A Garota - 16

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Eu ainda estava sentada no canto da parede do meu quarto quando o sol começou a nascer e os raios solares entraram gentilmente pela janela aberta e escorregaram pelo carpete até a pontinha dos meus dedos.

Meus olhos pesados denunciavam uma noite inteira de choro intenso, eles mal conseguiam focar na claridade e me demorei para finalmente conseguir entender que era melhor tomar um banho e tentar me acalmar completamente.
Não há mais lágrimas, a pele do meu rosto já está endurecida das que secaram e meus lábios ressecados são um pedido mudo do meu corpo por água.

Como se já não houvesse o bastante de água dentro de mim...

A minha dor, eu tinha percebido, havia se tornado palpável, ela fazia o ar pesar ao meu redor e fazia também todo meu corpo doer; era difícil aceitar que amar doía tanto. Eu estava adoentada.

Levanto meu corpo febril do chão e contorno a cama evitando esbarrar na luz solar que teima em ocupar boa parte do quarto; vou até meu armário e apanho uma roupa qualquer, depois pego uma calcinha e sigo para o banheiro.

Enquanto realizo todo o ritual do banho mecanicamente, as cenas da noite interior passam pela minha cabeça uma a uma, as rebobino, as ouço em áudio topado, logo depois passo tudo em câmera lenta, revivo cada pensamento e depois estremeço só de saber que se eu não tivesse ido ao jantar, ainda estaria sendo enganada.

Cansada de tudo, pesco meu roupão e visto-o, mas quando abro o box, congelo.

Não pode ser.

− O que está fazendo aqui?! – Guincho.

Ruggero fecha a porta do banheiro silenciosamente e estende as mãos me pedindo calma.

− Só me escuta, por favor!

Dou um nó no meu roupão com força sentindo meu rosto enrubescer ao me dar conta que ele quase tinha me visto completamente nua.

− Como entrou no meu quarto? Eu quero que saia agora!

Ele ainda está usando a roupa da noite passada e seus olhos estão igualmente vermelhos e inchados, sem contar que no canto de sua boca repousa uma mancha roxa e um leve inchaço.

− A janela estava aberta. – Explica. – Eu não quero te incomodar mais...

− Mas está incomodando.

− Eu sei, eu sei, eu sei... – Ruggero suspira, mas o desespero o está fazendo tremer. – Eu só quero que me ouça. Eu juro que se você quiser, depois, eu sumo.

Cruzo os braços enquanto saio de dentro do box; sinto a água do meu cabelo escorrer pelo meu pescoço e se juntar ao resto da água do meu corpo, elas descem e formam uma poça embaixo dos meus pés. Mas isso é a menor das minhas preocupações.

O cheiro de Ruggero impregna o ambiente e, nem se eu quisesse, conseguiria sair.
Uma parte minha precisa ouvir as explicações.

− Fala. – Digo, secamente. – Fala logo.

Ruggero solta o ar devagar pela boca e seu corpo se escora na porta fechada. Os olhos dele viajam pelo meu corpo e estacionam nos meus, como se buscasse por algo.

− Eu sei que eu errei. Eu sei. Fui um babaca estúpido, agi como uma criança. Fui imaturo, me deixei levar por um desafio ridículo e, pior ainda, machuquei a única pessoa que nunca mereceu algo assim. – Ele diz num fôlego só. – Mas eu ia te contar tudo. Ia te contar que na verdade meu pai é um político e que eu não sou bolsista, nem trabalho na estufa; na verdade, aquela estufa era da minha mãe... Karol, por favor, eu juro que ia contar, mas eu tinha tanto, tanto medo.

A Garota da Sala ao Lado [Concluída]Kde žijí příběhy. Začni objevovat