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— Atenção, marujos! — Minha voz soa alta na noite calma. — Temos um cargueiro esperando para ser abordado. Não vamos afunda-lo, apenas incapacitar e livrar os escravos que estão presos ali. Queremos tripulação e recursos apenas, portanto, mirem no convés e em lugares que apenas danifique partes não essenciais, temos que chegar perto o suficiente para entrarmos e roubarmos o navio de dentro. Fui claro?

Um coro de homens agitado confirma que as ordens foram ouvidas e quando vejo que todos já estão assumindo seus postos, me movo para seguir até o timão e me preparar também.

Sinto meu braço ser puxado em um toque delicado demais para vir de um marinheiro carregado de adrenalina, não me espanto quando encontro o olhar atento e o sorriso afiado de Soo Yun.

— E eu, capitão?

Suspiro, tentando encontrar uma forma de não ofendê-la.

— Você, vai continuar a bordo. De preferência na cabine ou em algum lugar seguro. — Seu sorriso logo foi substituído. Aquele olhar de ódio em minha direção, que eu vi sumir nos últimos dias, voltou para o rosto dela.

— Não pode me prender aqui. — Sua voz soa baixa, quase como uma súplica, mas não vacila. — Eu posso ajudar.

— É muito arriscado. Não posso permitir que se machuque dessa forma e não há como eu tomar conta de você. — Por mais firme que minha voz soasse, eu sentia que ela nunca se intimidaria, não mais.

— Sei cuidar de mim mesma, capitão. — Ela respira fundo, aparentemente com raiva. — Não estou pedindo para ser minha babá... No fim, você é igual a todos os outros e por isso não conseguirá me impedir.

Não tive a oportunidade de retrucar, o sino do Noite eterna soou, fomos avistados e já entrávamos em perseguição.

— Içar velas e preparar canhões! Atirem na primeira oportunidade. — As ordens já escapavam de forma automática, não podíamos perder o alvo e assim que me vira para tentar fazer Soo Yun ter um pouco de juízo, ela já havia desaparecido.

— Mas que droga!

O navio de Junhui se desvia do curso para perseguir o outro e mergulha noite adentro. O cheiro da pólvora começava a invadir o lugar, o morteiro está sendo cuidadosamente posicionado e antes que possa xingar a teimosia da mulher eu começo a correr até Wonwoo sem pensar em nada. Seus dentes estão cerrados e percebo o que está prestes a acontecer como um estalo.

O morteiro não demora a lançar as balas de canhão contra o grande cargueiro, e os homens lutam para manter o navio estável para não perdermos o alvo. Foi certeiro, bem abaixo do mastro principal, mas não foi forte o suficiente para derrubá-lo. Ordeno que mirem nos barris de pólvora. Cargueiros não costumam ter armamento pesado, no entanto era o suficiente para nós afundar, a melhor chance de vantagem é acabar com o poder de fogo antes de ser usado.

Os canhões estouram, os barris explodem, cascos são quebrados e homens arremessados de seu convés.

— Chegue mais perto. Teremos mais chance se entrarmos. — Wonwoo assente e já está falando com o velho Byun para ajustar as velas. O homem segue correndo em meio à multidão para arruma-las ele mesmo.

— Se preparem para subir a bordo!

Apesar de tudo o que essa vida me impedia de fazer e todos os contratempos, eu amava essa adrenalina, o som dos canhões, o cheiro de pólvora, a bandeira negra recém hasteada com uma caveira nela ondulando com o vento, o coro dos marujos agitados dos dois lados da faca — O lado que segura o cabo e o que está na ponta da lâmina. — Tudo isso me deixava eufórico, vendo a morte passar por perto e me lembrando da vida de aventuras que o destino me proporcionou. Enquanto corria em meio à minha tripulação que retumbava em um ritmo de vitória eu via que estava vivo, sentindo o coração bater em um ritmo acelerado e enchendo os pulmões de ar.

A distância entre nós e o navio danificado era pequena o suficiente para atravessar pela prancha, deixo meus homens subirem antes e abrirem caminho, minha mão coça pelo cabo do florete que me acompanha a muito tempo desde que o roubei de um oficial francês, mas toda a adrenalina sumiu quando vi Soo Yun passar por mim com aquele sorriso afiado que já estava fazendo parte da minha rotina. Ela foi muito mais rápida que eu e pude nada fazer para segurá-la.

— Wonwoo, segure as pontas tenho um problema! — Ele ergue as sobrancelhas em um hábito antigo. Consigo até ouvir sua voz em minha mente.

"Não arrume confusão"

Isso sempre fora inútil, visto que nunca dei ouvidos à sua razão e sem pensar duas vezes pulo para o cargueiro atrás da mulher que jurei proteger e que acabara de se jogar em um navio que seria tomado.

Ela está tentando a sorte.

É a primeira coisa que penso quando me atiro em meio à confusão. Obviamente, o capitão não se rendeu e a luta já havia começado, tínhamos a vantagem pela surpresa e o barco danificado, mas em questão de números era um disputa equilibrada. Olho ao redor, procurando a figura dela, me esgueiro em meio ao bando de homens lutando, trocando poucos golpes apenas o suficiente para que eu consiga passar. Meus homens me protegem antes que eu perceba e continuo a andar pelo grande cargueiro até que finalmente a encontro quando desço as escadas até o porão.

Eu esperava encontrar apenas um bando de escravos, presos e vigiados por um ou dois guardas no máximo, mas a visão que tive me pegou de surpresa.

Soo Yun respirava com dificuldade e sangue pingava de um corte em sua sobrancelha, ela estava ali, olhando para os dois homens desacordados e com um grande grupo de escravos a encarando de olhos arregalados. Meu chapéu estava firme em sua cabeça e ela reclama do ombro dolorido antes de dar um sorriso fraco. Tenho certeza que isso significava algo como: "eu te avisei que não poderia me impedir."

Mas ali a encarando, com dois homens caídos a seus pés, parecendo tão inabalável e invencível. Tudo o que passa na minha cabeça é uma pergunta.

Quem é Moon Soo Yun de verdade?

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Black Pearl » » Lee SeokminWhere stories live. Discover now