quarto e escuto um trovão espocar no céu.
A noite está revolta, quase como se refletisse o sentimento pesado que carrego no peito. Apesar de feliz por não ter sido dessa vez que passei dessa para melhor, me sinto mal por Ruggero, por nós dois, por todo esse redemoinho de sentimentos que estamos vivendo, mas que não irá parar em lugar nenhum.

Estamos andando em círculos.

Depois de muito tempo tentando adormecer de novo, olho o meu relógio na cômoda e constato que são quase quatro da manhã e eu, definitivamente, não irei dormir mais, mas pelo menos me sinto mais forte e capaz de pelo menos levantar para ir até o banheiro.

Consigo descer da cama sem acordar mamãe e Valu e, na ponta dos pés – ou pelo menos quase – dou a volta na minha cama e, quando estou passando pela janela, olho de relance para fora e o reflexo de algo me atinge e me faz apertar os olhos.
Quase como se fosse um espelho ou algo parecido que está refletindo a claridade dos relâmpagos que não param de clarear o ambiente e o céu.

Me aproximo mais do vidro da janela e esfrego o pulso para limpar um pouco as manchas causadas pela minha respiração no mesmo, depois forço a visão o máximo que consigo e, constato de imediato, que conheço aquela jaqueta de couro preta e aquele rapaz que está sentado no meio-fio, embaixo daquela chuva.

Ruggero.

Ruggero está bem embaixo da janela do meu quarto.

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Mesmo devagar, consigo descer a escada e uso a lanterna do celular para me guiar, já que não tenho tempo de procurar os interruptores.
No hall de entrada, apanho o casaco do tio Otávio e outro casaco qualquer que não consigo identificar de quem é, mas que cabe em mim e isso é o que importa.

Abro a porta abruptamente e o vento gelado açoita meu rosto e empurra meus cabelos para trás. Respiro fundo antes de sair para a varanda e estreito os olhos para enxergar Ruggero por entre a cortina de água que cai violentamente.

− Ruggero! – Chamo. – Ruggero!

Espero alguns segundos com o queixo batendo de tanto frio e me desespero ao pensar na pneumonia que Rugge irá pegar por levar essa chuva toda.
Eu já vou morrer mesmo, mas ele... Ele tem muito o que viver ainda.

− RUGGE! – Grito com todas as forças que tenho e, quando estou prestes a sair no meio daquele temporal para ir buscar ele, vejo a silhueta ensopada do rapaz que comanda meus pensamentos.

A Garota da Sala ao Lado [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora