Parte I

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Era fim de ano e a expectativa do comércio era alta para as vendas de Natal. Mesmo com a crise, milhares de pessoas lotavam as lojas para comprar presentes para a família. Manuela era uma delas. Aproveitou sua folga e foi a um shopping popular da zona sul de São Paulo. Jurou a si mesmo que naquele ano compraria só lembrancinhas. O ano de 2015 tinha sido difícil – a palavra "crise" estava estampada e sendo comentada em vários jornais. Mas, quando Manuela chegou ao centro de compra, o estacionamento estava lotado de carros. Os ônibus que passavam no local também. Alguns caixas já tinham filas consideráveis. Na televisão de plasma na padaria que passou em frente, o noticiário mostrava que as ruas 25 de março e a região do Brás formigavam de compradores.

Mal entrou em uma loja e Manuela foi abordada por uma vendedora que ofereceu o cartão do local. Agradeceu e mentiu que já tinha. Vasculhou algumas roupas, já amassadas, com partes penduradas nos cabides e bagunçadas por várias mãos que já tinham passado por ali. Manuela se deparou com uma mulher mexia no celular distraidamente e parada bem na frente de uma arara de roupas. Mesmo percebendo a presença de Manuela na direção das roupas que estavam penduradas no local, não saiu do lugar. A moça irritou-se e pediu licença em tom de voz seco. Fazendo pouco caso, a mulher se afastou alguns centímetros sem tirar os olhos do celular. Do outro lado, uma filha adolescente berrava com a mãe, dizendo que se ela não comprasse a blusinha que queria, podia já levá-la para casa que ela não ficaria mais um segundo naquele shopping. A mãe perdeu a paciência e berrou para ela calar a boca, chamando a atenção e o constrangimento das pessoas ao redor, e dizendo que não se daria mais ao trabalho de trazê-la.

Decepcionada por não encontrar o que procurava, Manuela decidiu ir ver em outra loja. Um homem com sacolas esbarrou em seu braço enquanto caminhava e conversava alto com dois amigos. Ela reclamou e foi ignorada. Em seguida, outra mulher também esbarrou em seu ombro enquanto caminhava apressadamente. Xingou-a e também foi ignorada. Na sua frente, uma mãe e duas jovens andavam lado a lado em ritmo lento e paravam bruscamente para olhar as vitrines. Manuela foi desviar delas, mas a jovem da esquerda foi para o mesmo lado e fechou a passagem. A moça bufou, desviou o caminho, quando a mãe parou bem no meio. Conseguiu uma passagem, passou por elas e as encarou com olhar fulminante.

Entrou em outra loja de roupas. Uma sorridente vendedora se apresentou, e ao saber que ela desejava uma blusinha, pegou um bolo de roupas e apresentou-as para a moça. Manuela observou a textura, a cor, para quem ficaria interessante como presente e o preço, mas antes de pensar direito já recebia outra blusinha da vendedora com uma violência que por pouco não atingia seu rosto. "Leva essa e essa aqui também! Tá na promoção!". Irritada, Manuela agradeceu e saiu da loja. Pediu licença a um rapaz que estava na frente da porta. Ele, que falava com a mulher sobre a roupa que estava comprando, ignorou. Como resposta, Manuela passou por ele o empurrando com os ombros. Nem olhou para trás a fim de saber a reação.

Entrou em outra loja. Ouviu berros de um menino que rolava no chão e fazia birra. A mãe, nervosa, berrava para que a criança se levantasse. Os gritos agudos do pequeno chamavam a atenção de todos na loja. Do outro lado, dois meninos brincavam de pega-pega entre as araras, e por várias vezes puxavam os cabides e derrubavam as roupas que estavam menos presas. Um deles pisou no pé de Manuela, percebeu o erro, mas continuou a correr.

"Onde estão os pais imprestáveis desses capetas?", pensou Manuela.

Achou uma calça para si e decidiu prová-la. Ao chegar ao provador, enfrentou uma pequena fila e, ao chegar em uma cabine e irritou-se ao ver que não tinham mais ganchos para pendurar seus pertences, pois haviam sido roubados. Manuela pendurou as roupas no banco e vestiu a calça. Não serviu.

[continua...]

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Compras de NatalWhere stories live. Discover now