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Paciência

Estava atrasada.

Na verdade, "atrasada" é um eufemismo. Estava mais que atrasada, o que é no mínimo surpreendente para a Park. Ela nunca, em nenhuma hipótese chegava atrasada. Mas para tudo se tem uma primeira vez, aparentemente.

Arrastava a enorme mala de rodinhas pelos corredores largos do ainda mais enorme dormitório da faculdade. Estava finalmente se mudando para lá depois de algumas semanas de aula e se encontrava ansiosa para saber com quem compartilharia o quarto. Estava tão ansiosa que mal conseguiu dormir à noite, e como consequência desligou seus dois despertadores sem nem perceber e dormiu por mais meia hora depois do horário que sempre acordava, o que desfez toda sua agenda quase cronometrada de coisas a se fazer antes de ir para a faculdade. Acordar às seis, tomar banho até no máximo seis e quinze, comer algo às seis e meia, pedir para o motorista a levar até o campus às seis e quarenta, chegar no local às sete. Era assim todos os dias até hoje.

Prestou atenção aos números das portas. 104, 105, 106… 110!

─ Até que enfim, achei que não ia chegar nunca ─ Reclamou para os ventos.

Colocou a mão sobre o coração e tranquilizou sua respiração, queria passar uma boa imagem a quem quer que fosse sua colega. Soltou um último suspiro e aproximou a mão da maçaneta, quando ouviu um barulho estranho dentro do quarto. Parecia que algo havia caído. Aproximou o ouvido da porta. Silêncio. Franziu o cenho. Mas-

─ TE PEGUEI!

─

─ Agora que já está tudo devidamente medicado, posso saber por quê a senhorita tem um calo enorme na cabeça?

A enfermeira perguntou enquanto guardava a gaze em uma gaveta, olhando as duas mulheres com desconfiança.

─ Não foi nada, não… ─ A companheira de quarto, cujo nome ainda era desconhecido, respondeu por Jimin.

A enfermeira desconfiou mais ainda e Jimin olhou para a de cabelos castanhos com raiva.

─ Não foi nada? Você chutou a porta na minha cara!

─ Mas eu não sabia que era você! ─ Tentou se defender.

─ E quem mais seria? Por acaso você sai chutando portas na cara das pessoas por aí?

─ Eu achei que era minha amiga, tá legal? Não sabia que ia receber uma colega de quarto hoje ─ Nada do que falava estava acalmando a loira, que se encontrava furiosa.

─ Eu perdi uma aula por causa dessa sua loucura e agora olha pro meu rosto! ─ Apontou para a protuberância vermelha acima de seu olho ─ Eu tô horrível!

─ Tá nada, ficou até bonitinha com esse vermelho na testa. Combinou com o cabelo.

A careta de Jimin se contorceu ainda mais e ela se levantou da maca onde estava sentada, marchando até a porta e ignorando a fala da outra, que se curvou para a enfermeira e foi atrás da Park em passos rápidos.

─ Espera aí! Ei!

Jimin fingiu que não ouviu e continuou andando.

─ Loirinha!

A Park parou de repente e se virou.

─ Eu tenho um nome e não é loirinha.

─ Mas eu não sei seu nome, queria que eu te chamasse de quê?

─ Qualquer coisa menos loirinha ─ Cruzou os braços. As duas se encaravam, uma com um olhar raivoso e a outra se divertindo com a situação, mas também preocupada.

─ Lindinha, então.

─ Meu nome é Jimin.

─ Mas Lindinha é legal, e você parece a Lindinha ─ Falou, os olhos começaram a brilhar ─ Das meninas super poderosas, sabe quem é?

─ Eu sei quem é a Lindinha.

─ Ah, tá.

Jimin soltou um suspiro exasperado, voltando a andar sem ao menos esperar a outra.

─ Você gosta de deixar as pessoas pra trás, né? ─ Apressou o passo, tentando acompanhá-la.

─ Eu deixo pessoas que chutam portas na minha cara pra trás.

─ Mas eu já pedi desculpas ─ Fez bico.

─ Eu não lembro de ter dito que te desculpei.

A acastanhada passou para a frente de Jimin e a parou, tentando fazer contato visual mas somente tendo a visão da mais baixa com um bico enorme e a cabeça abaixada.

─ Me desculpa?

Jimin a olhou.

─ Não.

E entrou no quarto, fechando a porta na cara da colega.

─ Meu nome é Jungkook! ─ Gritou.

─ Eu não perguntei!

Jeon riu sozinha. O ano seria longo, mas ela não se importaria nem um pouco com isso.

─

─ Jimin!

Ignorou.

─ Jiminzinha!

Qual o nome daquele hormônio mesmo?

─ Minmin! Lindinha!

Bufou.

─ O que você quer?

─ Vem aqui rapidinho, por favor!

─ Eu tô ocupada ─ Olhou para o notebook em sua frente, onde escrevia páginas e páginas para um seminário.

─ Por favorzinho! É sério!

Grunhiu e levantou da cadeira, indo até a porta do banheiro.

─ O que foi?

Ouviu um barulho lá de dentro.

─ Pega uma toalha pra mim?

─ É sério isso?

─ Eu esqueci…

Revirou os olhos, indo até as gavetas em baixo da cama da Jeon e pegando uma toalha qualquer de lá. Andou até a porta e a colocou na maçaneta.

─ Tá na porta, pega aí ─ Voltou para o seu lugar em frente à mesinha.

─ Valeu ─ A porta do banheiro abriu e de lá surgiu uma cabeça molhada com um sorrisinho ─ Salvou minha vida.

─ Tá, tá. Agora me deixa terminar isso aqui.

Focou a atenção no notebook novamente, conseguindo escrever mais alguns parágrafos. Até que:

─ Jiminie… ─ Ouviu a voz arrastada do banheiro.

─ O que foi agora?

─ Acabou o papel… Acho que tem que comprar.

Respirou fundo. Paciência. Você tem que ter paciência, Jimin.