Capítulo UM

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ACABOU

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ACABOU

É A ÚNICA PALAVRA que eu ouço em meio ao turbilhão de pensamentos dentro da minha cabeça e vozes fora dela. Pisco uma, duas, três vezes até entender que meu noivo (ou ex-noivo) fala sério. Acabou.

Acabou o noivado de dois anos. Acabou o planejamento minucioso para o meu grande dia, com o qual eu sonho desde os dez anos de idade. Acabou vestido dos sonhos, casa dos sonhos, lua-de-mel dos sonhos. Os três filhos que planejei e que pasme, já até escolhi os nomes. O buldogue francês que eu sempre quis ter. O jardim.

Acabou tudo. Tudo o que eu quis ter com ele.

— Harper... Harper? – pisco mais uma vez e vejo meu noivo... ex-noivo, sei lá, me olhando como se tivesse pena, e não há nada que eu odeie mais no mundo do que esse sentimento. Direcionado para mim então, é a morte. Se eu pudesse, faria com que todas as lágrimas que sinto rolando pelas bochechas voltassem para dentro dos meus olhos, para que ele nunca pudesse vê-las. Eu me sinto humilhada demais nesse momento — Você me ouviu?

Dou uma risadinha de deboche, porque é a única coisa que me resta nesse momento. Se acabou a dignidade, fazer uso da ironia é a melhor alternativa possível agora.

— Claro que eu te ouvi. Você está me chutando. Acredite, ficou bem claro — abandonada sim, burra jamais.

Ele revira os olhos.

— Está vendo? É por isso que isso não dá mais certo. Você faz um drama atrás do outro, sempre, sobre absolutamente tudo. Fora que a gente não tem mais tempo de se ver, tipo, nunca, Harper! Você está sempre estudando, ou no hospital, ou em mais um curso louco e... – eu o interrompo, com o ódio tilintando nos olhos. De tudo o que ele me falou até agora, isso foi o que mais me doeu. Falar do que eu escolhi me tornar é demais para mim. Quem é esse babaca sentado na minha frente, e o que ele fez com meu noivo perfeito?

— Curso louco? Dylan, seu filho de uma puta desgraçado — perco a compostura, afinal, é a única coisa que falta eu perder mesmo a essa altura do campeonato — Eu quero ser médica! Não é "qualquer curso louco", são atividades extracurriculares que eu fiz para ser aceita no curso de medicina, e que eu continuo fazendo para ter um diferencial. Eu me empenho, estudo como uma insana, apenas porque eu quero ser boa no que eu faço... Você sempre disse que eu era brilhante, porra! – sibilo, cheia de ódio, mal me reconhecendo e algumas mesas ao redor olham para nós, fazendo Dylan se encolher em sua cadeira. Ele sempre odiou escândalos.

Ótimo, eu estou prestes a fazer um. Será minha pequenina vingança pelo que ele está me fazendo passar nesse momento.

— Eu entendo, Harper. E eu te acho brilhante. Nunca menti sobre isso – pela primeira vez seus olhos denotam um pouquinho de tristeza, e eu quase imploro para ele parar com isso. Porém, antes que eu engula meu orgulho e morra sufocada com ele, Dylan continua seu discurso pé na bunda — Mas eu acho que não funciona mais. A gente quase não se vê... – ele se debruça sobre a mesa, para falar ainda mais baixo — A gente quase nunca transa. E quando acontece, você está sempre cansada, é sempre de qualquer jeito. Às vezes eu sinto que você sequer tá participando. Eu tenho medo de que você durma na hora, qualquer dia, porra! — ele passa as mãos pelos olhos, irritado, como se pensasse em um golpe final. E ele veio, com força total —Parece que o fogo acabou, e eu sou homem, Harper. Preciso disso.

