Bem vinda ao meu ninho

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  Assim que cheguei em casa notei tudo escuro. Não ouvi nenhum barulho, nem mesmo dos cachorros. Destranquei a porta com a minha chave e acendi as luzes, vendo que estava tudo vazio. Gritei minha mãe mas ninguém respondeu, e procurando pela casa encontrei um bilhete na geladeira.

"Viajamos"

  Sério? Eles haviam viajado sem nem me contar?  E era isso que eu recebia, um bilhete com uma única palavra? Sinceramente, pais em sã consciência não fariam isso, mas eu não tinha certeza se os meus estavam em sã consciência, e isso era sempre. Peguei o celular e enviei uma mensagem para minha mãe.

"Voltam quando?"
Quinta-feira, 18:44

  Aproveitei que estava com o celular na mão para mandar mensagem para Catarina.

"Aparentemente meus pais e meu irmão viajaram e me abandonaram aqui, vai querer fazer o que?"
Quinta-feira, 18:45

  "Júlio saiu de novo, mas a Gi tá comigo, ou você vem pra cá ou nós duas vamos aí"
Quinta-feira, 18:45

"O que você achar melhor..."
Quinta-feira, 18:45

"Melhor irmos aí, então, não sei se ele vai dormir fora"
Quinta-feira, 18:46

"Pode vir, a porta e o portão estão abertos, só entrar, estaciona o carro na garagem"
Quinta-feira, 18:46

"Vou tomar um banho enquanto isso, beijos"
Quinta-feira-18:46

  Levei o celular comigo para o banheiro e coloquei uma playlist para tocar enquanto me banhava. A música estava um pouco alta, e eu só percebi depois de Catarina me flagrar passando condicionador no cabelo e cantando Toxic.

- Boa noite, cantora. - Ela disse com o rosto no vão da porta.
- Amor! Bate na porta antes de entrar.
- A porta tava entreaberta. - Ela riu.
- Eu me assustei. A Gi veio?
- Veio, sentou no seu sofá, tem problema?
- Não, né. Já tô terminando, pode ligar a TV se quiser.
- Ta bom... Ah, e a propósito, não sabia que você cantava bem - Ela sorriu e saiu, deixando-me no banheiro sorrindo feito boba.

  Ao sair do banho, coloquei um pijama e fui até a sala onde as duas estavam, encontrando-as assistindo novela.

- Amo... - Lembrei que Gisele estava ali e que não seria comum para ela escutar-me chamando sua mãe de amor - Catarina, coloca um desenho pra ela.
- Ela já assistiu muito desenho hoje.
- Assistiu nada, ela foi pra aula, né Gi? - A garota assentiu com a cabeça com um sorrisinho fofo no rosto - Coloca na Netflix aí vai.
- Você quer ver desenho também né? 16 anos nas costas...

  Dei risada empurrando-a com o corpo para sentar-me ao seu lado. Ela me passou o controle e eu procurei desenhos para assistirmos. Gisele escolheu um de um cavalo
que, pra falar a verdade, eu não prestei atenção porque Catarina ficava o tempo todo me desconcentrando sem nem sequer me beijar, mas Gi não parava de comentar sobre tudo que acontecia em Spirit. No meio do filme peguei bolacha e fiz uma pipoca de microondas para comermos acompanhadas de um suco de caju. Foi praticamente uma sessão cinema em... família?!

  Ao terminar o filme, notamos que Gisele estava quieta demais, e então percebemos que ela estava dormindo.

- Tadinha, vou levar ela pra cama.
- Ela é pesada, amor. Deixa ela aí, seu sofá é confortável.
- Não tanto quanto uma cama, eu já peguei ela no colo antes amor, relaxa.

  Peguei-a no colo e levei até o quarto do meu irmão. Acomodei-a gentilmente e joguei uma coberta sob suas pernas para que ela não sentisse frio. Fiquei alguns segundos parada na porta observando-a, ela parecia um anjinho. Geralmente eu não costumava gostar de crianças, mas Gisele era uma excessão, ela não me incomodava. Catarina chegou pelas minhas costas e me abraçou pela cintura, colocando o queixo em meu ombro esquerdo e balançando-nos de um lado para o outro.

