Capítulo 10

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-Olá-assustei me com a figura feminina que apareceu ao meu lado

Mia Campbell. Com apenas 15 anos a jovem foi empurrada do décimo segundo andar pela própria mãe e, como consequência da queda viu se, tal como eu, imobilizada da cintura para baixo. A sua recuperação, ao contrário da minha, foi rápira e, auxiliada por uma canadiana, já dava os primeiros passos. Aquela menina trazia luz ao centro, o seu passado trágico não foi capaz de levar a sua alegria e o sorriso dela contagiava todos à sua volta

-Boa tarde-respondi com um meio sorriso

-Desde que entraste aqui que nunca te vi genuinamente feliz, mesmo quando sorris o teu olhar é distante, vazio-comentou, com um semblante sério

Ela estava certa. Já se haviam passado quatro meses desde a minha vinda para o centro de reabilitação, durante esse período de tempo nada mudou, continuava sem conseguir sentir as pernas e, como se isso não fosse mau o suficiente, a saudade que sentia do Jason magoava me mais a cada dia que passava

-É isso que a solidão traz, o vazio-ela olhou me com curiosidade

-Não tens ninguém à tua espera lá fora? Alguém que queiras procurar quando saíres daqui?-perguntou

-Acho que sim-respondi envergonhada ao lembrar me do enfermeiro

-Quem é? Um familiar? Um amigo? Ou quem sabe um amor-agora a menina parecia animada

-O nome dele é Jason-senti o meu rosto queimar quando disse o nome dele em voz alta

-É teu namorado?-perguntou com um sorrisinho

-Já alguém te disse que és demasiado curiosa?-perguntei, mas ela não pareceu ofendida e continuou a olhar para mim à espera da resposta- Mas não, ele não é meu namorado. Na verdade não sei nada dele desde que vim para cá, mas era ele que eu procuraria quando saísse daqui-comentei

-Não tens o seu número ou alguma forma de comunicarem?-perguntou confusa

-Não, nada-suspirei triste

-E não tens curiosidade de saber como ele está? Eu empresto te o meu telemóvel, não deve ser difícil encontrarmos as redes sociais dele-entregou me o aparelho eletrónico, que eu agarrei com as mãos trémulas- Espera, tu sabes mexer num telemóvel certo?-perguntou, suponho que por causa da minha demora para mexer nele

-Eu estive em coma mas não perdi a memória-revirei os olhos e ela riu se

-Então do que é que estás à espera?-perguntou

-Acho melhor não. Toma, obrigada na mesma-devolvi lhe o telemóvel

-Katherine-uma das enfermeiras chamou me- Vou levar te para o quarto, está lá uma pessoa que te quer ver-fiquei confusa, era raro receber visitas

-Vai lá, quem sabe seja o teu amor-a Mia piscou me o olho antes de eu ser levada

A esperança de reencontrar o Jason crescia à medida que nos aproximávamos do meu quarto, já tinha perdido as contas de quantas vezes sonhei ver o enfermeiro novamente, e a hipótese de ele estar tão perto fez o meu coração acelerar

-Vou deixar vos a sós-a enfermeira ajudou me a deitar me e depois saiu

Desilusão. Foi o que senti quando entrei e vi que não era o Jason que me tinha vindo visitar, mas sim um homem bem vestido com perto de 50 anos

-O que é que veio fazer aqui?-limitei me a perguntar

-Olá Katherine, como é que estás? Sabes quem eu sou?-o seu sorriso simpático estava a irritar me

-Tendo em conta a nossa semelhança, arrisco me a dizer que temos algum grau de parentesco-comentei sem paciência

Percebi quem ele era no momento que o vi. À exceção da cor de cabelo, que eu havia herdado da minha mãe, eu era a cópia fiel do homem à minha frente

-É bom ver te depois de tantos anos filha-revirei os olhos

-Diga me, qual foi a última vez que me viu? Quando eu ainda estava na barriga da minha mãe e ela lhe contou que estava grávida?-ele engoliu a seco, incapaz de responder- Perdeu o direito de me chamar de filha nesse dia, quando se recusou a assumir me como tal-desviei o olhar do dele

-Eu era jovem Katherine, tinha uma vida pela frente-tentou justuficar se

-E a minha mãe? Ela era mais jovem ainda, mas mesmo assim escolheu passar a vida que tinha pela frente comigo ao seu lado-respondi triste, era difícil falar dela e pensar que nunca mais a veria

-Eu sei que errei com vocês as duas, mas eu estou a tentar redimir me desde que a tua mãe veio falar comigo-olhei para ele confusa

-A minha mãe procurou o?-aquilo ia contra tudo o que ela sempre me disse, um vez que deixou claro que não tinha qualquer contacto com ele

-Sim, quando tu sofreste o acidente. Ela estava desesperada, tinha perdido o emprego depois de tanto faltar por ficar contigo no hospital e não tinha dinheiro para pagar o internamento e todas as despesas que ele trazia. Quando ela me contou não pensei duas vezes antes de dizer que pagaria todo o tratamento-sorriu, parecendo orgulhoso do seu gesto

-É essa a sua forma de se redimir? Agradeço que esteja a pagar o meu tratamento, mas isso não apaga os 26 anos em que esteve ausente-senti um nó formar se na minha garganta

-Eu sei que não, e acredita que não há um único dia em que não pense nisso e não me sinta o pior homem do mundo, mas eu quero tentar de novo, quero ser o teu pai. Perdoa me filha-senti a primeira lágrima escorrer pelo meu rosto

Via sinceridade nos seus olhos. Bruce, que era como se chamava, também parecia estar prestes a chorar, e isso fez me entender que as minhas palavras o estavam a magoar

-Eu tenho irmãos?-perguntei baixo

-Sim, um menino. Ele chama se Liam, tem 6 anos e está ansioso para te conhecer-vi os seus olhos brilharem ao falar do seu filho

-Porque é que lhe falou de mim? Eu estou na merda, nenhuma criança deve ter uma pessoa assim na sua vida-tentei secar as lágrimas, em vão

Eu sempre quis ter um irmão, ser filha única tinha as suas vantagens, mas também era solitário. Mas aquele era o pior momento para fazer o meu papel de irmã mais velha, eu não poderia jogar à bola com ele nem acompanhar as suas brincadeiras, a cadeira de rodas limitaria sempre os nossos momentos juntos

-Uma pessoa assim? Eu acabei de te falar dele, e tu já te preocupas com ele-disse com carinho

-Claro que me preocupo, é meu irmão-respondi- O meu acidente ensinou me muita coisa, e uma delas foi a importância do perdão. Eu perdoo o, mas não espere que de um dia para o outro o passe a chamar de pai, o abrace ou lhe ligue quando precisar de carinho e de conselhos. Não o considero meu pai, mas não posso ignorar o facto de me ter dado um irmão, quero ser presente na vida dele-vi o concordar

-Não tiro a tua razão. Fico feliz que queiras cumprir o teu papel de irmã mais velha, e espero realmente que um dia me vejas como teu pai, tal como o Liam me vê-beijou a minha testa e saiu do quarto

A Decisão: Céu ou Inferno?Onde histórias criam vida. Descubra agora