— Você está me chamando de frígida? – eu cuspo as palavras, sentindo a faca ser cravada em meu peito. Tudo bem, eu até posso concordar que as coisas andam mais difíceis ultimamente. Eu não tenho mais tanto animo, e quase nunca mais uso as lingeries indecentes que ele sempre gostou... mas poxa, ainda sou eu! É só uma fase. Se eu estou me matando, me esforçando, é por nós dois. Pelo nosso futuro.

O silêncio em seguida das minhas palavras tem um efeito arrasador em minha autoconfiança que já estava bem merda nos últimos dias, e quando Dylan dá de ombros, eu entendo. Eu realmente entendo. Ele me chamou mesmo de frígida porque é isso que ele acha.

Ele não me quer mais.

Fico apavorada ao perceber que estou à beira das lágrimas. Levanto da cadeira de uma vez, causando um baque forte na madeira. Um copo balança, quase caindo, mas Dylan é mais rápido e o segura, evitando o estrago. Recuso-me a chorar aqui, na frente dele, na frente de todo o restaurante, que praticamente parou para ver o showzinho grátis que estamos dando. Pisco repetidamente na tentativa de afastar as lágrimas iminentes, e enquanto puxo o ar pelo nariz para me dar mais tempo para segurá-las, tiro uma nota de cem e jogo no meio da mesa, pagando minha parte. Eu não vou ficar aqui mais nenhum minuto, ouvindo coisas que eu não mereco. Porque ele tem todo o direito de não querer mais esse relacionamento, e eu concordo com isso. Concordo que as pessoas devem ser livres e que eu preciso respeitar suas decisões, mesmo que isso me mate por dentro. A única coisa que eu não posso compreender é o fato dele achar que me engana com esse papinho. Ele não me ama mais, e isso é muito óbvio. Ninguém larga de alguém que ama por causa de uma fase. Então porque ele simplesmente não diz?

— Se é assim que você quer, tudo bem. Acabou – eu digo, indisposta a lutar. Eu não vou pedir por algo que ele não quer mais, porque sou maior que isso — Vou deixar suas coisas que estão no meu apartamento com o porteiro. Pode passar amanhã para buscar.

— Harper, não é assim. Pelo menos termina o almoço. Nós podemos ser...

Ergo o dedo indicador, fechando os olhos e ele entende que não precisa nem terminar essa frase ridícula de merda.

—Vai se foder, Dylan — enfio o dedo indicador no meio da sua cara, deixando claro que não existe a mínima possibilidade de eu aceitar uma coisa dessas.

— Você nem me deixou falar —ele ergue as mãos em protesto como se estivesse em posição de reclamar alguma coisa, mas novamente, eu o detenho.

— Não, nós não podemos ser amigos. Não era isso que você ia me dizer? Então a resposta é essa: nós não vamos ser nada, absolutamente nada.

Ele franze os olhos, como se realmente estivesse surpreso. Eu que sempre fora a boneca educada e perfeitinha, estava tendo meu momento de fúria. Estava falando o que queria falar e me impondo, talvez pela primeira vez na minha vida inteirinha.

— Por quê? – a sua pergunta sai quase indignada, e eu juro que quero bater nele com muita, muita força. Como eu nunca quis bater em nada e em ninguém na minha vida.

— Porque nem fodendo eu vou ser amiga de alguém que eu amo... E se você é capaz assim tão fácil de virar meu amigo, bom, nós já temos a resposta.

Antes que ele fale qualquer coisa, viro minhas costas e saio rebolando, com a cabeça erguida, em cima do salto, exatamente como meu pai me ensinou. Exatamente como uma Elliot faz.

Posso estar com o orgulho ferido, mas não vou deixar esse babaca pisar em mim e se vangloriar por isso. Para tanto, afasto-me o suficiente para ter certeza de que ele não está mais olhando, antes de finalmente deixar todas as lágrimas que eu estou segurando virem à tona. 

Uau, mal começamos o livro e nossa mocinha já foi decepcionada =(

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Uau, mal começamos o livro e nossa mocinha já foi decepcionada =(

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Entre os dois - Amor à troisOnde as histórias ganham vida. Descobre agora