Prólogo

934 35 2
                                    


Prólogo

Essa é a história da minha vida. Muitos incentivaram esta escrita, diziam que se escrevesse um livro teria grandes chances do mesmo se tornar um best seller. Um pouco cômico, talvez. Não sei por qual razão as pessoas acham que o crime se torna interessante enquanto leitura.

Vamos ao inicio... nasci numa comunidade do Rio de Janeiro, e sim, eu confirmo tudo o que você imaginou sobre a violência nas comunidades cariocas. O crime me serviu de berço. Meu pai era o braço direito de um dos grandes líderes de uma facção criminosa no nosso Estado. Eu não pedi para está nesse meio, nunca desejei estar. Mas, infelizmente, quando você penetra por este mundo do crime é praticamente impossível você sair, ao menos que você morra. O crime gera poder, dinheiro, reconhecimento, faz pessoas te temerem, te respeitarem. Isso é tudo que o ego humano gosta, se afastar dos sentimentos e sensações que o crime te causa – mesmo que de maneira ilusória, é bem difícil. Na verdade, é a famosa luta entre "a carne e o espirito".

Como eu disse anteriormente, as sensações que o crime causa no teu ego são boas, deliciosas de sentir... afinal, quem é que não gosta da sensação de poder e ser respeitado? Porém, existem dias que isso dói na alma. O poder dá lugar ao medo e o respeito dá lugar ao sentimento de impotência. E hoje é assim que me sinto.

Estou sentada na mesa fazendo a minha refeição, até que meu pai entra pela cozinha um pouco aflito, com a respiração descontrolada, passando as mãos por diversas vezes em seus cabelos sem se dar conta do que está fazendo. Meu olhar é confuso e o dele é de pavor.

- O que houve? Por que está nervoso? – pergunto preocupada.

Ele vira as costas para mim e ouço o mesmo respirar profundo.

- Pai, você está me preocupando. Dá para me falar o que é que está acontecendo? Raramente te vejo nervoso assim. – Me levantei, começando a sentir uma agonia muito grande.

Vejo meu pai se virar e noto que seu olhar tem um pouco de lágrimas, então ele começa:

- Isabella, eu sinto muito por tudo que vou te dizer agora, minha filha... mas eu preciso ser sincero com você. – sinto sua respiração cada vez mais pesada e ele continua - Eu fiz uma merda muito grande e minha vida está correndo perigo.

Meu mundo simplesmente para. Meus sentidos se embolam e perco o controle sobre meu corpo. Meu pai sempre correu muito perigo, essa foi a vida que ele escolheu. Mas ele nunca admitiu isso, só admitiria caso sentisse medo. E para ele está admitindo logo para mim é porque o medo já dominou seu ser.

Num ato involuntário eu puxo novamente a cadeira e me sento. Começo a sentir meu coração acelerar e um gosto de sangue horrível na boca. Olho para ele na expectativa que ele explique melhor o que estava dizendo.

- Bella, você sabe que não estou brincando, eu posso morrer a qualquer momento. E eu preciso te alertar sobre isso, pois você também está correndo um risco. – é possível notar todo o seu desespero através das palavras que saem da sua boca.

Tento controlar minha respiração e o nervosismo que corre entre meu corpo. Respiro fundo, então começo a falar:

- Pai, por favor, me explique melhor o que aconteceu. Seja sincero comigo. Por que estamos com nossas vidas em perigo? Qual foi o problema que o senhor nos meteu?

Ele se senta de frente para mim, joga sua cabeça para trás, dá um longo suspiro e então começa a falar:

- Há uns três meses eu me envolvi num esquema de venda de drogas que tem acontecido à parte das vendas que nossa facção realiza. Mas as drogas que tenho vendido são drogas que pertencem a facção, elas não são minhas. E está a um passo do chefe descobrir tudo e quando descobrir ele vai querer minha cabeça na bandeja.

Ele faz uma pausa em sua explicação e noto algumas lágrimas escorrendo em seu rosto. Fecho os meus olhos com força, desejando não está ouvindo aquilo e muito menos passando por esse tipo de situação. Droga! Que merda meu pai nos enfiou. Pode soar irônico, mas na vida do crime é o certo pelo certo e o caminho do errado é a morte.

- Pai, por que você está roubando a facção? Pra que tanta ambição, caralho? – quebro o silêncio com a pergunta que está martelando em minha mente.

