14. Contos de Fadas sangrentos

12.5K 1.6K 837
                                    

Arrepios percorrem minha espinha a cada passo que damos mais a fundo no ambiente escuro.

Os únicos pontos iluminados são as caixas de vidro da exposição, então é necessário bastante cuidado enquanto caminhamos. O senhor Eitrin decidiu nos trazer ao Museu dos Contos que fica fora da escola, percorrendo uma trilha na floresta que só pode ser acessada pelos responsáveis, para uma aula sobre artefatos mortais.

Dardos envenenados que podem paralisar seres humanos apenas num único toque, o cálice maldito faz qualquer bebida se tornar fruto de pesadelos alucinógenos, anéis de fadas que dão acesso a quem lhes colocar para entrar na mente dos seres encantados. Lembro de Ivy por esse último, vejo a certa distância ela conversando entre grupos, posso apostar estar contando a estória de sua família e acho graça por conseguir lembrar de cor e salteado.

No centro do cômodo enorme estão os três itens mais memoráveis de todos os tempos: A maçã vermelha cortesia da Rainha Má, a roca amaldiçoada elaborada pela Malévola e a concha dourada utilizada por Úrsula para capturar a voz da sereia.

A coleção de objetos é imensa, nem posso imaginar o tamanho do museu inteiro considerando apenas a grandiosidade desse lugar. Devem ser infinitos corredores e cada vez aumentando mais a quantidade.

Minha atenção foi atraída para uma exibição especial, onde aparece ostentado em letras floridas o nome dos Irmãos Grimm.

Confesso não gostar da narração deles, a maioria é pesada em níveis extremos. Quando era pequena, junto com Alanis, líamos esses livros escondidas, depois era custoso dormir a noite.

Observo atentamente a inscrição da Gata Borralheira, acima do acervo está um quadro mostrando a punição das irmãs más com aqueles terríveis pássaros. Dentro do cubo, o sapatinho de cristal ensaguentado e uma adaga afiada.

Tento, tento, tento colocar na cabeça que aquela não foi a versão da minha mãe, a Lady Tremaine não tinha ligação com as lendas antes de receber seu convite, então essas pessoas estão fora da nossa linha sanguínea. Porém, fracasso ao lembrar que pode ter sido qualquer mulher passando por isso, para conquistar o que afinal?

Sinto enjoo e vontade de sair correndo, ao imaginar o quão insensível os narradores podem ser e desejo no fundo da alma para que essa geração seja diferente.

Dou alguns passos em falso, distraída demais, acabo colidindo com um garoto estático no meio dessa mostra.

— Ethan. — sussurro olhando o moreno e nenhum movimento entregou que tivesse escutado, ou notado o encontro.

Esse está imerso nos seus próprios pensamentos, os punhos cerrados e o maxilar apertado demonstram a dificuldade para manter a calma.

Observo o que está na sua frente e tomo um susto logo ao perceber a cabeça do lobo pendurada na parede, as presas pontiagudas alcançam o tamanho do meu dedo mindinho. Além disso, um machado sujo de sangue e o saco das pedras usadas para afogá-lo.

Com certeza, alguém da matilha dos Wolf. Existem poucos bandos de lobisomens pelos reinos afora, entre as gerações das lendas, eles foram os mais reconhecidos e que se mantiveram vivos por maior prazo.

— Ethan. — chamo de novo, seguro seu pulso para o expulsar do transe.

— Eles acham que nós somos animais, podem nos empalhar e colocar como decoração? — questiona mais para si mesmo, acompanhado por um riso nasalado de menosprezo — Isso não deveria ser feito nem com os bichos, é sadismo.

Gostaria que fosse mentira, mas seria impossível não notar o urso preservado em estátua com pose de ataque numa das pontas e entre outras criaturas manipuladas. Ademais, nos prósperos castelos não duvido que façam o mesmo, até pior.

O professor indica para nos aproximarmos ao final da sala, alçando uma bandeira de alerta, o sinal que estamos prestes a ir embora.

— Está certo. — concordo apertando um pouco forte — Os bonzinhos podem ser mais perversos que todos nós juntos. Mesmo alguns não tendo finais felizes, olhe em volta, os vilões foram inesquecíveis.

Ethan se vira para mim, fico intimidada pelo seu tamanho e os olhos amarelos que me fitam de forma intensa. Esperei uma repressão por ser demasiada gentil, ou quem sabe a patada do século pelo jeito grosseiro de sempre quando estou por perto. Agora, nem pude esconder o espanto sentido sua palma segurando a minha de inesperado.

— Nós vamos ser inesquecíveis. — diz emanando convicção absoluta nas palavras.

Fomos juntos de mãos dadas para perto dos outros alunos, Eitrin passou alguns momentos discursando sobre a importância dos planejamentos. Como devemos manter a inteligência sendo nossa arma mais preciosa para os combates, nunca abaixar a guarda e só usar as armas mais perigosas tendo segurança de que a morte é certa, sem restar brechas.

Apenas distingui a união entre o lobisomem e eu, ao contemplar Ivy vindo em nossa direção, um sorriso brincalhão pairando na face e dando pulinhos fazendo os cabelos coloridos se revolverem. Solto de imediato, indo até minha amiga e o Trio se une no caminho de volta, retornando as atitudes brutas.

Olá, tudo bem?

Surpresa!

Fiz esse capítulo bônus na manhã de hoje e decidi postar só para desencargo de consciência.

Devo admitir, acho estranho ter tanta facilidade em escrever sobre o Ethan. Deveria estar criando o capítulo 22, mas as coisas estão saindo do meu planejamento.

Falando nisso, estou começando a achar que deveria colocar um aviso de classificação indicativa.

Enfim, espero que tenham gostado. Votem, comentem, compartilhem. Beijos de amor verdadeiro!

Escola dos Felizes para Sempre (Disponível Na Amazon e Uiclap)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora