Capítulo 1

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7 ANOS DEPOIS

"Katherine, se me estás a ouvir, por favor dá-me algum sinal. Não podes desistir assim, a tua vida está por um fio, os médicos já não acreditam na tua recuperação e querem desligar as máquinas."

Uma voz familiar soou baixinho, ela parecia tão distante. Sentia me cansada, com o corpo dez vezes mais pesado e a minha cabeça doía tanto que parecia que ia explodir, mas com muito esforço consegui abrir os olhos.

-Estou feliz por, depois de tanto tempo, te ver acordada-ouvi novamente aquela voz

Olhei para o lado e encontrei o dono de uns lindos olhos cor de avelã, observei o durante alguns segundos e percebi que o mesmo trajava roupas de hospital, o que me deixou confusa. Olhei ao redor e depois de ver as máquinas às quais eu estava ligada e as frias paredes brancas, constatei que estava realmente num ambiente clínico

-Sei que provavelmente não entendes o porquê de estares aqui, mas vou chamar o médico e ele vai examinar te e explicar te tudo ok?-tentei responder lhe, mas com o a minha voz não saiu limitei me a assentir

Um homem de bata branca entrou no quarto, acompanhado pelo mesmo rapaz que estava ao meu lado à minutos atrás

-Bebe isto, vai aliviar a secura, a tua voz vai voltar aos poucos-o rapaz entregou me um copo de água

As minhas mãos tremiam e não conseguia agarrar o copo, então ele pegou o de volta e, apoiando a outra mão na minha nuca, ajudou me a beber a água

-Obrigada-a minha voz não passou de um sussurro, mas ele pareceu ter ouvido, uma vez que sorriu para mim

-Boa noite senhorita. Sou o doutor Arthur Masioli, fiquei responsável por si durante estes anos-o homem disse

-Anos?-perguntei baixo

-A Katherine esteve em coma durante 7 anos, sofreu um acidente enquanto conduzia embriagada-aos poucos as memórias daquele dia vieram à minha mente

Lembrei me da discussão que tive com aqueles a quem chamava de amigos e de ter sido expulsa da padaria, de ir a casa do Dylan e beber as misturas que os seus amigos fizeram com as bebidas alcoólicas, de fechar os olhos por uns instantes enquanto conduzia até casa e da batida forte, tal como da dor insuportável que senti antes de me entregar à escuridão em que estive presa durantes estes últimos anos

-Posso pedir lhe que tente mexer as pernas?-o doutor pediu

Fiz o que ele pediu, mas para meu desespero nada aconteceu, não consegui mexer as pernas e nem sequer senti las

-Eu não consigo-disse enquanto as primeiras lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto

-Como eu imaginei, está paralisada da cintura para baixo-o homem disse, escrevendo algo na ficha que trazia

-Ela está a ficar nervosa doutor, é melhor seda la antes que a sua pressão dispare-o rapaz avisou

-Faz isso Jason, e prepara a paciente para os exames-o doutor pediu antes de sair do quarto

-Sei que é difícil, mas tens de tentar manter a calma, isto pode não ser permanente-o tal Jason disse com uma voz suave

-Como é que me podes pedir para ter calma depois de me dizerem que estou paraplégica?-perguntei em prantos

-Ficares assim só vai piorar o teu estado-alertou enquanto punha algo numa seringa

-Eu quero falar com a minha mãe e com os meus amigos, podes chama los?-pedi tentando conter o choro

-Não queria ser eu a dizer te isto, mas a verdade é que não temos nenhum número para contactar-antes que eu pudesse entender o significado das suas palavras os meus olhos começaram a pesar e a última coisa que vi foi o rapaz pousar a seringa, agora vazia, em cima da mesa de apoio

Quando acordei novamente já não havia claridade no quarto, as cortinas estavam fechadas e apenas uma luz de presença iluminava o ambiente. Tentei mexer as pernas e mais uma vez falhei miseravelmente, deixando me mais revoltada

-Como é que te sentes?-revirei os olhos ao ouvir aquela voz estranhamente familiar

-O que é que foi desta vez? Não tens mais pacientes para ver?-perguntei tentando, sem sucesso, sentar me na cama

-Deixa me ajudar te-ele caminhou rapidamente até mim

-Não preciso da tua ajuda, só quero que te vás embora e me deixes em paz-disse com raiva na voz

-Não sejas teimosa-foram as suas únicas palavras antes de levantar um pouco a cama e me ajudar a sentar

-Satisfeito agora? Espero que sim, agora vai ajudar outra aleijadinha, de preferência alguma que te queira por perto-o Jason ignorou as minhas palavras e sentou se ao meu lado

-Tu passaste por vários exames enquanto estavas a dormir, e todos eles indicam que estás bem, a lesão que sofreste no cérebro está curada-ele sorriu com a notícia que me estava a dar

-Eu pareço te bem Jason? Caso não tenhas percebido eu não consigo mexer as pernas-suspirei frustradas

-Os médicos iam desligar as máquinas que te mantinham viva esta tarde, mas tu acordaste e agora estás aqui, com a maioria das lesões curadas e com uma resposta na ponta da língua. Então sim, tu estás bem-fiquei sem fala, por isso preferi olhar para a parede

-Já avisaram a minha mãe que eu acordei?-perguntei, mudando de assunto

-Quanto a isso, há uma coisa que tens de saber-pela primeira vez desde que acordei vi a sua voz vacilar, e quando olhei para ele vi que o mesmo estava com a sua atenção no chão

-O que é que foi? Fala de uma vez, pior do que já está não pode ficar-respondi impaciente

Com um certo receio ele pegou na minha mão, tentei fugir do seu toque mas parei assim que vi o seu olhar, que era triste e preocupado, e foi aí que percebi que uma má notícia vinha a caminho

-A tua mãe entrou em depressão depois de tu teres sofrido o acidente, pelo que me disseram ela teve várias crises ao longo dos anos. Até que à dois anos tu tiveste uma paragem cardio respiratória, ela estava contigo quando aconteceu e ficou em prantos, tiraram na no quarto mas quando a foram avisar que tu tinhas estabilizado já não a encontraram. Ela suicidou se nessa noite, atirou se do último andar deste hospital-o meu mundo caiu quando ele disse que a minha mãe tinha morrido, nunca tinha sentido uma dor tão forte como a da perda da minha progenitora

-Sai daqui-pedi sem olhar para ele, não queria que me visse chorar pela segunda vez naquele dia

-Não precisas de passar por isto sozinha-com o polegar acariciou o dorso da minha mão, mas rapidamente a afastei do seu toque

-Eu disse para saíres!-gritei com a voz rouca por conta do choro

-Vai ficar tudo bem, não vou mentir e dizer que passa, mas pelo menos essa dor vai tornar se suportável-foram as suas últimas palavras antes de sair do quarto

A Decisão: Céu ou Inferno?Onde histórias criam vida. Descubra agora