Capítulo 3

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Me desperto lentamente e dou de cara com o dono do morro sentado ao lado do meu colchão. Sento-me e ouço sua voz:

- Acordou, bela adormecida? – ele solta uma risada irônica e continua num tom debochado – Olha, não sei como a princesa do morro dos alemão conseguiu dormir num lugar tão nojento desse.

- Também não sei. Talvez por necessidade. – sou sincera.

- Pensei bastante na nossa conversinha de ontem – ele troca de assunto. - Sabe, você é uma garota irritante e abusada demais, isso não me restou dúvidas. Eu só estou confuso de uma coisa: se você é inteligente ou só boa de lábia mesmo.

Solto uma risada irônica e um pouco rouca, devido eu ter acabado de acordar. E respondo:

- Um pouco dos dois, depende da situação. – dou os ombros – Mas ontem eu usei da minha inteligência. E olha, se você não me matou, foi porque se interessou pelo o que eu disse. Eu não estava errada, né?

- Eu não te conheço como nada e ninguém, acha que já vou te dar razão assim? Logo eu? – pronto! Não demorou muito para ele assumir a pose de prepotente.

- Não precisa me dá razão, então. Só me dá a oportunidade de mostrar que posso ser útil em seus negócios.

- Beleza! Você vai render bastante lucro mesmo... – dou um sorriso, feliz com a resposta. – Vou te colocar pra trabalhar num dos puteiros do morro, com esse corpinho o lucro vai triplicar. – agora é a vez dele mostrar aquele sorriso malicioso.

Filho da puta!

- Cara, então você pode pegar a porra da sua arma e afundar uma bala na minha testa aqui e agora. Não sei se você já percebeu, mas como puta e marmita de traficante eu não estou disponível. Para de pensar com a cabeça do pau e pensa na possibilidade de me usar como estratégia para lucrar melhor nas vendas das drogas. – eu sempre tive resposta na ponta da língua e pouco filtro para decidir o que falar ou não falar. Agora não tendo nada a perder é que eu não sei medir mesmo as minhas palavras.

Ele pega sua arma, destrava e aponta bem na minha testa, tão próximo que posso sentir o revólver encostar-se à minha pele. Merda! Perdi.

- Eu gosto de gente com atitude, gente esperta, gente que usa o que sabe para sobreviver. Você tem sangue nos olhos, garota. De verdade, te matar seria prejuízo. – apesar da sua fala, o seu revólver ainda está na minha testa. – Eu gosto de gente que encara o perigo nos olhos, igual você está fazendo agora... mesmo com a minha arma na sua testa, você não desviou o seu olhar do meu. Eu só não gosto de gente que banca isso pra cima de mim. Então me dá uma razão pra eu não te matar agora?

Eu me atrevo a dizer:

- Porque já que você gosta tanto assim de gente como eu, podemos formar a parceria perfeita. – agora é minha vez de sorrir maliciosamente.

- E o que te leva a crer que eu quero formar uma parceria com você? – ele abaixa a arma lentamente até minha barriga, ainda deixando a mesma encostada no meu corpo. Aproxima seu rosto no meu e roça a barba por fazer na minha bochecha. Que merda é essa que tá acontecendo aqui?

Me aproveitando da situação, eu aproximo minha boca do seu ouvido e sussurro:

- Porque homem nenhum nega parceria com mulheres inteligentes e gostosas. – mantenho um sorriso cínico em meu rosto ao afastar-me dele.

Observo o homem a minha frente ficar pensativo e com um olhar duvidoso, com segurança no que digo, confirmo:

- E aí, vamos fechar negócio? – estendo minha mão a ele.

- Uma única chance de mostrar essa inteligência toda que você diz. Se eu notar que isso tudo foi só lábia, pode ter certeza que não vou te matar, vou fazer pior: vou mandar você de brinde para os alemão. – ele fala e aperta forte a minha mão.

- Só mais uma coisa: ninguém consegue pensar e ser inteligente dentro desse muquifo. Me tira daqui, vai? – peço delicadamente.

- Trouxe sua mochila, claro que sem as pistolas, porque não confio em você pra andar armada. Com esse dinheiro você consegue algo melhor que te dê o conforto necessário para pensar.

Com certeza aquele momento deveria ser filmado, o sr. Arrogante sendo gentil pela primeira vez. Ele se levanta e me entrega a mochila. Antes que ele atravesse a porta e saía do barraco, eu pergunto:

- A propósito, sr. Dono do morro, você não me disse seu nome. Como posso te chamar?

- Eu sou o PH, mas pra você, a tal dona da inteligência e destemida da morte, pode chamar de Pedro Henrique.

Eu dou uma risada e respondo:

- Tudo bem, Pedro Henrique. Eu sou mais conhecida como Bella, mas sinta-se a vontade para me chamar de Isabella.

O sem educação sai sem ao menos dar uma resposta, o que me faz revirar os olhos. Mas enfim, dinheiro na mão e oportunidade de mostrar serviço e continuar vivendo em busca de me tornar a miragem que sempre vem me visitar. Que coisa de louco!

Olho a mochila em minha frente e começo a contar o dinheiro que ali está, pensando no quanto meu pai mesmo nessa situação toda foi cuidadoso comigo. Ali estava todo o dinheiro que ele tinha guardado ao longo desse tempo. Ele sempre foi assim, nunca deixou de pensar em mim, exceto quando o assunto era largar o crime. Parece coisa de louco, mas eu sinto que ele nasceu marcado para ser dessa vida infeliz, que não nos traz paz nunca. Mas pra mim ele era um homem bom, um pai bom e como eu sinto falta dele. Como eu queria ele aqui para resolver tudo pra mim, como nas vezes que eu arrumava confusão nos bailes e ele sempre comprava meu barulho. Queria o seu abraço e sua voz de conforto dizendo que vai ficar tudo bem. Está nessa situação toda é muito difícil, sem meus pais então, parece que eu não vou conseguir. Mas ainda bem que eles me ensinaram que a maior luta numa guerra é a persistência. E eu vou persistir até vencer.

(...)

Rodei por algumas horas no morro atrás de uma casa e consegui encontrar uma mais simples. Por sorte consegui uma casa mobiliada, para ficar perfeito só faltou vir com algumas roupas, visto que eu só estou com essa do meu corpo. Lembrar dos looks perfeitos que deixei para trás chega me dá uma certa dor no coração. Isso me faz pensar o quanto eu queria tomar um banho agora e só relaxar, mas que preciso ir às compras e me alimentar, pois eu não sei o que é comer desde ontem.

Mesmo no meio dessa confusão toda, comprar roupa nova ainda é algo muito bom e relaxante de fazer. A Rocinha é a melhor favela do mundo! A gente encontra o que quiser aqui, não precisa nem ir para o asfalto. Eu consegui comprar tanta roupa que nem sei se vai caber tudo no guarda-roupa da minha nova casa.

Subo até minha casa com a ajuda de um mototáxi, mas antes dei uma parada para garantir o baseado dessa noite, eu juro que preciso relaxar.

(...)

Galera, se vocês estiverem gostando, por favor, interage aí! Comentários são sempre bem vindos e um ótimo motivacional para continuar escrevendo. Pois eu espero de verdade que a história esteja sendo interessante para vocês. 

Ah, e muito obrigada aos que tem votado na história. Muitos bônus celestiais para vocês! Rsrs.  

Dona do Morro.Where stories live. Discover now