Parte II

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Decidiu passar em um banheiro próximo, mas desistiu porque tinha muita fila. Sentiu fome e se mandou para a praça de alimentação. Encontrou filas em quase todos os restaurantes. Mesas também estavam lotadas. Como não queria esperar muito pela entrega do pedido, Manuela decidiu ir a um fast food. Ao chegar na sua vez, foi informada pelo atendente que o sistema tinha caído e só aceitavam pagamento em dinheiro. Ela bufou, fez o pedido e aguardou ao lado. Seu lanche veio todo desmontado e em caixas marcadas com dedos engordurados. Enquanto caminhava para a mesa, se deparou com um menino agitado, que quase derrubou sua bandeja, fazendo Manuela lhe atirar um olhar fulminante que nem as vilãs de novela mexicana fariam igual. A criança sentiu-se intimidada, mas fingiu que não era com ela. O pai puxou o garoto para a fila e berrou para que ele escolhesse logo seu pedido. Virou-se para a esposa e perguntou grosseiramente por que ela ainda não tinha ido escolher uma mesa. A mulher se virou para rebatê-lo, mas o bebê que segurava no colo chorava compulsivamente e ela preferiu tentar acalmá-lo, enquanto se afastava da fila para procurar uma mesa, sob olhares das pessoas em volta.

Manuela não encontrava lugar. Pediu a uma mulher, que já fazia refeição no local, se poderia sentar na cadeira vaga. A mulher a encarou com deboche e disse que já estava reservado. Manuela a chamou de grossa e se retirou. Conseguiu encontrar uma mesa com uma bandeja abandonada com restos de comida espalhadas nas cadeiras e no chão. Procurou um funcionário da limpeza ao redor para lhe pedir que limpasse, mas não encontrou. Afastou a bandeja para o lado e começou a comer. Com o calor, foi logo para o refrigerante aguado e sem gelo. As batatas estavam frias e emborrachadas. Na mesa ao lado, pessoas conversavam alto, enquanto em outra, um grupo de adolescentes atiravam batatas entre si, acertando algumas mesas em volta. Crianças caminhavam sem rumo, longe de atenção dos pais.

Após comer seu lanche e depositar a bandeja no lixo, Manuela caminhou em busca de outras lojas. Cruzou com árvores de Natal, uma casinha em estilo europeu e uma fila grande e mal organizada. No trono, um papai Noel com barba fajuta fazia força para parecer simpático à menina que estava em seu colo, mas sua testa suava e isso parecia ter alterado o seu humor. A mãe da criança berrava várias vezes para que a menina uma cara decente para sair direito na foto que tentava tirar com o celular.

Manuela caminhou até outra loja e, por sorte, encontrou tudo que precisava. Era a hora de pagar. Se deparou com uma fila de três voltas e desanimou. O setor contava com dez posições de caixa, mas, apenas três tinham funcionários em atendimento. Manuela inseriu fones nos ouvidos e aguardou sua vez. À sua frente, um rapaz olhava para a direção do setor feminino com preocupação. Sua mulher chegou com várias roupas e entrou na fila. Atrás de Manuela, duas adolescentes soltavam gargalhadas enquanto observavam um vídeo no celular, executado no último volume. A empolgação de uma delas fazia-a bater um dos cotovelos e todo momento nas costas de Manuela, que em determinado momento, virou-se para elas com cara feia. Fingindo não ser com ela, a adolescente afastou-se.

A fila andava muito devagar. Manuela olhou no relógio e preocupou-se com o horário. Os ônibus àquela altura já estariam lotados, sendo mais difícil para levar as sacolas. Uma mulher começou a reclamar alto sobre a demora. Depois de quase meia hora, Manuela conseguiu ser atendida. Avisou que era para presente, mas a funcionária do caixa a ignorou e não retirou o preço da etiqueta. Ao ser indagada sobre papel de presente, a operadora informou que não tinham, mas se ela quisesse, tinha algumas opções a R$ 5. Irritada, Manuela pegou a sacola e saiu batendo o pé. Esbarrou na bolsa de uma mulher escorada em outro balcão. Pediu desculpas e foi chamada de cega.

[continua...]

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