- Tá admirando minha obra de arte? - Ela sussurou.
- Talvez um pouco...
- Tá vendo, tudo que eu faço é bem feito.

  Tampei a boca com a mão para não fazer barulho de risos, e ela escondeu o rosto em meu pescoço.

- Onde fica o seu quarto? - Disse Catarina me dando um leve beijo no ombro.
- No fim do corredor. Desligou a TV?
- Uhum.

  Levei-a até o meu quarto com o seu corpo ainda colado em minhas costas.

- Bem vinda ao meu ninho!
- Você tem TV no quarto.
- Sim, é meu ninho - Brinquei.
- Que ninho chique você tem.

Liguei minha TV e deixei aberto na Netflix para que, dessa vez, Catarina pudesse escolher o que quisesse enquanto eu arrumava a cama para deitarmos. Me aconcheguei do meu lado da cama e deitei minha cabeça em seu ombro. Ela havia colocado o filme Carol, que eu já havia assistido, mas ela não, então resolvi que iria ver novamente com ela. Dava vontade de fazer como no filme... Fugirmos juntas, deixar Júlio para trás. Mas assim como a protagonista, Catarina também tinha medo de perder a filha para o marido, já que ela gostava tanto do pai.

  Aquele momento era reconfortante. Nós não estávamos transando nem nada, só estávamos juntas, uma fazendo companhia para a outra, assistindo um belo filme de romance. Se me perguntassem há alguns meses, eu diria que isso seria impossível. Clara, a garota que não se amarrava, havia sido capturada pela professora. Inclinei meu rosto para olhá-la concentrada no filme. Tudo nela me agradava, seus olhos, boca, nariz, cabelo... Me senti a mulher mais feliz do mundo por tê-la comigo.

- Amor, eu te amo. - Sussurei de modo que ela me olhou e sorriu de orelha à orelha.
- Eu também te amo!

  Me inclinei para encostar os meus lábios nos dela. Coloquei uma de minhas mãos atrás de seu pescoço e deitei minha cabeça no travesseiro, fazendo-a apoiar-se com as duas mãos no colchão. Continuamos nos beijando cada vez mais intensamente, até que fomos interrompidas por um ser de apenas um pouco mais de 1 metro entrando pela porta.

- Mãe...

  Catarina levantou-se rapidamente, tentando disfarçar o que estávamos fazendo. Sentei-me e notei que a garota não havia visto nada, já que seu olho mal abria por conta da luz da televisão.

- Oi filha, que foi?
- Não quero dormir sozinha...
- Filha, você tá grandinha já pra dormir com a mamãe.
- Mas mamãe, eu só queria uma vez. Por favor! - Ela fazia voz chorosa e uma cara de cachorrinho sem dono que me partia o coração.
- Pode deixar ela dormir com a gente - Sussurei - Minha cama é King, cabe nós 3 e sobra espaço.
- Clara...
- É sério, não tem problema.

  Catarina virou a atenção novamente para Gisele, que esfregava o olho de sono.

- Tá, vem cá. Mas só dessa vez, ein? Não quero você pedindo pra dormir todo dia com a mamãe não.

Ela subiu e se enfiou no meio de nós duas.

- Boa noite mamãe, boa noite tia Clara. - Disse a garota enquanto virava-se e abraçava meu braço.
- Boa noite, princesa. - Dei um leve beijo em sua testa.

  Catarina olhou aquilo e pude ver o brilho que surgiu em seus olhos. O fato de Gisele gostar de mim e vice versa fazia bem para ela. Ela pegou o controle, desligou a TV e se acomodou abraçando Gisele de modo que sua mão ficasse encostada no meu braço no qual sua filha estava abraçada.

- Boa noite, amor. - Ela sussurou.
- Boa noite...

 

 

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