queime a psicose

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NA NOITE EM QUE ELIZE PRESCOTT NÃO MORREU
(Aviso de gatilho: estupro e violência)

Elize desceu as escadas o mais rápido que conseguiu. Não se lembrava de ter tirado os saltos, mas estava descalça. O chão da mansão a recebeu com frieza e hostilidade, quase como se quisesse fazê-la parar. O tremor em seu corpo, dos pés às pontas dos dedos, era inteiramente emocional. Cada degrau lhe causava tontura, ânsia e uma vontade absurda de gritar. Não entendia o que estava acontecendo. Nunca havia se sentido assim. Era horrível.

— Srta. Prescott, está tudo bem?

Ignorou a preocupação de um dos empregados limpando o salão e seguiu para o lado de fora. Não conseguiria falar sem chorar como uma criança assustada, ou pior: como uma garota sem dignidade. Não havia derramado lágrimas por relacionamentos antes e não começaria agora. Scott fora o seu primeiro coração partido. Seu primeiro teste de sanidade. Podia aguentar um pouco mais.

As luzes do seu quarto estavam apagadas quando Elize saiu da mansão e olhou para a janela do segundo andar. Ou Scott estava parado imóvel lá dentro, ou havia corrido atrás dela. Não sabia qual opção a assustava mais. Odiava confrontá-lo quase tanto quanto odiava a ideia de ser odiada por ele. Talvez devesse ter recusado o presente de Derek. Onde estava com a cabeça? Aceitar um casaco de pele de milhares de dólares de um cara que não era seu namorado? Não pareceu grande coisa no momento, mas pensando sobre aquilo na perspectiva de Scott conseguia entender o lado dele.

Como era burra. Garota burra! Scott tinha razão. Ele sempre tinha. Agora, talvez, nunca mais conseguisse o seu perdão. Elize havia perdido a única coisa que tivera de bom na vida; a única pessoa que a amara. Nem os seus pais a toleravam como Scott fazia. Todo mundo só torcia para ela sorrir e ser perfeita, assim não precisavam lidar com a verdadeira Elize. A garota ruiva, cruel e bonita que não tinha a empatia de ninguém havia conseguido conquistar o amor de uma única pessoa, e agora nem aquilo tinha mais.

Um arrepio subiu pelas costas de Elize e a acordou dos seus pensamentos. Soube que se tratava de Scott antes mesmo de ouvir a porta da mansão bater. Foi como uma rachadura no tecido da realidade. A frágil bolha na qual Elize havia entrado para se castigar estourou, trazendo a visão de um Scott muito determinado a acabar com qualquer autopiedade dentro dela. Como um cão bravo ele chegou bem perto de Elize e apontou o dedo na altura de seu nariz. O rosto vermelho e as veias saltando no pescoço o faziam parecer uma bomba. E explodiria a qualquer momento.

— Entra no carro. Agora.

Elize olhou para o plano de fuga deles: parado no meio da noite como uma opção ruim. A porta estava aberta e a chave na ignição, tudo pronto para que partissem.

Estremeceu.

Queria o perdão de Scott. Queria ser amada por ele. O que não queria era fugir sem rumo algum para longe.

— Eu não quero ir.

Lágrimas começaram a escorrer pelo seu belo rosto. Manchou o rímel e passou pelo batom vermelho. A apavorava pensar em ficar naquele carro com Scott. Ele estava muito puto e muito bêbado. Nem Deus poderia saber do que era capaz.

Ele era capaz de muita coisa. Principalmente quando ficava com raiva e se sentia traído ou abandoando. Scott odiava a ideia de Elize preferir ficar a ir com ele.

— Você não tem escolha. Sou o único que te ama. Sou tudo o que você tem. Acha que Derek vai te querer depois do que viu? Ele já sabe que você não vale nada, Elize. Sabe que você é uma porra de uma garota mimada e superficial. Eu sou a única pessoa nesse mundo que consegue suportar esse seu jeito, e sabe disso. Quem mais aguentaria toda a merda que você faz? A porra das mentiras, das traições. Você é bonita, mas só isso. Não passa de uma boa foda. Mas não para mim. Eu vejo você, eu amo você. Vem comigo. É sua única opção. E a melhor também.

Queime Tudo (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora