Capítulo 14

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- Estela

Assim que conversei com minha mãe, resolvi seguir lendo as cartas de Helena. Em cada uma delas, parecia que eu voltava exatamente àquela época.

“Hoje escrevo um pouco menos esperançosa que de fato te veja outra vez, já são quase dois anos sem saber nada de você mas tua lembrança segue viva em mim todos os dias. Não exista uma só noite que não lembre de você ou de como estaríamos hoje em dia já que logo estará nos seus dezoito anos.

Espero todos os dias que ao menos as esteja recebendo. Sempre sua, H.”

Passei delicadamente meus dedos por aquela folha, lembrei exatamente como havia sido o dia que completei dezoito anos e nem de longe era como imaginava que seria. Não só não sabia nada de Helena como nem mesmo com seus pais pude falar, foi terrível minha adaptação sem ela.

“Deixarei de escrevê-la agora. Não, não é por falta de amor, esse seguirá aqui em mim mas já não posso fazer isso comigo, até mesmo com a sua lembrança. Te guardo aqui como o melhor do que vivi todos esses anos e espero te reencontrar algum dia...”

A última foi a mais curta de todas elas, eu não sabia o que pensar quando terminei todas, sentia uma enorme raiva do meu pai, não havia explicação para isso. Quando já me preparava para levantar, vi a luz do celular acender e respirei fundo na tentativa de me liberar de toda àquela raiva que sentia.

"Não acordei você, não é?" — Ouvi Helena dizer do outro lado.

"Você não esperava que depois desse dia de hoje eu já estivesse dormindo, não é?"

"Se dá conta que é a primeira vez que falamos por telefone?"

"Gostou da minha voz?"— Disse já sorrindo e ela riu de volta.

"Você sabe o quanto gosto da tua voz... Mas te liguei por uma razão. Dona Julieta quer que você e sua mãe venham almoçar aqui amanhã."
— Ouvia e não acreditava.

"Você tem certeza, Helena? Foi idéia dela?"

"Foi sim. Tivemos uma conversa e ela pediu para que fizesse esse convite."

"Bom... então acho que tudo bem, não? Minha nossa, imaginei algo assim tantas vezes que vou custar acreditar que de fato isso esteja acontecendo." — Helena sorriu do outro lado. — "Queria estar dormindo ao teu lado hoje."

Ouvi Helena suspirar de um jeito tão profundo que fechei os olhos, era como senti-la ao meu lado naquele momento. — "Era tudo o que eu queria."

"Vamos dormir, assim pensarei que falta menos para te ver outra vez."

"Vamos... boa noite, Estela..." — Senti por sua voz que ela parecia dizer algo mais, mas sei como se sentia, eu estava exatamente igual.

"Um beijo, Helena."

Assim que desligamos, não parei de pensar nela, sentia um frio na barriga como se fosse uma adolescente, tenho a absoluta certeza que faria de tudo naquela noite, menos dormir.

-

Ouvi uma batida suave na porta e fui sentando na cama em seguida.

- Entra... — Disse ainda tentando acordar.

- Bom dia, minha filha. Você prometeu ir comigo ao mercado, estranhei que não havia acordado cedo como de costume.

- É muito tarde?

- Quase nove. — Levantei devagar e fui até o banheiro enquanto a ouvia. — Seu pai foi a casa de Rodrigo mas os dois voltam para o almoço, queria chegar cedo, Estela.

Com amor, HelenaWhere stories live. Discover now