- Bella, eu tô ficando velho, eu quero sair dessa vida. Eu comecei com esse esquema porque queria garantir um extra pra gente sumir daqui e recomeçar uma vida longe do crime. – ele explica e eu dou uma risada pelo nariz de maneira irônica.

- Sair do crime, pai? Fala sério. Então, mamãe estava certa quando afirmava que do crime só se sai morto. Parabéns! A gente vai sumir mesmo. Vamos todos para a vala, parar em um desses cemitérios clandestinos da facção. – disparei as palavras nele.

Noto que ele continua a chorar e sinceramente, eu já não estava mais aguentando aquilo. Interrompi a conversa e subi as escadas correndo em direção ao meu quarto. Fechei a porta e me joguei na cama e foi nesse exato momento que as lágrimas começaram a rolar descontroladamente. E eu só pensava uma coisa: Merda! Merda! Merda! E agora?

Minha vida não era a vida que sonhei, se pudesse ter outra vida lógico que optaria por isso. Mas já que estava nesta vida, por que não viver? Eu gosto de viver. Eu gosto de está onde estou, gosto de tudo que conquistei e cativei. E eu não queria de maneira alguma ter minha vida interrompida por uma merda que meu pai fez.

Meu pai... nossa! Ele é um puta egoísta por ter gerado um filho neste meio criminoso. Mas desde quando soube que seria pai ele se tornou num paizão. Ele esteve presente em todas as situações e nunca deixou faltar nada, principalmente afeto. Seu lema após meu nascimento é que a parti dali ele tinha dois motivos para voltar vivo para casa todos os dias. E ele sempre voltou. Mas agora eu já não sei mais... tudo é tão confuso! Não havia necessidade dele correr esse risco, e principalmente: ele me pôs em perigo também. O roubo na facção não tem perdão e o resultado disso é caro, doloroso.

Em meio a tantos pensamentos, sentimentos e lágrimas eu acabo pegando no sono. Porém, esse sono não dura muito tempo. Meu pai me desperta ao entrar no quarto.

- Bella, minha filha, levanta. Estou saindo e preciso falar com você. Rápido! – ele senta na beira da minha cama.

- Fala, pai. – respondo sem muita animação.

- Filha, você sabe que é o amor de toda a minha vida. Sabe que você me deu um sentido e uma razão pela qual viver e lutar. Sempre me esforcei para ser um pai que supre as tuas necessidades. Lutei com tudo que há em mim para te manter protegida. Você sabe disso, não sabe? – droga! Por que essa conversa tá soando como uma despedida?

Eu só assinto com a cabeça, já sentindo lágrimas molharem meu rosto. Então, meu pai continua:

- Eu espero que você sinta orgulho toda vez que pensar em mim. Isso vai fazer com que toda a minha vida e minhas escolhas tenham valido a pena. – ele se aproxima de mim, me abraça e dá um beijo demorado em minha testa.

- Pai, o que isso significa? – pergunto em meio a lágrimas.

Ele afasta seu corpo, puxa um telefone do bolso e me entrega.

- Bella, estou saindo agora. Se esse telefone tocar é porque eu morri e você vai precisar ir embora urgente daqui. Pega sua moto e pilota para qualquer lugar que seja bem longe daqui. Você não vai poder entrar em nenhuma comunidade da facção. Deixei uma mochila na sala com dinheiro suficiente para você se virar esses dias e duas pistolas. Talvez você precise colocar as aulas de tiro em prática. – mesmo que sendo horrivelmente doloroso este momento, meu pai se esforça para dar um sorriso e eu só consigo chorar.

- Pai, não, por favor... – eu o puxo para um abraço desesperado.

- Sim, Bella. A vida tem dessas coisas. Mas eu te criei para ser forte, minha menina. Usa sua inteligência e você vai se sair dessa. Me perdoa, filha. E lembre-se sempre que seu pai te ama.

Ele me abraça forte, beija minha cabeça, se levanta e sai. E eu fico ali... sozinha, morrendo de medo, perdida, sem nem saber o que fazer, olhando o bendito telefone. E se o telefone tocar?


Gostaram do Prólogo? A partir disso que desenvolve todo o enredo da nossa história. 

Animados para conhecerem um pouco mais sobre a história da Bella?  

Dona do Morro.Onde histórias criam vida. Descubra agora