5. Muitos corredores

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Não queria levantar.

A noite havia sido irritante entre as perguntas das meninas que ecoavam na minha cabeça "Por que foi provocar a Malévola?"; "Por que quer tanto ser da realeza?"; "Por que não podia apenas ter calado a boca?".

Só consegui dormir depois de responder pra mim mesma todas elas, "Não fui eu quem provocou, essa mulher é louca."; "Nunca quis ser da realeza, mas também não quero virar uma perdedora."; "Desde quando alguém nos questiona se temos dúvidas e apenas eu tenho que ser obrigada a me calar?".

Pilipiplin parecia um sino chato querendo me mandar tomar café. Quando percebeu que não iria, acabou trazendo um prato com pedaços cortados de mangá.

— Pelo menos vá conhecer o castelo! — ordenou.

Fui para o banheiro tomar banho e escovar os dentes, como as outras já haviam saído nem estava preocupada. Vesti uma calça moletom justa, camiseta listrada e calcei coturnos.

— Pronto, feliz? — disse antes de sair para o corredor admirando ela dar pulinhos contente.

Segui o mapa que veio junto ao manual, explorando cada andar arduamente. O pior era notar os alunos com quem cruzava murmurando ao me olhar, até parece que cometi um crime.

A melhor sala era da Bruxa dos Doces, com paredes de alcaçuz, cadeiras de suspiro e mesas feitas com chocolate. Pirulitos gigantes e balas do tamanho de cabeças também serviam para decoração. Tive que me controlar para não comer depois de ver um garoto fazendo isso e ficando com os dentes careados logo em seguida.

Cada um dos espaços parecia inspirado numa lenda. Dentro de uma havia o bosque encantado onde flores falavam. Em outra, a réplica da praia, reparei ao longe nas sereias cantando, depois acenaram. Também tem aquelas habituais com cadeiras enfileiradas e lousa, porém sempre algum detalhe te faz perceber qual o objetivo dessa escola.

Encontrei a biblioteca, infinitos corredores aguardavam para serem investigados, livros flutuavam por todas as partes tentando voltar as prateleiras e a bibliotecária era uma mulher com asas de mariposa usando óculos fundo de garrafa.

Um dos livros me acertou, literalmente, o título rodeado por borboletas era encantador 'O canto mais escuro da floresta'. Conversei com a moça do balcão e ela me deixou levar.

Apesar de amar bibliotecas, esses muitos corredores me deixam claustrofóbica.

Vou para o jardim e sento embaixo da maior árvore em frente ao lago. Leio as primeiras páginas, que descrevem criaturas mágicas numa cidade humana.

Fico desse modo saindo da absorção apenas ao ver o loiro correndo pelo gramado, vestido com regata e bermuda, sendo seguido por um grupo de meninas alucinadas. O sol batendo nas madeixas parecia mais brilhante. Sobressalto quando ele nota a minha admiração e sorri, seu caminho muda vindo até onde estou.

Nathan se joga ao meu lado, as meninas ficaram para trás fofocando, assisto gotas de suor escorrerem pelo rosto bonito. As bochechas arredondadas, cílios leves alongados e lábios avermelhados um pouco úmidos, são a combinação perfeita junto as sardas começadas no nariz que vão clareando ao redor. Por um breve momento vendo os pontinhos nos ombros, imaginei se suas costas também são dessa forma.

— Então quer dizer que a princesa era uma vilã? — pergunta entre a respiração descompassada, reviro os olhos dramaticamente.

— Pelo que sei só no próximo semestre será definido o que seremos, se não tomar cuidado pode virar um ogro. — ele ri, um som muito agradável para o meu gosto.

— Acho que isso não vai acontecer. — ele passa a mão pelo cabelo deixando mais bagunçado, era fascinante sua facilidade em agir, enquanto fiquei nervosa por tê-lo assim — Desculpa pelo engano.

— Tanto faz. — suspiro, perdendo algumas batidas do coração — Mas por que achou isso?

— Você estava com um dos melhores vestidos e, apesar de ser gulosa, tem a postura de nobre. — o comentário faz minha face esquentar — Que fofa, corada.

— Enfim, de quem o senhor é herdeiro?

— Não me chame assim. — ele pensa por alguns poucos segundos, massageando uma parte do joelho — Consegue adivinhar?

— Com certeza um príncipe.

— Acertou, sou filho do Príncipe Encantado. — meus olhos castanhos se arregalam.

— Então sua mãe é a Cinderela? — acena em positivo, sorrindo meio tímido — O que te faz conversar com a neta da mulher que causou os piores anos da vida dela?

— Te achei interessante.

Odiei o poder dele de me fazer ruborizar e a resposta não era nenhum pouco convincente.

Uma leve brisa nos permeia e pétalas das flores do jardim voam numa chuva colorida, algumas delas grudam em nossos cabelos, Nathan tenta tocar em mim para tirá-las, no entanto consigo ser mais rápida ao levantar.

— Vai continuar fugindo até quando? — pergunta se erguendo também.

— Da próxima vez deixo meu sapatinho. — respondo indo embora.

— Vou cobrar! — ele grita e volta para sua corrida, acompanhado pelas apreciadoras.

Enfim fez sentido toda a popularidade desse garoto.. Aliás, um príncipe, descendente dos personagens mais conhecidos da última geração. A única coisa sem cabimento é essa aproximação inusitada.

Olá, tudo bem? Esse foi mais curto e descontraído para saber o que acham desse suposto casal. Espero que estejam gostando, não esqueçam de votar por favor, isso ajuda muito no engajamento.

Aliás, vocês já viveram um amor digno dos contos de fadas?

Eu não, mas estamos procurando até encontrar um sapo legalzinho. Beijos!

Escola dos Felizes para Sempre (Disponível Na Amazon e Uiclap)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora