▪12

1.4K 129 13
                                    

O carro foi estacionado na garagem, os assuntos bobos que puxaram na estrada silenciaram-se assim como a música baixa que tocava no rádio. Ambos desceram e entraram no apartamento simples do Jeon mais novo. Yoongi deu uma boa olhada no lugar onde seu irmão vivia sozinho, seus olhos curiosos captavam os pequenos detalhes que lhe contavam coisas que, nesse tempo distante, não sabia sobre o outro, mas não teve muito tempo para isso.

Jungkook segurou sua mão e o levou para o sofá, então dedicou sua atenção inteira a ele a partir daquele momento. Tinha tanta coisa a lhe dizer e mesmo assim não sabia exatamente por onde começar e a realidade é que não estava 100% livre de seus medos, porém estava decidido a não fugir mais.

— Estou te ouvindo. — foi incentivado tanto pela fala quanto pelo aproximar sorrateiro do irmão, que encostou a coxa na sua e segurou sua mão.

Respirou fundo e encarou Jungkook nos olhos. Talvez soubesse bem por onde devia começar, sendo sincero com seus sentimentos, com tudo do que fugiu todo esse tempo.

— Sei que somos irmãos — começou, inseguro. —, na verdade, isso me torturou por um longo tempo, mas isso não impediu que esses sentimentos crescessem dentro de mim... Você sabe que eu amo você, Jungkookie, e também sabe que fugir não deu certo como imaginei. — riu sem jeito e encaixou a mão na de Jungkook. — Eu ainda tenho medo, mas eu quero ficar com você. Eu sempre soube que não podia fugir para sempre e tudo começou a perder o sentido. Eu afastei tudo e de nada adiantou, até mesmo vir a Busan era assustador para mim, porque eu sabia que, estando perto, seria inevitável. Esses momentos que tivemos... Pode achar que não, mas o meu coração sempre cede muito fácil a você e parece que o universo está sempre conspirando para nos manter juntos, especialmente hoje, ou eu só realmente cheguei no meu limite. Eu nunca pude negar meu amor por você, mas eu o evitei e agora eu só quero experimentar isso.

E pela primeira vez se permitiu pensar de uma forma diferente sobre o conforto que sentia ao lado de seu irmão, livre de culpa, de se ver como uma abominação. Só queria apreciar aquilo sem se autocriticar por isso, acabar com seu sofrimento e com o do mais novo, que já tinha um sorriso riscado na face.

— E o que isso quer dizer? Que você desistiu de tentar fugir?

O mais velho inclinou a cabeça levemente, assentindo.

— Eu sei que fugi. — retornou a falar. — E te fiz mal, mas agora eu estou pronto. Podemos começar de novo... Reescrever nossos destinos.

Yoongi renegava aquele destino que lhe fora imposto, renegava o sangue que o unia de forma injusta ao amado, renegava qualquer motivo que o impedisse de ser dele, pois nenhuma proibição, nenhuma moral, nenhuma condenação eterna poderia ser mais dolorosa ou tenebrosa que aquela distância que se auto impôs de Jungkook. Vivia como metade e estava cansado! Então...

E daí? E daí? E daí!?

E daí se aquele amor era tido como imoral? E daí se enfrentariam a revolta dos homens ou dos deuses? E daí se diziam que, ao tocá-lo, para o inferno o enviaria?

Preferia ser condenado ao inferno por segundos, míseros segundos, nos braços de quem amava, que uma vida longa em extrema desgraça sem o ter. Então, sim, reescreveria o destino, ou melhor, escolheria o destino que queria, que o faria feliz.

Já o mais novo não conseguia conter a sensação de euforia que tomava cada partícula do seu corpo, de sua alma. Esperou tanto, chorou tanto, mas passaria tudo aquilo de novo, pois agora o teria para si. Suas mãos não conseguiam ser contidas, tocava-lhe a face e dedilhava cada traço como uma obra de arte, pois daquela boca pequena e rosada saiu a sentença de absolvição do inferno que viveu durante os cinco anos de distância. Saiu a permissão para se reconectar, através do tato, com a sua outra metade.

ReminiscênciaWhere stories live. Discover now